Uma forte ligação

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   Mike e Onze, mesmo debaixo da chuva, foram correndo para a casa de Bianca que os recebeu com aquele mesmo sorriso jovial de sempre. Ao entrarem em sua casa, eles se depararam com uma casa modesta e muito branca, até mesmo o sofá era branco e o assoalho eram brancos, não havia TV. Mike não escondeu sua curiosidade e disse:

- Nossa, sua casa é muito... branca.
- Eu sei. - Ela sorri meiga. - Mamãe gosta bastante dessa cor porque ela diz que faz as coisas brilharem e que espanta mal agouros.
- Curioso.
- Venham. - Ela chama subindo a escada. - Vamos pra o meu quarto.

   Mike e Onze acompanham Bianca subindo a escadaria, não há retratos nas paredes nem mesmo quadros de alguma arte de feira, a casa é muito limpa, quase intocada. No corredor para os quartos, que são três, também não há quadros, tudo é muito límpido e esbranquiçado.

- Eu e o Mike estamos aqui, porque...
- Eu sei porque estão aqui, sei o que acabaram de ver. - Ela diz repentinamente enquanto abre a porta de seu quarto.

  Mike e Onze se olham, mas a seguem para dentro do quarto que tem um pouco mais de cor com uma cortina azul com flores, e um assoalho marrom claro. Há também retratos em um criado mudo ao lado da cama, e o celular de Bianca está sobre a cama.

- Não sabia que você tinha celular. - Diz Mike.
- Bom, quem não tem hoje em dia? - Ela sorri. - Eu não uso para mídias sociais, as pessoas não são o que elas tentam aparentar ser, tudo na internet é muito artificial, como um mar raso, onde nada é profundo.
- Bom, entendo. Mas pra você tem então? - Pergunta Mike.
- Ouço música, escrevo um pouco e faço ligações para minha mãe quando sinto falta dela.
- Essa é sua mãe? - Diz Onze vendo um retrato de uma mulher loura que lembraria J.K Rowling.
- Sim. - Diz Bianca sentada na cama.
- Ela é bonita. Como ela se chama?
- Amélia. Se está se perguntando onde ela está, acredito que agora em Indianápolis, fazendo algumas consultorias em imobiliárias.
- Entendi. - Diz Onze se sentando ao lado dela.
- Você antes disse pra gente que havia visto o que eu e a On...

  Mike para, ele não sabe se pode chamar Onze daquele jeito, mas pelo o tímido sorriso que On expressa ele sabe que pode.

- O que eu e a On tínhamos visto. Como isso é possível?
- Mike. Olha tudo que a gente passou, não é possível que você duvide...
- Está tudo bem Onze, o Mike é cético, tudo para um cético é excessivamente empírico, eles duvidam até mesmo de sua própria existência. No entanto, quando vocês se beijaram...
- Como sabe que a gente se beijou? - Pergunta Mike.
- Clariciência, não vejo com muita clareza, mas vejo. Quando você e o Mike se beijaram, havia um pouco da minha energia em vocês dois, o que os fez regredir a um tempo no passado, uma outra vida.
- O que? Então quer dizer que tudo o que eu vi foi real? - Questiona Will.
- Claro que foi, mas não neste universo, e sim em outro.
- Caramba, não tô entendendo nada, eu devo estar chapado.
- Você e Onze são duas almas ligadas uma a outra por uma interligação que ultrapassa os limites da compreensão, vocês já passaram por tantas vidas em diferentes universos, diferentes eras, diferentes momentos, mas acredito que o momento mais importante... - Ela se levanta. - Foi esse...

   Bianca toca a testa de Mike e tudo brilha de repente num intenso tom branco e Mike cai para trás.

  +++

- Will!!! - Grita Mike enquanto ele, Lucas e Dustin procuram por Will  Byers no bosque em Hawkins.

  É 1983 e está chovendo muito, o garoto Will Byers desapareceu repentinamente e seus amigos estão preocupados.

- Aquele sou eu? - Pergunta Mike de longe, vendo a si mesmo procurando por Will, a chuva não molha nem a ele, nem a Bianca e nem a Onze.
- Mais jovem é claro, em outro universo, no ano de 1983.
- Porque trouxe a gente aqui? - Pergunta Onze.
- Aqui foi a última vez que vocês encarnaram, aqui é Hawkins, Will desapareceu pela influência da criatura que mais tarde Dustin nomeou como Demogorgon.

   Uma pessoa passa andando por eles, uma garota com roupa de hospital encharcada, cabelo raspado. Ela caminha na direção da luz do grupo, parece estar sozinha, assustada e talvez ferida.

- Essa... Essa sou eu?
- Sim, você conseguiu fugir do local onde era testada como uma cobaia e veio parar aqui, obviamente não foi por acaso, você e o Mike estão ligados pelo destino.

   Mike Wheeler aponta a lanterna para Onze, o grupo se assusta e tudo escurece, de repente a chuva para, o ar fica extremamente gelado e o céu escurece com um brilho azul, há uma espécie de fuligem que desce do céu como cinzas vulcânicas. As árvores ao redor parecem estar podres, o chão parece estar morto.

- Onde estamos agora?
- Will Byers e muitos outros vieram para aqui, essa dimensão é um mundo morto, uma dimensão morta, onde criaturas parasitárias vivem. Foi você quem abriu os portais para cá, Onze.
- Eu? Mas como?
- Tortura.

   O cenário muda para uma solitária, onde Onze está deitada em posição fetal e fica visível as marcas de tortura pelo seu corpo.

- Brenner. Ele te usou como um objeto, com a pressão que você sofreu, adentrando a dimensão morta, você teve contato com a criatura mais uma vez, e ela se ligou a você de novo, e fez com que você causasse uma ruptura que abriu uma fenda pra esse universo.
- Desculpe, mas o que isso tem a ver com a ligação entre nós dois?

  Bianca olha para Mike com um olhar terno, tudo começa a brilhar novamente ao redor, e Mike sente seu corpo leve, mais leve que uma pena, enquanto flutua, sente uma leve brisa e um silêncio que lhe dá uma paz profunda, ele olha para o lado e sua visão está sonolenta, mas ele enxerga o corpo de Onze nu, mas com um intenso brilho branco dourado. Acima dele, está agora um céu com nuvens gigantes e brancas, o céu é azul e dourado, e laranja e lilás. É tão intensamente lindo e imersivo que Mike sente como se estivesse mergulhando em um oceano de águas claras e límpidas como numa nascente. Seus olhos se fecham, a paz reina em seu coração, paz essa que ele nunca sentiu antes.

- Vocês foram formados juntos. - A voz de Bianca ecoa ao longe, é doce e suave, faz cócegas ao ouvir. - E juntos vocês desbravaram tantas coisas, você se sacrificou por ela na segunda guerra mundial, foi buscá-la dentro de uma dinastia japonesa antiga em guerra, foi salvo por ela de uma avalanche no Everest quando ela era apenas uma simples monge nos templos tibetanos, você se apaixonou por ela assim que a viu nas novas terras descobertas nas Américas, tantas e tantas coisas, em tantos universos, em tantas infinitas realidades, mas acima de tudo, foi o seu amor por ela que a ajudou a derrotar Brenner e a criatura nesse universo.

   Mike abre os olhos devagar, ele está no mesmo belíssimo lugar, ele vislumbra pontos brilhantes, são milhões de outros pontos brilhantes em outras nuvens e lugares longínquos, são outras almas. Mike sente os dedos de Onze entrelaçados entre os seus, ele sente a fofura e maciez da nuvem ao qual está deitado.

  De repente, seus corpos ficam em pé, a nuvem devagar se dissipa, eles estão flutuando sobre uma imensidão colorida e pacífica, Mike segura as duas mãos de Onze cujos olhos se abrem devagar e o fitam com certa ternura.

- Juntos, é como vocês têm de derrotar o mal. Como sempre fizeram.

   Mike segura o rosto de Onze, é tão brilhante e límpido, ele sente o pulsar de seu coração, e também sente o dela.
Mike se aproxima de Onze e a beija, e uma intensa luz brilha daquele dois. A luz de uma forte ligação, uma forte ligação que faz milhões de outros almas observarem o espetáculo.

MILEVEN - AMOR ATRAVÉS DOS TEMPOSOnde histórias criam vida. Descubra agora