Regressão

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  Bianca e Onze desceram até o porão que outrora na história fora um Bunker, Onze ainda estava meio confusa com as informações que Bianca havia passado para ela, então a marca que lhe conferia esse apelido tinha um significado mais profundo, uma história ou várias histórias a parte. 
Enfim, lá estavam elas numa penumbra reconfortante, cujo ar estava impregnado de cheiro de livros velhos, e mofo.

- O que há nesse livro que você segura?

   Bianca foleou o livro até encontrar uma página em específico onde o título em letras garrafais dizia "O projeto Montauk", ela virou mais duas folhas, encontrando uma foto de um homem de cabelos grisalhos, vestido com um terno, com um leve e maligno sorriso em seu rosto, enquanto a sua frente haviam duas garotas de cabelos raspados e vários cientistas ao seu lado.

- Conhece esse rosto? - Bianca vira o livro na direção de Onze que enxerga na baixa luz o rosto de Martin Brenner.
- Eu nunca o vi, mas eu sinto como se...
- Já tivesse visto ele. Ele é Martin Brenner, essas duas aqui, somos nós.

   Bianca move o livro um pouco mais para cima para mostrar o rosto de Onze e o dela. Onze se surpreende, a pessoa da foto é exatamente igual a ela, e possui eletrodos na cabeça cujo cabelo está raspado.

- Não é possível.
- Sim, é possivel. - Ela fecha o livro, sua voz soa como uma música distante.
- Como?
- Olha... - Bianca se senta no chão cruzando as pernas, ela convida Onze a fazer o mesmo. Bianca pega as duas mãos de Onze e as segura. - Nós duas, assim como centenas de outras crianças fomos cobaias nos anos 60, cobaias de Martin Brenner, ele estava nos projetando para sermos como armas nas mãos do governo, e você era a favorita, era a filha dele.
- Isso tá me assustando.
- Fecha os olhos.
- Porque?
- Confia em mim. Eu vou te mostrar.

Movida por uma confiança que surgiu dali do momento, Onze fechou os olhos, e confiou em Bianca naquele exato instante. Não era nem o segundo dia direito em que Onze estava em Hawkins, e já estava vivenciando mais uma experiência estranha. Não era estranho para Onze demonstração de poderes paranormais já era parte de seu cotidiano, mas até então, ela ignorava sua habilidade intrinsecamente especial, usando uma vez ou outra para fazer algo não muito útil como pegar o celular que está longe ou arremessar uma pedra para o alto, talvez para fora do planeta. Mas, ali agora, quando ela fechou os olhos, ela somente sentia os dedos de Bianca acariciando os seus, de certa maneira era uma experiência já estranha, um tanto incomoda, mas igualmente relaxante.

- Você vai se sentir meio estranha, mas tudo bem, faz do processo...

   De repente, Onze é jogada para baixo do chão a uma velocidade absurda, ela vê o chão da biblioteca ir se tornando menor enquanto ela cai em um espaço vazio. Onze grita, mas sua voz não ecoa, ela está caindo enquanto o chão já desapareceu acima dela. Luzes começam a emergir ao redor dela, suaves e dançantes, o que vai no caminho contrário da velocidade em que ela cai. Onze começa a atravessar uma forma branca, o espaco escuro fica para trás, ela está caindo dentro do que parece ser um Tesseract, um cubo de quatro dimensões.

  Ela enfim para. Se sente meio enjoada,  meio estranha, e não poderia se sentir diferente disso, afinal ao olhar para sua mão, percebeu uma certa translucidez, ela também não sentia seus pés, pois viu que estava flutuando. Ao olhar ao redor, viu que estava em Uma solitária muito bem iluminada, cujas paredes eram Brancas possuindo um estofado acústico. Não havia ninguém naquela cela. Onze, fazendo um pequeno esforço, viu seus pés surgirem como uma fumaça pálida que se concentra em um ponto. Ela devagar pisou no chão, sentindo-o de uma maneira diferente, uma maneira do qual nunca havia sentido. Como era praticamente translúcida, Onze deduziu que ela podia atravessar os objetos. Ela, então, caminhou até a porta que era aço maciço e branco, respirou fundo, não sentindo o ar entrar em seus pulmões, e atravessou a porta.

Surreal.

  Ela olhou de volta para a porta, agora estava em Um corredor que era igualmente branco, onde haviam outras centenas de portas, 20 ou 30, cada uma com numeros que variavam de 001 até 030.

- Que lugar é esse? - Onze se pergunta em voz baixa enquanto paira pelo corredor.

   De repente, dois cientistas surgem na virada do corredor, Onze se assusta porque receia ser vista por eles. Os dois, caminham imponentes segurando pranchetas e discutindo sobre resultados de testes em cobaias.

- 008 foi promissora na criação de ilusões fotorealistas. - Diz um dos cientistas.
- Deveremos realizar outros testes nela e na cobaia 007.
- Exato.

   Eles passam por Onze e como fumaça seu corpo se desfaz por alguns segundos. Onze percebe que não pode ser vista por alguém comum, mas há uma dúvida emergente em seu ser, ela se pergunta onde está Bianca, se lembra do número em seu braço, 005, não deve estar longe, deve estar exatamente naquele corredor. Onze se põe a procurar, sendo que os números estão, pela ordem em que ela anda, de maneira decrescente.

014
013
012
011...

   O número que exatamente igual ao que ela tem nos pontinhos de seu braço. Será que a própria Onze está lá dentro. Movida de uma curiosidade inabalável, Onze adentra ao quarto atravessando a porta, ela se depara com uma cela exatamente igual as outras, mas uma única diferença, há uma pequena garota trajada com um daqueles mantos de hospital, ela está sentada com joelhos flexionados no canto da sala, seu rosto está afundado em seus braços que se apoiam nos seus joelhos, parece triste, solitária, abandonada.

   Onze paira na direção daquela garota que ela julga ser ela mesma. Ela move o bravo direito devagar na direção da pobre garota abaixada e recolhida. Onze se abaixa e seus dedos tocam o cabelo raspado daquela menina. A garota levanta sua cabeça e assusta Onze, exatamente a mesma pessoa com alguns traços físicos diferentes, indicando que elas são a mesma pessoa. A garota olha para o nada, sentindo que há alguém ali, Mas ela não pode ver. Onze que está de pé, se sente meio assustada com o que vê, no entanto, quando ela se vira da de cara com Martin Brenner, que a encara com olhos grandes e assustadores. O seu sorriso de lábios comprimidos e curvados suavemente para cima, mostra o traço psicopata de sua personalidade.

- Filha. - Ele diz. Parece que ele está falando com Onze. - Levante. Hoje é um grande dia.

   Ele atravessa Onze e vai falar com a outra Onze que está sentada. Ele se abaixa diante dela.

- Eu sei que está triste pelo que vou fazer com sua irmã, mas uma coisa que eu não aceito é rebeldia. - Sua voz é grave e ameaçadora, mas igualmente suave como um tubarão nadando em oceanos claros. - Mas você... Você é obediente ao papai, e o papai pode recompensar. Hoje você vai pra outro lugar.
- Outro lugar? - Lágrimas começam a escorrer dos olhos de Onze que está sentada.
- Sim, um lugar melhor, bem melhor do que aqui, um lugar especial só pra você, meu bem. - Brenner enxuga as lágrimas de Onze e depois a apanha no colo.

   Bianca surge do lado de Onze, ela também tem seu corpo em translucidez e paira como um fantasma.

- Estamos Camp Hero, anos 60. Eu e você éramos duas cobaias dentre várias.

   Brenner passa por elas.

- Para ele me levou?
- Hawkins. Eu causei um acidente com os meus poderes e o próprio Brenner me matou.
- Porque estamos assim? - Onze olha para a própria mão translúcida.
- Se chama projeção astral, eu as uni com a minha capacidade de regressão espiritual-temporal, onde eu consigo regredir em espírito para vidas passadas.
- Vidas passadas?
- Sim, tudo que você viu no seu sonho são momentos especiais em que nós duas cruzamos nossos caminhos contra um inimigo em comum.
- Martin Brenner.
- Exatamente. Brenner está a séculos tentando te destruir, não é de agora que ele tenta.
- E o que eu tenho fazer?
- Você vai entender.

  As duas desaparecem.

MILEVEN - AMOR ATRAVÉS DOS TEMPOSOnde histórias criam vida. Descubra agora