RAFAEL

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A noite repousa novamente sobre esta cidade com cheiros de drogas e sexo, odeio identificar o único lugar em que vivi como uma lixeira, mas já vi dias melhores faz muito tempo, eu não culpo a cidade, seus cidadãos são repugnantes as vezes, 6° cidade mais bem desenvolvida do país e a 2° mais corrupta.

O Shopping DelPorto, também conhecido como Zoológico de Cirandópolis, tirando alguns pobres coitados aproveitando o pouco tempo de descanso que lhes restava, o shopping era mais habitado por executivos e lavadores de dinheiro, comerciantes e cofrinhos ambulantes, gente de bem e sabe-se lá o que...

Percebo que encher a cara mais ainda era o melhor que podia fazer para acabar a noite com chave de ouro, assim como nas outras 15 vezes em que me envolvia em enrascadas, meu celular não apitava sinal algum, incrivelmente ninguém mandou um convite para outra aventura louca, parece que todos estão exaustos da noite passada, mas eu já estava acostumado, o próximo bar ficava dentro do shopping, que in-crí-vel:

- Fala Douglas, a única pessoa que presta aqui. - me aproximo do balcão e logo sou recebido

- Pode ir saindo seu cuzão, - ele coloca a flanela sobre o ombro cansando - acabei de saber sobre ontem à noite.

- Aquela noite? Aquela noite aconteceu ontem e o ontem é o passado, meu interesse agora é o futuro - solto uma risada conveniente enquanto abaixava o rosto para olhar por cima dos óculos - me vê uma dose, valeu?

- Não, é pro seu próprio bem.

- Para o meu bem seria se você me entrega-se logo minha dose irmão.

- Não vou te dar nada, seria errado da minha parte, - ele coça a barba enquanto retirava as bebidas de perto de mim - quer dizer, eu não posso te dar no seu estado, já se olhou hoje?

- Lindo como Deus me fez.

- Tirando uns dentes na boca.

- Dentes? Na verdade eu só tenho um olho roxo e alguns hematomas.

- Então macho, você nem tá em condições certas para encher a cara, sem falar da zona que você criou... - Se o próprio barman está me negando um breja, significa que eu deveria parar por hoje, mas somos interrompidos.

- Ele tá incomodando, Douglas? - três funcionários de um escritório próximo enchiam a cara, deviam estar gastando o salário gordo por aqui, com suas camisas sociais engomadas e calças justas, arrombados de primeira linha.

- Boa noite companheiro, não sabia que entrar na conversa dos outros fazia parte do seu trabalho.

- Como é? - o maluco da frente se inclina do banco, quase levando a mão ao ouvido.

- Se for para falar mais alto xará, eu falo logo do teu lado.

- Rapaziada se for fazer alguma merda, façam lá fora, meu seguro não vai ficar cobrindo essa algazarra. - Douglas da uma tremida na base mas ainda tenta manter a onda de cabra-macho.

O bar meio que dá uma calada, eu giro no banco e olho para todos me observando, a porta se abre e entra uma garota, ela percebe o silêncio e fica parada, a realidade me acerta de novo, chega de confusão:

- Já vou sair lá pra fora, pode pelo menos me descolar uma porção daquelas famosas fritas?

- Considere feito. - me retiro cabisbaixo, não curtia perder uma boa luta, mas já estava todo quebrado, seria derrota na certa. Passam-se segundos até Douglas aparecer lá fora com uma porção de fritas rústicas:

- Foi mal cabra, não queria gerar esse desconforto contigo, é que...

- Suave irmão, eu te entendo, pelo menos vou satisfazer a fome, - dou uma risada com uma piscadela nada suave.

Eu, Meu Amigo e a Russa do IntercâmbioOnde histórias criam vida. Descubra agora