RAFAEL

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- Então iremos nos encontrar na rua próxima ao clube, ao lado da padaria?

- Sim garoto, - dizia Annya ao telefone - eu vou demorar mais um tempinho para me arrumar e talvez chamar umas amigas, mas nos encontramos lá.

- Conseguiu convidar a Kiyoko para festa?

- Sim, ela pareceu meio nervosa, falando dos estudos e tal, mas ela aceitou quando falei do Hugo.

- VOCÊ O QUE CARALHO? - ela não pode ter feito isso com a gente - Não era para falar sobre ele.

- Tudo bem - escuto sua risada debochada através do telefone - eu não falei nada, só queria te deixar puto.

- Se liga, te vejo lá.

- пока-пока.

Coloco o telefone no gancho enquanto tento segurar uma boa risada, como sou feito de trouxa tão fácil, me retiro da cabine retangular e me posiciono na esquina mais próxima, sempre sou o primeiro a aparecer nos eventos e particularmente o último a sair, a famosa maldição do arroz de festa, observava os arredores procurando viva-alma na rua, já estava anoitecendo e o céu alaranjado dava espaço à púrpura da noite, de longe sinto um cheiro esquisito, já sabem né:

- Fala meu brother, - ele mal vira a esquina e já meto uma cara de cu fechadassa, odeio drogas.

- A festa não começo ainda caralho, como ousa já estar chapado.

- Você me conhece Rafa, estou sempre seguindo a brisa que me carrega.

- Porra cê ta falando cara?

- Justo você que vive citando esses textos nada haver, esperava que você reconhecesse?

- Que seja, - dou uma risada suave - vamos andando antes que você me deixe dopado.

Seguimos noite adentro para Cirandópolis, a cidade aos poucos se esvaziava, os cidadãos e comerciantes eram logo substituídos por mendigos e nóias querendo roubar até a própria sombra, em dupla nós não seriamos alvos fáceis, eu sempre me garanto no soco, uma considerável figura que pode intimidar vacilões, enquanto Thiago parecia um nóia, então sempre era um negócio entre amigos:

- Esta cidade já foi mais bonita sabe, as pessoas saiam tarde da noite sem preocupações, as luzes embelezavam as ruas e sempre se via reuniões de amigos em bares de esquina, agora tudo parece mais...

- Abandonado? - Completei a reflexão de Thiago enquanto colocava as mãos nos bolsos da minha jaqueta - Você tem razão, as pessoas não confiam em mais ninguém, na verdade é difícil de encontrar alguém em que se possa confiar atualmente.

- Correto, a gente tenta criar laços com estes "cidadãos de bem" e acabamos nos amarrando ainda mais em nós mesmos, ainda bem que temos sorte de conhecer verdadeiros amigos na nossa jornada até os confins de nossas vidas.

- Mas sempre temos que manter os olhos bem abertos, - o encaro por uns breves segundos - nunca se sabe quando um de seus amigos pode te esfaquear por trás.

- Ué bicho, - ele para por um instante - tu desconfia de mim em alguma coisa?

- Relaxa, - dou um leve soco em seu ombro - nunca desconfiaria de você, ou desconfiaria?

Retiro-me praticamente gargalhando mentalmente enquanto Thiago permanecia perdido em seus pensamentos entorpecidos:

- Porra é essa maluco, corta esses assuntos. - ele ri e corre um pouco para me alcançar.

Continuamos nosso caminho desviando de trombadinhas até chegar ao clube, ao que parece seria a festa de aniversario uma garota chamada Camila, ela contratou uma equipe profissional e um serviço receptivo aos convidados junto de segurança particular, ela basicamente criou uma festa de formatura com direito a bolo e cobertura.

O clube era imenso, cheio de luzes e neons no telhado e na entrada, não tinha fila, pois as pessoas simplesmente entravam para dentro do local, devia estar um maldito caos lá dentro:

- É aqui não é?

- É isso ai Thiago, este é o local.

- E quem é mesmo o aniversariante.

- EUUUUUU.

- DIABO, - Thiago salta para o lado enquanto eu salto para o outro - Quem é você pessoa?

- Camila, meu niver hoje, tipo super feliz cara.

- E precisa chegar gritando bicho, - Thiago responde nervoso mas volta a pose de galante - Perdão donzela, quantos anos?

- 20 aninhos, e ainda cheia de saúde.

- Deu pra perceber... quer dizer, feliz aniversario. – Ah seu maconheiro safado.

- Valeu, bom vamos entrando então...

- Desculpa, estou esperando um amigo então... - fica um silencio estranho - Putz, não trouxemos nenhum presente.

- Relaxa morê - disse ela repousando a mão no meu braço - sua presença já conta.

- Bom, eu já vou indo lá pra dentro, - Thiago da uns tapas no peito e pisca para a aniversariante - pode me indicar o caminho formosa?

- Sim meu cremoso, bora.

Camila parecia ser a típica patricinha burra, gostosa em tudo, mas ingênua como criança, saiu balançando aquele rabo deverás notável que fez o Thiago se virar e fazer um "nossa" com os olhos e... Oh, é mesmo, como sou um babaca, fui logo julgando a menina.

Vamos ser mais amigáveis, espero que ela se divirta com a festança de hoje pois com certeza vai chamar a atenção com esse vestido florido.

- Tarado da porra aí.

- Se fude muleque, - dou um 360° para poder falar com o Hugo - e você não estava olhando?

- Um rabo é um rabo, e que R-A-B-O.

- Tá, mas pode ir parando com essa mania de ficar averiguando a retaguarda dos outros por que hoje você sai daqui um homem feito e compromissado.

- Não vou mentir, vou sentir saudades dessas noitadas.

- Nossa amizade não morre aqui não doido, a gente marca uns encontros de casais. - rimos bastante.

- Então, cadê nossa garota?

- Quer dizer minha garota?

- É sua propriedade agora porra?

- Não, me refiro que estamos aqui por que eu me apaixonei por ela, não a gente.

- Mas você me puxou para essa jogada, relaxa, nunca coloquei chifre na cabeça de ninguém.

- Isso não me deixa mais calmo, sabia? - disse Hugo tremulo - Será que vai dar certo?

- Não seja um babaca, não fale do peso dela, não seja uma maritaca mas sempre tenha um assunto legal para conversar, beba mas não muito para ficar igual um pingaiada e nem tão pouco para parecer um fresco.

- Caralhoooooo.

- Relaxa brother, - esbarro nele propositalmente - quer que eu chame o Senhor Maconha aqui para de dar um calmante?

- Nem fudendo, não vou chapar o pote de novo.

- Então para de piscar feito doido, encolhe a barriga e... Eita ela chegou.

Meu amigo realmente sabe escolher bem, a garota era linda, vestia um vestido branco não muito longo e não muito puta, toda simpática sorria para todos, passou por nós e sorri ligeiramente para meu garoto, acho que esta dando certo, volto o olhar para Hugo e lá esta ele travado:

- Vai para conversa tiozão. - Empurro ele em direção da porta do clube, fico mais um tempo pois ainda faltava uma pessoa à chegar ao clube, Annya geralmente chegava toda linda e cercada de amigas, digo linda sem aquele tom de relacionamento amoroso, linda por que ela era linda, mas acho que não faço o tipo dela, mas não me importo com isso também, essa caixa de monólogo mental está ficando longa, mas pelo menos ela não vai me pegar desprevenido de novo, uma voz doce surge pelas minhas costas:

- Oi Rafa.

Viro-me e lá esta aqueles cabelos ruivos para trás em uma espécie de rabo de cavalo, uma camisa branca com estampas escuras e uma saia preta, sorridente se aproxima com as mãos para trás do corpo, essa garota realmente chama minha atenção.

Eu, Meu Amigo e a Russa do IntercâmbioOnde histórias criam vida. Descubra agora