Sensações.

68 5 0
                                    

Abri os olhos lentamente.

Eu já estava cansado de acordar pensando que estaria em minha casa, quando na verdade aquela era minha realidade dali em diante.

Olhei para o meu braço esquerdo e vi que aonde Lucas havia injetado aquela seringa, estava roxo. Então ele enfiaria seringas em mim, me drogando, todas as vezes que eu me exaltasse? Droga, então eu morreria de overdose.

- Eu deveria aguentar tudo calado, talvez ele pegasse mais leve. – Minha mente pensava alto.

- Claro que não... Ele só ficaria ainda mais irritado por você não apresentar sofrimento... afinal, é isso que os psicopatas querem certo? ­– Passei as mãos na cabeça tentando fazer aqueles pensamentos pararem.

Eu me mantive sentado, com meu olhar fixo no chão, como se fosse algum maluco. Foi quando eu senti que deveria olhar ao meu redor. Eu havia explorado tão pouco aquele quarto, era até estranho pensar que eu sequer andei até...

- A janela. – Sussurrei.

Me levantei devagar, evitando fazer barulhos com a corrente. Me segurei na parede e fui andando calmamente até a janela. Senti a corrente travar, indicando que aquele era meu limite.

Eu estava um pouco longe da janela, mas conseguia encostar na madeira se me esforçasse.

- Talvez eu devesse tentar rasgar o plástico preto no fundo da janela. – Pensei.

Talvez Lucas percebesse, mas eu deveria tentar. Se eu sucedesse, eu conseguiria pelo menos saber aonde eu estava. Eu estava na minha cidade? Eu estava perto de casa? Eu estava perto da casa de um de meus amigos? Eu deveria tentar para descobrir.

Respirei fundo e estiquei meu braço por entre a madeira, tentando chegar ao plástico. Eu estava fazendo tanta força que de tempo em tempo eu tinha que parar para recuperar o folego. Eu não podia desistir.

Depois de muita luta tentando encostar pelo menos um dedo no plástico, eu pude sentir o mesmo. Fiquei aliviado, mas não cheguei a comemorar, apenas tentei rasgar um pedaço dele.

Eu estava quase conseguindo, faltava pouco.

Mas eu ouvi a primeira fechadura abrir.

Eu tirei meu braço dali rapidamente, tão rápido que um prego solto da madeira rasgou a pele do meu braço direito.

Eu quis gritar, mas tampei a boca com a mão livre e corri até onde eu ficava sentado. Muito sangue estava saindo do corte, sujando em volta de mim. Ele não era um corte muito fundo, mas com certeza deixaria cicatriz.

Eu tentei tampar o machucado com a mão, mas eu sabia que não iria adiantar. Lucas iria perceber que eu estava sangrando e eu não sabia qual seria sua reação.

A porta foi aberta e meus olhos arregalaram.

Lucas estava com um pote de macarrão instantâneo na mão e sua típica expressão indiferente. Ele se aproximou de mim, colocando o macarrão no chão a minha frente.

Vi que seus olhos focaram no sangue no carpete, o mesmo foi seguindo o rastro até meu braço que estava sendo coberto pela minha mão. O sangue escorria por entre os dedos.

- O que... – Ele arregalou os olhos. – Como você fez isso?

- Eu... – Queimei todos os meus neurônios tentando buscar uma desculpa aceitável.

Olhei, apenas com o olho, algo plausível que poderia me cortar naquele cômodo, algo que não fosse o prego da porra da janela.

- Eu... me cortei na cômoda. – Falei tentando me manter sério e falhando miseravelmente.

Separado.Onde histórias criam vida. Descubra agora