"Espetáculo."

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- Preciso de mais sacos. – Lucas disse enquanto encarava o corpo de Lin. – Definitivamente preciso de mais sacos.

Eu ainda estava em choque, sentado no chão do banheiro.

- P-Para que? – Eu perguntei, fitando o sangue escorrer para fora da banheira.

Ele virou de lado, me olhando.

- Como assim "para que? ". – Cerrou os olhos. – Irei corta-la em vários pedaços.

Eu nem me impressionei tanto quanto achei que iria quando Lucas disse aquelas palavras. Apenas o olhei lentamente, cansado.

- O que? – Perguntei sem expressar muitas reações.

- Isso mesmo! – Ele sorriu. – Além de divertido, ajuda a dificultar o trabalho da polícia.

Eu voltei meu olhar para Lin.

Lembrei de quando disse a Doyoung que não me importava com a garota. Realmente, ela não era nada para mim, mas vê-la morta bem na minha frente me fez perceber que as talvez as palavras tenham algum certo poder.

- Fique aqui. – Lucas se levantou. – Vou pegar os sacos e o serrote.

Fechei os olhos, sentindo meu corpo arrepiar de nervoso.

Eu não acreditava que iria ter que acompanhar um ato tão brutal bem diante dos meus olhos.

Lin estava esparramada na banheira, se banhando em seu próprio sangue. Sua pele pálida completamente machucada. Sua vida totalmente destruída.

Eu sentia como se estivesse praticando algum ritual.

Lucas voltou rapidamente com mais quatro sacos pretos e como havia dito, um serrote.

Eu torcia para ele não me fazer obrigar a fazer parte daquilo novamente.

- Tome. – Disse me dando os sacos. – Quero que os abra quando eu pedir.

- Eu tenho que ver isso? – Perguntei, já sabendo da resposta.

Lucas riu.

- É claro! – Agachou na frente da banheira. – O que é um espetáculo sem os espectadores?

Engoli seco.

- Vamos acabar logo com isso. – Falou pegando o braço direito de Lin. – Vai ser mais rápido do que imagina.

- Já fez isso antes? – Perguntei o fitando, eu precisava saber o que estava prestes a olhar durante os próximos minutos.

Lucas riu anasalado.

- O que você acha? – Sorriu.

Eu sabia plenamente que a resposta era sim.

Assim que pegou o braço direito de Lin e começou a cerrar sua junta, eu pude perceber que não estava observando um amador ali. Lucas sabia muito bem como fazer aquilo.

O barulho de carne sendo cortada penetrava nos meus ouvidos. Era algo que eu nunca escutei antes e que definitivamente não gostaria de escutar novamente.

- Uma parte já foi. – Lucas olhou para mim. – Abra o saco.

Eu engoli seco e decidi fazer o que ele pedia. Abri o saco e o mesmo jogou o braço de Lin dentro do mesmo.

Um pouco do sangue ainda quente do braço respingou em minhas mãos, o que fez meu estomago revirar. Senti ânsia e me virei para o vaso sanitário ao meu lado.

Eu vomitei o pouco que Lucas me deu para comer e mais um pouco do ácido do estomago. Por mim, eu ficaria com o rosto enfiado ali pelo resto do dia.

- Você é tão fraco. – Lucas falou com um tom enojado. – Porém, algum de nós deveria ser.

Voltei a olhar o garoto. Ele já estava cortando o outro braço.

Aquilo demoraria uma eternidade.

[...]

- Pronto. – Lucas terminou de amarrar o ultimo saco aonde estavam pedaços do corpo de Lin.

- Pobre garota... – Pensei.

- E agora? – O olhei.

- Bom, de agora em diante eu cuido disso. – Lucas tirou as luvas, as jogando na banheira ensanguentada. – Até porque você não pode sair da casa.

Eu assenti, com medo.

Lucas me olhou por algum tempo, logo se agachando na minha frente.

- Você fez tudo o que devia do jeito certo. – Me deu um beijo na testa. – Agora, vá para o quarto e tome um banho.

Por dentro algo acendeu em mim, como uma esperança. Será que finalmente eu estava conseguindo conquistar Lucas? Era algo que eu deveria descobrir apenas se continuasse com o plano.

Lucas subiu e desceu duas ou três vezes para levar os sacos para o andar de baixo. Algo me dizia que ele iria os enterrar em algum canto perto dali.

Eu apenas segui para o quarto, tomei meu banho e me sentei na cama, tentando processar tudo o que havia acabado de acontecer naquele quarto. Se eu tivesse que voltar para lá, ainda mais depois de saber que Lin havia sido morta e esquartejada no banheiro, eu iria entrar em desespero.

Eu poderia tentar sair daquela casa naquele mesmo instante, mas como Lucas havia dito, era suicídio.

Todas as portas e janelas possuíam alarmes, além de estarem muito bem fechadas e com grades no andar de baixo. Ele sabia que eu não tentaria a sorte de pular do segundo andar e não quebrar as duas pernas. Eu estava ilhado. Deveria aceitar isso.

Me deitei na cama, encarando o teto.

- Como será que minha família está? E meus amigos? Será que estão me procurando tanto quanto os noticiários estão mostrando? Ah, como sinto falta deles. – Era a única coisa na qual eu conseguia pensar estando sozinho naquele lugar.

Eu deveria persistir no meu plano e não desistir de acabar de uma vez por todas com toda aquela merda na qual eu estava vivendo.

E foi assim, pensando na vida, que adormeci na grande cama de casal no quarto de Lucas.

Qual a próxima "aventura" que eu viveria naquela casa?

Era a grande questão.

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