Uma nova chance.

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Abri os olhos.

Evitei levantar rapidamente, então apenas olhei ao redor.

Eu ainda estava no quarto de Lucas, o que me impressionava. Achei que depois do... ato... ele iria me por de voltar naquelas correntes, mas parece que me enganei.

Olhei para o lado, Lucas ainda estava lá. Dormia virado de costas para mim e de barriga para baixo, deixando a mostra suas largas costas despidas.

- Droga... – Pensei.

Me sentei na cama. Eu estava apenas de cueca e congelando, então me enrolei no lençol da cama.

Tudo que eu me lembrava da noite anterior eram flashes. Gemidos, beijos, mordidas, calor, suor. Eu não gostava de admitir, mas eu não havia odiado. Em minha mente eu achava que seria mil vezes pior do que havia sido. Obviamente eu não desejava nada disso, mas pelo menos não foi algo... péssimo.

Eu só pensava em simplesmente desaparecer daquele lugar e fingir que nada disso havia acontecido.

A janela estava bem ao meu lado. Eu poderia muito bem sair dali. Era tão simples. Eu facilmente abriria a janela e poderia escapar pela estrada ou pela floresta, até achar um lugar decente para pedir ajuda.

Me levantei, perdido em meus pensamentos e caminhei até a janela, ainda enrolado no lençol.

Estava um dia nublado, até mesmo nebuloso. A chuva fina caia no gramado e o calmo vento gelado respingava minúsculas gotas de chuva pelo vidro.

" Vá, Jungwoo. É sua chance. Você está diante de uma grande oportunidade, não a perca! "

" Não, Jungwoo. Não faça besteira. Tudo pode dar errado se você sair por essa janela agora. "

Meus pensamentos rondavam minha cabeça enquanto eu fitava o lado de fora da casa.

Escutei um barulho na cama.

Gelei.

E se Lucas achasse que eu realmente estava planejando fugir? Ele iria me torturar agora mesmo.

Respirei fundo.

- Já acordou... – Lucas falou por trás de mim, colocando as mãos em minha cintura. – Achei que dormiria por mais tempo.

Aquele papo de como se fossemos um casal mega feliz me fazia ficar enojado. Eu realmente não conseguia entender a mente perturbada de Lucas, mas sabia que aquilo não passava de uma cena.

- Eu... – Falei, ainda fitando o lado de fora. – Não estou mais cansado.

Senti os lábios de Lucas pela minha nuca, me fazendo arrepiar.

- Sabe que não pode fugir, certo? – Sussurrou em meu ouvido. – É quase um suicídio.

Engoli seco.

- Eu não ia tentar. – Retruquei.

O mesmo riu.

- Imagino. – Ele me virou em sua direção rapidamente.

Olhei em seus olhos.

- Precisamos conversar. – Sua face mudou completamente depois dessa frase.

Era como se não possuísse sentimentos.

Assenti.

[...]

Eu havia tomado um banho um pouco mais decente dessa vez, talvez porque eu estivesse no banheiro de Lucas e não em um buraco escuro que nem o quarto da tortura.

Eu estava sentado em uma pequena mesa na cozinha, de frente para Lucas. Ele havia feito um café da manhã farto, com direito a suco e até mesmo torradas. Eu não sabia sobre o que ele iria falar, mas pelos recentes acontecimentos, eu imaginava que deveria ser algo "bom".

Já fazia alguns minutos em que estávamos comendo em silencio. Eu sentia Lucas me lançar olhares penetrantes que me deixavam desconfortável, mas eu fingia não me importar.

- Jungwoo. – Ele falou, largando o garfo em cima do prato. – Preste atenção em mim.

Eu parei de comer e o olhei imediatamente.

Ele suspirou.

- Acho que já está na hora. – Ele colocou os cotovelos na mesa, com uma expressão preocupada.

Eu franzi o cenho.

- Hora? – Perguntei, confuso.

Outro suspiro.

- Acho que eu não preciso mais te manter no quarto das correntes. – Lucas não expressava nada enquanto falava essas palavras.

Nem alegria, nem tristeza, nem raiva. Apenas... palavras vagas.

Eu tentei não esboçar um sorriso perante aquilo, para não parecer suspeito, mas não me contive em demonstrar algo. Eu até mesmo respirei diferente.

- Eu... – Falei calmamente. – Deveria agradecer?

Ele sorriu irônico.

- É claro que deve! – Ele deu um tapa na mesa, não forte o suficiente para me assustar. – Estou te tirando de um poço!

Engoli seco.

- Mas como se esperado... – Ele ajeitou sua postura. – Teremos algumas... rígidas... regras.

Eu já imaginava que ele falaria algo do tipo. Era óbvio que ele não me deixaria simplesmente ficar fora das correntes sem algum tipo de regra.

- Quais seriam as regras? – Perguntei, temendo a resposta.

Ele me olhou de cima a baixo.

- Primeiramente... – Começou a falar. – Você terá que aceitar dormir acorrentado na minha cama.

Eu estava ofegante.

- Mas não precisa se preocupar. – Ele dava mais um daqueles sorrisos doentios. – As correntes vão ser grandes o suficiente para não te atrapalharem a dormir.

- Mas... – Eu pensei em o questionar, mas foi interrompido.

- Cale a boca! – Ele se levantou, me intimidando. – Você não tem o direito de questionar nada do que eu disser! Se não quiser... basta voltar para o quarto escuro.

- Me desculpe. – Olhei para baixo.

Lucas voltou a ficar sério, agora caminhando de um lado a outro.

- Outra coisa que você tem que manter em mente é o fato de que você me pertence. – Falava. – Então... se me desobedecer, eu posso te enfiar de volta no quarto da tortura, quando eu quiser.

Eu estava com medo só de me imaginar acorrentado sozinho novamente.

- E não é isso que você quer, não é Jungwoo? – Ele apoiou as mãos na mesa e me olhou.

Eu estava procurando um jeito de não chorar.

- Eu... só... queria saber o porquê... – Gaguejei.

Lucas bufou.

- Eu estou tentando manter uma boa relação entre nós dois. – Ele sorriu irônico. – Afinal, como podemos ser um típico casal se um de nós está acorrentado em outro lugar?

O jeito como ele se referia a nós como um "casal" me fazia querer vomitar. Minha vontade era puxar uma faca da mesa e voar no pescoço daquele filho da puta.

- O que me diz? – Ele estendeu sua mão em minha direção. – Está disposto?

Eu o olhei. "Estar ao lado do psicopata é realmente a melhor escolha? ", era o que eu pensava. Eu realmente não tinha outra opção. Eu poderia estar limitado, mas não estar preso naquele inferno de quarto já era o suficiente. Qualquer pessoa no meu lugar escolheria o mesmo, não é?

Segurei em sua mão e assenti.

Vi Lucas sorrir de lado, como o verdadeiro psicopata que ele era.

Eu seguiria suas regras, eu me doaria para ele, eu seria um bom garoto para sempre.

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