Verdades em Meio ao Delírio

9.3K 816 59
                                    

Sozinha em casa, com um lobisomem desacordado em sua cama, e Leah não fazia ideia do que deveria ser feito. Pensou em examiná-lo e dar-lhe algum remédio, mas nunca havia cuidado de alguém doente de verdade, como poderia saber o que ele tinha? Lucian tosse algumas vezes e começa a se mover, parecia recobrar a consciência.

― Está queimando – balbucia, num tom inaudível a humanos comuns –, está muito quente...

― O que você tem? Diga-me, o que está sentindo?

― Calor, muito calor, está me queimando por dentro, por favor, faça parar...

Leah sente seu coração se apertar diante dos clamores do cherokee e logo se lembra de um filme que assistira uma vez, não fazia ideia do nome, mas lembrava-se perfeitamente da cena em que uma mulher esfregava gentilmente a pessoa febril com toalhas úmidas, e, sem pestanejar, a quileute se apodera de uma toalha e de uma bacia com água.

― Vamos lá, me ajude – pede ela, enquanto tentava retirar a camisa de manga comprida do rapaz.

Lucian fervia em febre. Leah sentiu a parte ácida de sua mente elaborar uma piada sobre ser possível preparar ovos com bacon para o café da manhã em cima dele, mas nenhuma palavra saiu de sua boca, pois a parte sensata de seu cérebro reconhecia que febre alta nunca era um bom sinal e que devia ser levado a sério. Ela podia sentir, mesmo sem tocá-lo, o calor excessivo que emanava de seu corpo e ver claramente o quanto ele tremia.

A toalha é mergulhada na bacia d'água, torcida e passada com movimentos suaves pelo rosto de Lucian, que podia sentir o delicioso frescor vindo da toalha, que agora descia pelo seu pescoço em direção aos ombros. O tecido é mergulhado novamente e agora passado sobre o tronco do paciente, permitindo a Leah um contato lento e minucioso sobre toda a sua musculatura...

A porta da sala se abre ruidosamente, fazendo com que Leah parasse imediatamente com o que fazia. Ela ouve a voz de Hana e corre ao seu encontro, não conseguindo controlar o semblante preocupado e permitindo que ela enxergasse em seu rosto, que havia algo errado.

― Esta tensa, ansiosa, – arrisca um palpite –, parece que está preocupada com alguém.

― Alguém não... Seu irmão. – Pausa. – Ele está muito mal.

Hana corre atrás de Leah, em direção ao quarto, onde encontra Lucian num estado lastimável e a toalha molhada largada displicentemente sobre o criado-mudo. Ela se ajoelha ao lado da cama, próximo à cabeça de Lucian e acaricia o seu rosto com as mãos, medindo sua temperatura.

― Lucian, o que foi que você fez?

― Hana – murmura, tossindo em seguida e mal conseguindo abrir os olhos –, me desculpe...

― Você tomou chuva quantas vezes?

― Duas... E pulei no mar gelado uma vez, para salvar um homem...

― Por que você tem que ser tão descuidado? Agora está queimando em febre.

― Lobisomens não ficam doentes! – afirma Seth incrédulo.

― Os quileutes não ficam, mas nós ficamos. – Pausa. – Nossa pele quente nos impede de adoecermos, mas quando tomamos muita chuva, a água fria abaixa nossa temperatura corpórea e nosso sistema imunológico volta a ser igual a quando éramos humanos... Lucian sempre foi um adolescente de saúde frágil, sempre ficou doente com facilidade, é por isso que precisa estar sempre atento às chuvas, mas ele não o faz. Sou eu que sempre banco a chata e pego tanto no pé dele...

― Como ele pode estar com febre? Ele treme, mas não reclama de frio, reclama de calor, de muito calor – indaga Leah.

― A temperatura dele quer se estabilizar e acaba entrando em conflito com a doença humana, dando estes efeitos colaterais. – Vira-se para o irmão, abrindo levemente o seu olho direito e percebendo que ele não se focava nela, apesar de continuar acordado. – Lucian, quem era o seu melhor amigo?

LeahOnde histórias criam vida. Descubra agora