Paradise- Cold Play

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 -A novata esqueceu um caderno e não sabe onde é a sala dela. Vou mostrá-la. - o ruivo disse ao faxineiro que nos olhou desconfiado. Ele mentia muito bem, sua voz estava calma e casualmente entediada, como ele sempre esta. Mas eu sentia a irritação dele na força que ele segurava meu pulso e pela sua mandíbula tensionada.

O homem muito magro apenas faz um movimento quase imperceptível com a cabeça e volta a varrer preguiçosamente. Posso ate ouvir seu pensamento: “Não sou pago pra isso”.

Sinto-me aliviada por não haver mais ninguém na escola alem do faxineiro, do ruivo e de mim.

Mas no mesmo segundo meu corpo fica rígido com o fato de estarmos completamente sós.

Andamos por tantos corredores e escadas que começo a cogitar a idéia de estarmos perdidos.

Quando abri a boca para questioná-lo ele disse:

– Por aqui.

Olhei para onde ele esta apontando e o encaro.

– Você esta brincando, né?

Ele passa o peso do corpo para a outra perna, impaciente.

– Entre. Há uma escada, apenas a suba. Não questione.

Encaro o lugar novamente. É uma pequena porta –praticamente uma janela- com uma placa muito gasta escrita: “Entrada permitida apenas por funcionários.” A madeira, apesar de pintada de amarelo, esta completamente fofa, mofada e com a tinta descascando – revelando a madeira podre. O cadeado que ela deveria ter já se fora há muito tempo e o que restou foi um trinco enferrujado. Escorrendo sua ferrugem pela porta.

Empurro a porta com medo dela se desfazer ao meu toque.

Agacho-me e entro. É um lugar muito úmido e escuro. Mas consigo ver os degraus de uma escada estreita graças a porta que fica acima dos degraus.

Ele suspirou alto, me apressando. Enquanto subia eu podia ouvir seus passos pesados.

Quando cheguei no último degrau virei a maçaneta, mas ela estava fechada.

Me virei para ele, confusa.

Ele tirou algo de um dos bolsos.

– Privilégios de um lobo Alfa, – ele sacode as chaves. – ou um “cachorro”, como você diz.

Eu sorrio com o sarcasmo dele.

Quando ele abre a porta e revela o poder cegador do sol, fico perdida num mar laranja.

Piso no telhado da escola, que na verdade é uma laje lisa, quase como uma pista de skate

A vista era panorâmica. A cidade estendia-se diante de nós enquanto eu andava em direção ao murinho de aproximadamente 1,50 m de altura. Apoiei meus cotovelos nele e fixei meu olhar no horizonte.

Casas pequenas se tornavam minúsculas ate serem sufocadas pelos prédios à beira mar. Sim, há praias nesta cidade (mais um motivo por ter a escolhido.)

E mesmo sem poder ver muito o mar, o seu cheiro salgado vinha junto ao vento que brincava com meus cabelos. E o sol escondia-se preguiçosamente no ponto mais distante do horizonte, encontrando-se com o mar que em breve será iluminado pela lua cheia.

O céu se enche de um tom laranja escuro e eu o observo mudando de cor bem devagarzinho enquanto escuto o som do vendo em meus ouvidos.

Me lembro do passarinho, preocupada. A ultima vez que o vi a mãe dele estava o empurrando do galho. E desejo internamente que ele esteja bem.

Quando o céu esta banhado por um vermelho-sangue é que me lembro do garoto ruivo e olho para ou lado, com medo dele ter me deixado aqui sozinha.

Ele esta do meu lado direito, mantendo seus olhos fixos no horizonte. Perto o suficiente para eu sentir seu perfume, deve ser um Malbec. O por do sol avermelhado dá mais vida ao seu rosto, que geralmente é muito sério mas agora esta relaxado sem notar minha presença. Suas bochechas parecem coradas mas sei que é pelo nuance vermelho do horizonte. E seus cabelos estão em chamas, seu cabelo ganha tons escuros e claros de vermelho, como uma lava vulcânica incandescente. E junto do movimento provocado pelo vento, parece realmente uma chama. Quase posso sentir seu calor...

Desvio o olhar.

Encaro o sol, que já esta coberto até sua metade pela linha fina entre mar e céu. E o céu fica lilás e laranja ao mesmo tempo. Me surpreendo quando vejo o passarinho voar junto a mãe dele. Ele vacila no vôo, as vezes , mas imita a mãe e segue em frente cada vez mais confiante. Ambos seguem em direção ao mar infinito.

Eu sorrio, numa mistura de emoções.

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