21 Guns - Green Day

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Encaro o sol, que já esta coberto até sua metade pela linha fina entre mar e céu. E o céu fica lilás e laranja ao mesmo tempo.

– Realmente lindo. – finalmente digo.

Ele arruma a postura, reparando que estou ao seu lado.

–Eu não faço o tipo de “cachorro” que late e não morde. - sua voz esta mais suave que o costume, apesar do sarcasmo.

Encaro Hatchi – a primeira estrela que aparece quando esta anoitecendo, a apelidei assim algum tempo atrás e ela vem me acompanhando desde então como uma excelente ouvinte.

Sorriu por um breve segundo.

– Eu tive um cachorro assim. Digamos que ele foi... inesquecível para mim. Me marcou profundamente. – ele me encarou, pela primeira vez. Pude ver que estava confuso. – o nome dele era Castiel. Só Deus sabe por que minha mãe o apelidou desta forma. – percebi que ele me encarava mas fixei meus olhos no horizonte, que já era de um tom lilás escuro e roxo. – Ele tinha um porte grande. Sempre me derrubava de costas no chão porque eu simplesmente não agüentava o peso dele quando ele se jogava em cima de mim para brincar. Ele tinha o pelo mais liso e sedoso que eu já senti – acariciei a borda do murinho, inconscientemente. – e era muito preto. Um tipo de preto azulado. Parecia um lobo.

Eu não sabia ao certo porque estava falando tudo aquilo a ele, mas ele mantia-se quieto, então eu continuei.

– Ele era um cachorro extremamente normal e carinhoso. Mas sempre me perguntei porque ele nunca latia. Jamais escutei um latido dele antes do que aconteceu. Sempre encarei isso como um bom sinal, que ele era manso e inofensivo.

0 céu rendia-se a escuridão azulada, junto de estrelas e a imponente Lua cheia. O vento estava mais forte e tive que aumentar o tom de voz para que ele escutasse.

– Até a noite que ele começou a latir. Passou a noite toda latindo e uivando para o vento. Eu tinha uma apresentação de Jazz no outro dia e ele não parava. Umas 4 da manha eu fui até o quintal e chamei por ele varias vezes. Mas Cast estava hipnotizado. Ele encarava Lua e a Lua tornava os olhos azuis claro dele completamente brancos. Na quarta vez que mandei ele se calar ele finalmente parou e me olhou. – podia sentir os olhos do ruivo me encarando- E me atacou.

Não vi sua expressão, mas sei que o ruivo se surpreendeu. Seu corpo moveu alguns centímetros.

– Antes que eu pudesse pensar... ele já estava com os dentes fincados na minha panturrilha.

– Tem cicatriz? – ele finalmente disse. E me surpreendi um pouco por ser interrompida. O encarei.

Enquanto ele falava pude ver seus dentes. Aqueles dentes pontiagudos... Estremeci um pouco.

– Sim. – levantei a calça jeans até o joelho e o expus ao luar. Ele encarou a arcaria dentaria do meu cachorro.

– Ele era realmente grande. – admirou-se.

Eu sorri, apesar da cicatriz não me provocar ânimo algum.

– E então? Alguém te ajudou? – ele perguntou, com a voz rouca.

– Não imediatamente. Eu desmaio quando vejo sangue. Ele mordeu duas vezes a mesma região da panturrilha, por isso o sangue jorrou no mesmo instante. Eu até gritei, mas Cast voltou a uivar e abafou meus gritos. Desmaiei e só acordei de tarde, no hospital. Meu pai ficou com tanto ódio do Cast que mandou sacrificá-lo.

Ele se encolheu um pouco.

A lua cheia já reinava no céu. Olhei para meu celular.

– Já são 7:30?! – disse para o celular. – Preciso ir.

Olhei para ele e ele encarava o horizonte, pensativo. Olhei para a paisagem. E senti meu coração apertar-se. Uma sensação dolorosa, mas boa. Esforcei-me para memorizar este momento.

– É um lugar muito bonito. Obrigada por ter me mostrado.

Ele respirou fundo, virando-se, tirando a chave do bolso e andando em direção a porta.

– Não pense que te mostrarei novamente. – seu tom grosseiro estava de volta.

Sorri.

– Nunca diga nunca.

Ele abriu a porta - que fez um barulho estranho.

– Vai continuar aqui? – pergunto parando em sua frente.

– Sim.

– Bem, estou indo para os apartamentos e se quiser posso te esperar para irmos junt...

– Ei, lembre-se de que só não fui de ônibus justamente para não voltar com você do meu lado. - ele me interrompeu.

Levei as mãos para o alto, como gesto de rendição.

– Esta bem; Esta bem. – reviro os olhos. – mas mesmo assim, obrigada por ter feito o sacrifício de me agüentar por todo esse tempo e me mostrar este lugar.

– Você não tem noção de como foi difícil. – ele diz de mau humor, mas pude ver um sorrisinho em seus lábios.

– Receio que sim. – digo sorrindo.

Ultrapasso o batente da porta e encaro o horizonte atrás dele por uma ultima vez. Dou um passo para trás e viro-me no primeiro degrau.

– Bem... Boa noite.

– Boa noite novata. – ele esta fechando a porta.

– Me chamo Melissa. – corrijo-o, quase certa de que ele não escutou.

Ele responde enquanto ouço o som da chave girando:

– Me chamo Castiel.

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