(XV). Escuridão total sem estrelas

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"Você tem sorte de estar escuro agora" — Lorde

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"Você tem sorte de estar escuro agora" — Lorde

Lisa Manoban (Agosto de 1985)

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Não posso confiar em mim mesma, nas minhas ações, na minha visão, nas minhas mãos e nos meus próprios pensamentos. Me sinto uma intrusa dentro do meu corpo, vigiada a todo momento, sabendo que há alguém escondido nas minhas entranhas tal qual um hospedeiro, vendo tudo o que eu vejo e esperando o melhor momento para emergir. Descobri da pior maneira possível que não tenho controle sobre ela, sobre Lalisa. Ela é uma parte de mim que não posso mais ignorar.

Em algum momento, no começo de 1985, Lalisa tomou o controle e causou tudo isso, causou algo irresponsável que preciso resolver.

Ignorei-a durante muito tempo e sei que posso continuar não acreditando. Posso escolher acreditar não estar dividindo o corpo com uma provável psicopata, acreditar no que acreditei durante toda a minha vida, que os apagões são ocasionais, derivados do estresse e que não podem me machucar, que o resto é só coincidência, a vida é cheia delas. Preciso carregar a bateria de vez em quando, apago, volto, acordo em lugares diferentes, com roupas diferentes e conhecendo pessoas diferentes.

Não explica tudo, claro, não é assim que as pessoas funcionam. Não explica porque não me lembro de ter ido a Taegon, não explica porque Jungkook me conhece, porque Jennie me conhece, porque Jisoo talvez me conheça. Não explica porque Lalisa resolveu matar todos aqueles homens.

Essas respostas estão com ela. Todos conheceram ela. Algo dentro de mim se amedronta com essa hipótese, pois acreditar que ela é a culpada é acreditar que eu sou a culpada. Eu a deixei sair da água, deixei que Lalisa me empurrasse para o fundo.

Mas não posso dizer isso a Joohyun sem que ela me interne no Colônia. Não há um jeito fácil de falar que eu tenho transtorno de identidade dissociativa. Que acho que sou eu a responsável pelo massacre, mas talvez não seja, já que não me lembro, já que Jennie não diz nada e todos parecem guardar tantos segredos nessa cidade dos infernos. Lalisa tem todas as respostas.

Observo Yeri através do vidro da sala de interrogatório. Estou tentada a obrigá-la a dizer a verdade, a dizer tudo que sabe. A minha respiração forma vapor de encontro ao meu reflexo. A sala está quente demais e só consigo pensar "Lalisa... o que você fez conosco?"

Joohyun se aproxima de mim.

— Ela está mentindo, Lisa.

Limpo as lágrimas com o dorso da mão.

— O quê?

— Yeri está mentindo. — Joohyun repete. — Baekhyun desapareceu no dia 12 de julho, ele saiu da faculdade às oito horas, os amigos perceberam seu sumiço as dez. Há uma lacuna de três horas em seu desaparecimento. Eu te peguei invadindo a propriedade da Ruby às nove e você saiu daqui as onze horas... a menos que tenha uma irmã gêmea maligna, não tem como estar em dois lugares ao mesmo tempo. — Ela se afasta de mim e liga o microfone. — Obrigada Yeri, irei te encontrar daqui a alguns minutos.

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