(VI). É melhor ter amigos que não contam mentiras

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"Elas não sabem que quando a gente cresce os amigos podem mudar

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"Elas não sabem que quando a gente cresce os amigos podem mudar. É que é melhor ter amigos que não contam mentiras."  — Paola Peretti.

Diário de Jennie Kim (março de 1983)

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Quando completei 16 anos, a diretora descobriu que eu vendia maconha para os garotos do time de beisebol do colégio.

Na verdade, o grande culpado pela descoberta foi Kim Junmyeon, o capitão do time de beisebol e futuro marido de Irene. Ele sempre foi politicamente correto e ficou "extremamente desapontado" — estou usando suas próprias palavras —, ao descobrir que era eu quem estava diminuindo o desempenho do seu time, vendendo erva para eles no intervalo das aulas.

O que eu fiz? Perguntei a Junmyeon se ele queria umazinha também.

No dia seguinte, a diretora estava me esperando na porta da sala, os óculos redondos ornando com a cara também redonda, enquanto batia os pés no assoalho com suas sapatilhas floridas, compradas em uma loja de decoração no centro (frequentada apenas por mães solteiras e pela minha avó).

Deveria ser um crime comprar alguma coisa lá ou usar alguma coisa de lá, mas ela parecia ter um certo orgulho em ser brega. Assim que eu a vi, dei as costas e fui até a sala dela, não precisava ouvi-la dizer para saber que eu estava encrencada.

Naquele dia, ganhei uma semana de suspensão e precisava contar aos meus avós o que eu tinha feito, já que a reunião com os responsáveis foi marcada para uma semana depois. Também tive que passar na sala da conselheira e a ouvir falar por vinte minutos ininterruptos que eu não arrumaria um marido agindo assim. No fim, ela me deu um diário e disse que eu deveria escrever sobre essas coisas nele, porque mais tarde eu leria e entenderia que foi errado.

Mas voltando a história (porque quero escrever da maneira mais falsamente real que me lembro), logo depois da conversa com a conselheira, fui mandada para a sala de espera. Chegando lá, coloquei meus pés em cima da cadeira, minhas botas com o solado arrancado e barro demais sujando o estofado azul enquanto ouvia David Bowie vindo da sala da supervisora. Ao levantar os olhos, me deparei com as três: Irene, Jisoo e Rosé me olhando na porta da sala.

O cômodo estava vazio, cheirava a xerox, álcool e papel ofício, e tinha todo aquele ar de escola primária, com gravuras na parede e armários de metal. Jisoo foi a escolhida para entrar, ela olhava para os lados, preocupada, enquanto suas sapatilhas pretas e perfeitamente engraxadas faziam um ressoar leve no chão. O uniforme bem passado e os cabelos amarrados em um rabo de cavalo, presos com uma fita vermelha, só expunham o quão bonita ela era e o quanto não sabia disso. Seus passos se apressaram, característicos do andar de Jisoo, que sempre parecia atrasada para algo. Com o dedo indicador na frente dos lábios, ela me levou para longe dali, de encontro as meninas.

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