(II). Tudo começou com um pouco de diversão

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"Perdoe-nos agora pelo que fizemos! Tudo começou com um pouco de diversão

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"Perdoe-nos agora pelo que fizemos! Tudo começou com um pouco de diversão..." — Nick Cave.

Diário de Jennie Kim (Fevereiro de 1984)

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Hoje foi o primeiro dia do festival Divine e Taegon estava cheia de forasteiros. Eu os odeio. Eles acham que são donos da cidade, mijam em qualquer lugar, destratam vendedores, moradores e qualquer pessoa que se recuse a baixar a bola para eles, um bando de mimadinhos de cidade grande. Corrigindo, eu odeio mimadinhos de cidade grande. Mas, diferente do que dei a entender até agora, eu amo o Divine. É quando tenho o maior lucro do ano.

Os portões da arena abriram às seis, às cinco eu já estava lá. Vendi tanta metanfetamina para um magrelo que acho que ele estará morto no fim do dia.

Irene tentou me impedir, mas não conseguiu (palmas para a minha astúcia), estou mais confiante esse ano e mais esperta também. Guardei as pílulas na calcinha e vesti uma blusa que parece um vestido e mostra parte da minha bunda quando eu me inclino. Não tem fiscalização no festival, mas aprendi que os seguranças não incomodam garotas gostosas e eu estou na minha melhor versão gostosa. Se Irene não fosse tão estraga prazeres, teria gostado, pois ela gosta de me ver com roupas curtas e um pouco chapada, apesar de não poder dizer isso em voz alta por dois motivos: é casada e é policial.

The Smiths começou a tocar às oito e o Sol estava tão forte que eu via apenas pele e suor, garotas em cima dos ombros de garotos, casais se beijando na grama, dançando, usando lança, cantando. Era ali que os filhos faziam coisas que os pais nunca imaginariam, onde conseguiam uma passagem para o inferno antes de se tornarem mães ou pais de alguém, antes de não permitir que eles façam a mesma coisa que fizeram na juventude.

Então, quando eu a vi foi quase estranho. Tinha tempo que Rosé não vinha a Taegon, eu não a via há mais de três anos. Ela platinou os cabelos e usava saias plissadas, além de uma blusa com algum dizer sobre amar rosa ou alguma merda assim. Ela não deixava de parecer uma patricinha nem quando não queria ser uma. Seus olhos cruzaram o meu por uma fração de tempo até fingir que não me conhecia, o que me fez querer ir lá.

Ela estava brigando com a garota ao lado, que poderia ser sua namorada, se eu não soubesse que Rosé só beijava garotas quando estava bêbada. A menina não queria tirar o suéter, mesmo em pleno verão e com sol a pino. Ela vestia calças pantalona e carregava um ar blasé, como se acordasse com vista para a Torre Eiffel todas as manhãs.

— Por John Lennon, Lisa! — Rosé começou a gritar. —  Tá todo mundo quase pelado aqui, olhe aquelas meninas com os peitos de fora! Tira logo essa merda!

—  Ela ficou bonita de suéter —  falei, e as duas se viraram para mim. — Ela é bonita de suéter — corrigi.

Rosé soube fingir muito bem, jogou os cabelos para trás e encostou no opala azul.

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