(XI). O sexto garoto

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"Quando se tranca tudo num espaço pequeno, a gente nem imagina o que vai emergir quando abrir a porta"  —  Isa Prospero

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"Quando se tranca tudo num espaço pequeno, a gente nem imagina o que vai emergir quando abrir a porta" — Isa Prospero

Lisa Manoban (julho de 1985)

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Chego na sala de telefones cedo, minha mente está a mil, olheiras nascem debaixo dos meus olhos e me lembro de ter apagado, em algum momento, ao chegar no quarto, ontem a noite, ainda de jaleco. Uma semana de trabalho interminável desde que encontrei Bae Joohyun aquela noite, desde que ando com o número dela no bolso, criando coragem para ligar e marcar um encontro. Mas naquela manhã, além do cansaço aparente, algo a mais me deu coragem o suficiente para rumar até a sala de telefones do Colônia.

Suspiro aliviada ao ver a sala vazia. Os funcionários costumam usá-la bastante no horário da manhã, assim que acordam. Talvez seja um bom momento para conversar com familiares, namorados ou amigos, quando os desafios ainda não apareceram e o Colônia ainda não sugou toda a boa vontade deles ao longo do dia, como uma mão insana e invisível tornando-os irritados e zumbificados no fim do expediente.

Fecho a porta, ignorando o aviso pregado para deixá-la aberta. Estou tremendo tanto que erro o numero de Rosé três vezes antes de finalmente conseguir realizar a chamada. A cada "triiimm" meu coração se aperta e minha respiração fica descompassada. Rosé já deve estar na clínica, sua agenda começa às 8 apesar dela nunca recusar uma ligação minha, mesmo estando atarefada. Às vezes, posso ouvir sua secretária dizendo algo como: "ela está no bloco cirúrgico agora", e dois minutos depois, Rosé retorna. Mas há uma semana ela não retorna as minhas ligações, é como se soubesse que quero arrumar briga. É como se não me desse outra alternativa a não ser ligar para Joohyun.

Bom dia!

Engulo um suspiro de alívio e raiva ao ouvir a voz dela do outro lado da linha.

— Por que mentiu para mim?

O quê? — Rosé ri. — Oi pra você também, não quer saber...

— Por que mentiu para mim durante todo esse tempo, dizendo que não sabia nada sobre o Divine, sobre Jennie Kim? Por que me tranquilizou dizendo que passei 1984 inteiro com você, quando eu tenho certeza e provas de que estive aqui em algum período antes dela ser presa e o pior, com ela?

Se não fosse a respiração descompassada de Rosé, eu pensaria que ela havia desligado a chamada.

— Anda logo, me diz! — Aperto o telefone tão forte que o brinco me machuca. Desejo estar cara a cara com Rosé, olhar dentro dos olhos dela, porque é tão fácil mentir quando a voz é a sua única arma.

Lisa, primeiro, eu quero que você se acalme...

— Não tem como me acalmar! Não até você falar a verdade, Rosé! Por que mentiu para mim? Qual a sua desculpa? Por que estava tão empenhada em me fazer voltar para Seul? Você me fez descobrir da pior maneira possível, ao invés de agir como uma boa amiga e me contar o que aconteceu! É isso que amigas fazem! Contam a porra da verdade!

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