Jogou as muletas de lado. Tocou o chão com seu pé ainda em recuperação e sentiu como se estivesse pisando em milhares de espinhos. Ao tentar dar o primeiro passo, uma dor aguda tomou seu tornozelo e sua perna falhou, a fazendo cair de joelho no chão. Mas ela não desistiu. O segundo passo foi tão doloroso quanto o primeiro. Quando finalmente segurou na barra de seu trapézio, teve vontade de chorar. Com a força dos braços, se pendurou e sentiu seu corpo balançar. Com um pouco mais de esforço e utilizando a perna que foi seu apoio nos últimos dois meses, conseguiu se sentar.
Olivia se balançava no ar como uma criança em um balanço no parque. Tentando manter o equilíbrio, segurou um dos cabos e encaixou-se ao longo do trapézio, apoiando o pé no cabo paralelo. O que antes tinha tanta facilidade, agora parecia mais difícil do que nunca. Respirou fundo e tentou se levantar. Sabia que não deveria, mas aquela voz interior que dizia que ela merecia mais do que ser apenas um tapa-buraco estava tomando conta de si. Apoiou o pé direito sobre a barra e ficou em pé, mas ao tentar apoiar o esquerdo, sentiu a mesma sensação de estar pisando em espinhos e a perna falhar mais uma vez. Mas agora o chão estava a um metro de distância.
O corpo de Olivia se chocando contra o chão fez um barulho alto, mas não tão alto quanto todos os xingamentos que ela proferiu. Mas ela não desistiu. Se levantou mais uma vez, jogou sua cartola longe, afastou o cabelo que caía pelo rosto e agarrou o trapézio. Sem muita paciência dessa vez, tentou ficar de pé antes mesmo de conseguir se sentar. Mais uma vez seu corpo atingiu o chão.
Olivia não aguentava mais. Queria chorar. Queria gritar. Esticou a mão até suas muletas e as jogou para longe. Não aguentava mais depender de muletas, não aguentava mais se sentir fraca, não aguentava mais não se reconhecer. Pensou que conseguiria provar que ainda era capaz, mas só resultou em mais fracasso. Abraçou o joelho, abaixou a cabeça e se permitiu derramar as lágrimas que estava segurando há tanto tempo.
– Você está bem?
Assim que reconheceu a voz, Olivia levantou o rosto e o encarou. Oscar estava parado na entrada do picadeiro com os braços cruzados e um olhar indecifrável. "Estou, não foi nada", ela se apressou em dizer, secando as lágrimas que já haviam borrado sua maquiagem de palhaço.
– Não acho que não seja nada – Oscar caminhou até ela e estendeu a mão – Vem, eu te ajudo.
Olivia segurou sua mão e ele a ajudou a levantar, passando o braço por seu tronco. Sem falar mais nenhuma palavra, Oscar levou até a arquibancada e voltou até o picadeiro para buscar suas muletas. Prendeu o trapézio em seu gancho e foi até ela com sua cartola nas mãos.
– Acho que isso é seu – sentou-se ao seu lado e a entregou a cartola.– Obrigada – pegou de sua mão e a colocou ao seu lado – Como você me achou aqui?
– Eu estava tomando um ar em frente ao trailer e vi as luzes acesas. Achei que poderia ser algum ladrão, algum vândalo... sei lá.
– E como você enfrentaria?
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Sob a Lona
RomansaRespeitável público, aconcheguem-se em seus assentos que o espetáculo já vai começar! Sob a lona do Taurus Circus, um circo tradicional da pequena cidade de Windenburg, na Inglaterra, Olivia nasceu. Foi sob a lona que Olivia passeou pelos ares, ab...