Posso fazer uma pergunta ?

73 8 12
                                    

Como era,tecnicamente,trabalho policial ficar observando um criminoso eu e Jughead fomos liberados mais cedo da delegacia. Eu fui em casa e peguei algumas coisas essenciais: lanchinhos,carregador de celular e um livro. Marquei de encontrar o besta as 18 horas na porta do meu prédio e depois seguimos para o nosso destino. E adivinhem ? Ele está atrasado !
-Jughead,onde você está ? Já são 18:10. -Mando mensagem pra ele.
-Tô chegando loira. Relaxa. -Ele me responde quase imediatamente
Como alguém consegue ser tão..Jughead ?
Uns cinco minutos depois ele chega acenando. O seu cabelo está completamente despenteado e a blusa está mal abotoada,como se estivesse a vestido com pressa. Eu reviro os olhos e abro a porta do carro,saindo e ficando em pé na frente dele.
-15 minutos. O que estava fazendo que demorou todo esse tempo ? -Gesticulo estressada
-Nada que seja da sua conta. -Ele se aproxima de mim e vejo que está pior do que eu pensava. Até seu casaco tem uma mancha.
-Pelo amor de Deus, você parece que acabou de sair de dentro de um furacão. -olho ele de cima a baixo.
-Ah então temos tempo pra falar da minha aparência agora ? -Ele ajeita o casaco no corpo.
-Só entra na droga do carro. -digo abrindo a porta e entrando novamente.
-Não sabia que você tinha um carro. -Ele olha o interior do meu Celta branco.
-Tem muito que não sabe sobre mim. -Ligo o carro e dou a partida.
-Porque não vai com ele pro trabalho ? -Ele pergunta abaixando o vidro da janela.
-Porque eu prefiro me exercitar e pegar o trem e por favor, não mexe na janela. Tem camuflagem pra não saberem quem somos. -Aperto um botão que sobe o vidro novamente.
-Então o seu plano é me assar aqui com você ? -Ele começa a abanar o rosto com as mãos.
-Já inventaram ar-condicionado sabia ? É só apertar o botão.
Ele procura o botão com os olhos por alguns segundos e finalmente aperta, fazendo o ar gelado ser direcionado aos nossos rostos.
-Ahh..agora assim. - ele coloca as mãos atrás da cabeça reclinado o banco.
-Ei..não estamos em uma viagem na estrada. Estamos trabalhando.
-Loira..você tem que aprender a relaxar. Tá sempre estressada.
-Porque você me estressa. Você fica agindo como um adolescente completamente inconsequente,como se as suas ações não fossem ter reações e o único motivo que você não foi demitido ainda é porque é estupidamente inteligente mas fica desperdiçando isso não fazendo nada o dia todo ou melhor enchendo o meu saco o dia todo. Então se você pudesse fazer essa situação ser minimamente agradável pra que possamos solucionar o caso seria bom. -Digo quase gritando e respirando ofegantemente.
-Nossa Cooper. Eu acho que você é a única pessoa que consegue ser educada até quando está irritada. -Ele levanta o banco e me olha.
Reviro os olhos e entramos e uma rua pouco movimentada,particularmente escura e com um grande galpão guardado por um segurança armado.
Eu paro o carro do outro lado da rua,longe o suficiente para não sermos notados.
-É aqui. Chegamos. -Digo desligando o carro.
Ele olha em volta e não sei o que ele está observando pra ser sincera.
-Porque um cara rico da máfia guardaria tudo que pode incriminar ele em um galpão enorme no meio de Nova York ? -Ele parece pensar.
-Criminosos são estúpidos. -Digo pegando um binóculo na minha mochila.
-Não esse criminoso. Ele sempre aparece e desaparece do nada. Tem alguma coisa errada. Que horas você disse que eles fariam a entrega ?
-Hm..-largo os binóculos e pego uma pasta azul abrindo-a. -Entre 19 e 21 horas.
-Alguma coisa não tá encaixando. Porque só um segurança e porque tão cedo ?
-Eu não sei. Acho que vamos ter que observar. -respondo sem entender o que estava pensando.
-É acho que sim. Vamos passar um tempo aqui. Ele dá mais uma olhada em volta.
Eu balanço a cabeça
-Então..vamos jogar um jogo ! -Ele dá um tapinha de leve na própria perna.
-Ah você só pode tá de brincadeira né ? Estamos...-Eu aponto com o dedo pra o galpão.
-Trabalhando..eu sei. Mas vamos ficar aqui por algumas horas. Não faz mal uma pequena distração.
-É exatamente o que faz mal. Se nós perdermos esse cara..
-Eu tomo a culpa. Completamente.
-Você..o que ? -pergunto confusa.
-Eu tomo a culpa tá legal ? Agora vamos as perguntas.
-Porque está sendo legal comigo ?
-Mudando de ideia em 3..2..
-Não não. Tá bem. Faz sua pergunta.
-Qual seu lanche favorito ?
- Oreos com manteiga de amendoim. Todo mundo acha estranho mas eu adoro.
-O que ? Eu nunca comi isso. -Ele franze a testa.
-Ah tá brincando ? Você vai experimentar agora. -Puxo um largo saco de Oreos da minha mochila e um pote de manteiga de amendoim. -Vai.
-Se eu tiver intoxicação a culpa é sua. -Ele pega um biscoito e mergulha dentro do pote depois dá uma mordida.
-Nossa. -Ele diz com os olhos arregalados.
-Eu te disse -Dou um sorrisinho
-Eu não esperava que isso fosse ser tão bom. -Ele dá uma risada.
[...]
E por incrível que pareça nos ficamos ali,conversando e comendo besteira. Demos risada,contamos histórias. Ele não parecia mais um babaca e não ficava me zoando mais. Ele foi até..legal.

-Posso fazer uma pergunta ? -Digo limpando o farelo de biscoito da minha roupa.
-Vai em frente. -Ele disse me passando um microfone imaginário.
-Porque você é sempre tão..desligado ?? -Apoio a cabeça no encosto do banco.
-É uma longa história. -A expressão dele enrijece
-Temos tempo. -Digo me ajeitando no banco e ficando de frente pra ele
-Eu..não tive a melhor das vidas quando era jovem. Minha mãe abandonou a família. Meu pai não deu conta de criar dois filhos sozinhos e começou a beber.
-Dois ?
-Sim..minha irmã foi morar com nossa mãe depois de algum tempo. E toda a carga veio pra mim. Eu tentava ser o engraçado para que ninguém percebesse que na verdade ele era um alcoólatra..que abusava de mim.
-Nossa Jughead. Em todos esse anos que trabalhamos juntos eu nunca pensei..Eu sinto muito. -Coloco a mão no ombro dele.
Ele seca uma lágrima que escorreu pela bochecha e dá um sorriso de canto de boca. -Tudo bem.
-Porque está sempre usando terninhos ?
-É uma outra longa história.
-Eu acho que você disse que tínhamos tempo.
-Eu usava aquelas roupas super fofinhas..mas quando eu tinha 17..bem digamos uma pessoa que eu confiava demais espalhou uma coisa que não devia e todo mundo ficava me encarando. Eu passei a usar terninhos pra ser respeitada de novo.
-Que saco. Sinto muito.
-Sabe Jones eu acho que essa foi a conversa mais legal que tivemos em 4 anos que trabalhamos juntos.
-Verdade Cooper. Até que você é bem mais legal do que eu pensava.
Dou um sorriso. É a coisa mais legal que ele já disse pra mim.
-Você também não é nada mal Jones. Nada mal mesmo.
Ele sorri pra mim depois observa o galpão novamente.
-A gente deveria fazer isso mais vezes.
-Shiu. Cala a boca.
-O quê? Cala a boca você ! Eu hein,eu tô tentando..-Ele cobre a minha boca com as mãos e aponta pro galpão. Meus olhos se arregalam. São os nossos caras.
-Muito bem. E o que vamos fazer agora ? -ele tira a mão do meu rosto.
-Agora ? A gente prende uns traficantes ! -Digo sorrindo travessa e pegando minha arma.
-Espera. Se formos sozinhos eles podem escapar.
-Mas se demorarmos muito também podem escapar.
-Eu tive uma ideia. -Ele pega o celular e liga para alguém.
-Capitão ? Sim,precisamos de reforços na rua de trás. Obrigada. -Ele desliga e me olha -Estarão aqui em cinco minutos. Vamos fazer o seguinte. -Ele me contou tudo sobre o plano que ele arquitetou pra prender esse caras. E nossa,que plano. Exatamente cinco minutos depois da ligação recebemos uma mensagem dizendo que os carros da polícia já estavam posicionados atrás do galpão e tinha um carro à paisana parado atrás do nosso. Andamos até o galpão,com disfarces é claro, e dissemos que éramos os novos compradores. Eles desconfiaram um pouquinho mas a lábia do Jughead foi capaz de convencê-los. Por fim,quando eles trouxeram a mercadoria ele sorriu e perguntou :
-Então..você joga monopoly Sheamus ?
-Já joguei algumas vezes..porque ?
-Porque espero que goste de passar umas rodadas no canto da prisão. -Ele diz sacando a arma e apontando pro cara. Eu faço sinal e os outros polícias invadem o galpão,prendendo todos. Parecia realmente uma cena de filme. Todos aqueles criminosos com caras de fúria. Até que um se debate e pega a arma de agente,atirando contra mim.
-Cuidado ! -Ele se coloca na minha frente e me joga no chão. Os tiros atingem a parede e mais agentes o imobilizam,o enfiando no carro com força.
Eu tento processar o que acabou de acontecer e percebo que Jones está em cima de mim. Eu encontro o olhos dele e ele os meus e rapidamente se levanta,estendendo a mão pra me ajudar a levantar também.
-Você..salvou a minha vida. -Digo ainda processando minha quase morte.
-Você pode ser careta Coops..mas não quero que morra. Senão quem eu iria perturbar ? -Ele sorri um pouco e depois vemos o capitão correndo até nós.
-Vocês estão bem ? -Ele pergunta preocupado.
-Sim,estamos. Por causa do Jones. Ele salvou a operação capitão. -Digo e os olhos dele se arregalam pra mim.
-Parabéns ao dois então. -Ele balançou a cabeça e foi ao encontro dos outros guardas.
                             [....]
Mais tarde na delegacia o capitão Jack reuniu todos pra dizer que a missão foi um sucesso e que haveria uma festa com todos da delegacia em homenagem a mim e ao Jughead. Eu fiquei um pouco sem graça mas ele,claro, ficou esbanjando que era o melhor. Até que nao o culpo mais,ele só quer deixar os outros orgulhosos dele mas talvez exagere um pouco as vezes.
Enfim, a festa é amanhã a noite e eu tenho um pressentimento de que muita coisa vai rolar lá.

Love and crime Onde histórias criam vida. Descubra agora