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O que você faz quando um capítulo termina?
Você fecha o livro e nunca mais o lê novamente?
Para onde você vai quando a sua história acaba?
Você pode ser quem era ou quem você vai se tornar
Steve Aoki & Louis Tomlinson - Just Hold On

☆゚.*・。゚

Depois de duas horas andando, conseguimos chegar a uma cidadezinha, não era nada cheio demais, mas encontramos uma estação de trem.

Eu e Jake nos sentamos em uma das mesas velhas de parque, os dois em silêncio, pensando em como iríamos pagar por duas passagem de trem com apenas vinte dólares.

- Quanto é a passagem? - pergunto com a voz cansada.

- Pelo menos dez dólares, não tenho certeza, até dá pra pagarmos, mas como vamos nos virar depois? Ainda temos três estados pra atravessar - Jake responde.

Encaro o colar de prata que estava no meu pescoço, não é nada bonito demais, mas é prata pura, deve valer alguma coisa.

Abro o fecho do colar e ponho em cima da mesa.

- Se encontrarmos alguém que compre, podemos conseguir pelo menos cinquenta dólares.

Jake olha do colar para mim, e de mim pro colar.

- Está louca? Não vou deixar você vender esse colar só por causa de uma viagem.

- Estarei melhor sem ele, acredite em mim - suspiro - minha mãe mandou ele pra mim quando eu fiz oito anos, ele achou que isso pudesse estabelecer uma ligação mãe e filha, e fazer que eu esquecesse que ela abandonou a gente com dois meses de vida.

Jake olha pra mim fixamente, e eu fujo do seu olhar.

Meus pais eram novos demais quando minha mãe descobriu que estava grávida, ela tinha dezesseis, e meu pai tinha acabado de fazer quinze.

Foi um baita choque quando eles viram que seria de cara dois bebês, a vida virou de cabeça pra baixo.

Quando Jonas e eu nascemos, nossa mãe virou outra pessoa, ela queria sair, ser uma adolescente, e não estar presa a dois bebês.

Pouco tempo depois ele arrumou um cara mais velho, e fugiu com ele, largando tudo pra trás.

Papai ficou arrasado, mas apesar da escola, arrumar um trabalho, ele conseguiu nos criar, uma das minhas lembranças mais antigas é aos quatro anos, a formatura dele.

Um ano depois, ele descobriu que nossa mãe tinha vindo a cidade, ver os pais dela, e não apareceu nem pra dar um oi pra ele e prós filhos, ele ficou irado, ainda mais com nossos avós, os pais dela, por não terem contando isso pra ele.

Me lembro de entrar no carro junto com o Jonas, e foi assim que nós mudamos para uma cidadezinha no interior da Virgínia, bem longe de Washington.

Foi legal morar por lá, as pessoas falavam bastante sobre o fato de um cara de vinte anos ter dois filhos de cinco, era uma cidade pequena e bem antiquada, mas no geral, era bom.

Desde pequeno o Jonas sempre apanhou na escola, os garotos maiores implicavam e o chamavam de "viadinho", eu não podia fazer nada, porque ninguém acreditava.

E foi aos oito anos que a carta chegou, um colar pra mim, e um relógio pro Jonas, que na primeira oportunidade jogou pela janela, eu não tive coragem, uma parte de mim preferiria pensar que aquela mulher que me deu a luz podia ter um pouco de sentimentos.

E um ano depois disso, pegamos um trem pra Danville, nosso pai disse que era pra esperarmos por ele ali, na estação, que ele iria procurar um lugar pra ficarmos.

Não sei quanto tempo ficamos ali, mas fui acordada por um policial, que nós levou ao orfanato.

Vivemos lá por um ano, até que o Noah apareceu, magro e extremamente deprimido, fugimos duas semanas depois.

E quanto ao meu pai, ele sumiu, desapareceu.

- Sinto muito - Jake diz ainda olhando pra mim.

- Está tudo bem, só vai lá e vende esse colar, eu te espero aqui.

Ele se levantou e ficou por quase um minuto me olhando, como se esperasse que eu fosse falar outra coisa, quando ele viu que não tinha jeito, virou as costas e saiu correndo.

...

Havíamos acabado de embarcar quando o relógio marcou uma e quinze da manhã.

Com o solavanco do trem, tudo a minha volta parecia desacelerar, Jake estava sentado do meu lado, e eu sentia seu olhar curioso penetrar minha mente.

- Quer conversar Heather?

Mais uma vez, Heather, e não Lancaster.

- Acho que eu prefiria quando você era um escroto - digo e ele ri.

- Ainda sou um escroto, pode acreditar nisso - ele bocejou - só sei lá, é estranho dizer que estou preocupado com você?

É, demais.

- Não, eu entendo, eu simplesmente joguei uma coisa daquelas em cima da mesa e não dei nenhuma explicação.

- Eu não esperava um explicação, e nem espero, só que aquilo que você disse foi bem pesado.

O tom de voz, "Você solta informações bem pesadas as vezes Heah".

- Eu sei Finn.

Mas não era o Finn, era só o Jake, que agora me olhava mais curioso ainda.

- Desculpa, é que você falou igualzinho a ele.

Ele assente e põe uma mão no meu ombro.

- Olha, eu só quero falar que, quer dizer, droga, por que tem que ser tão difícil? - ele coça a cabeça sem jeito - é só que, sinto muito mesmo pela sua mãe, sinto muito pelo Finn, ele era um cara legal, eu gostava dele.

Sinto meus olhos marejarem, e abraço o Jake, ele parece bem sem jeito no começo, mas acaba me abraçando de volta.

Respiro fundo e começo a falar, sobre tudo, toda a infância, meu pai, o orfanato...

Quando termino de falar percebo que Jake estava fazendo tranças no meu cabelo.

- Minha infância do lado da sua foi perfeita, minha mãe conheceu meu pai na faculdade, ela tinha 27 e ele 21, menos de um mês depois ela já tava grávida - ele sorri - foram bem rápidos, sempre que meu pai me vê ele fala "você é o preço que eu tenho que pagar por não ter deixado o zíper fechado".

- Seu pai parece ser um cara bem legal - digo rindo.

- Ele é mesmo, ele e a minha mãe foram casados por dois anos, se divorciaram, e um tempo depois se casaram de novo - ele boceja - a família dele era bem preconceituosa, e não aceitaram ele ter se casado com alguém de cor, como eles mesmos dizem, meu pai surtou com eles, foi aí que saímos de Nova York e fomos morar em Detroit.

- Não sabia que você era de Nova York.

- A maioria das pessoas não sabe, eu escolho não dizer, vivi mais da metade da minha vida em Detroit, então pra mim eu sou mais de lá.

- Acho que Detroit é bem frio pra um cara como você - digo e outro sorriso passa pelo rosto dele.

- Eu quase não sinto frio, então não faz diferença nem se eu morasse no Polo Norte.

- Pode apostar que eu sinto frio, e muito ainda, pode fechar sua janela por favor?

Ele assente e o vento gelado para.

Di Immortales Onde histórias criam vida. Descubra agora