[15 de Dezembro de 2020 - 18h36 p.m., New York]
Assim que subi pelas escadas da estação do metrô e a rua surgiu na minha vista, fui empurrado por trás por um garoto de gorro colorido. Xinguei alto e o indivíduo, aparentemente muito apressado, apenas gritou um pedido de desculpas. Suspirei e voltei a andar, tentando ignorar a péssima cantoria do coral natalino ali perto e toda a decoração brilhante da cidade. Dezembro é o pior mês do ano.
Além dos feriados de fim de ano serem só mais um pretexto para o capitalismo extorquir todo o dinheiro das pessoas vendendo coisas supérfluas como árvores de natal e purpurina, as ruas ficam sempre superlotadas e isso tira a paz de qualquer ser que apenas queira caminhar tranquilamente sem trombar com um Papai Noel bêbado que está atrasado para chegar até o shopping - acredite, aconteceu ontem.
E, claro, eu não podia esquecer da - falsa - esperança. Famílias que passam o ano inteiro brigadas, se reúnem magicamente no Natal, perdoando todas as mágoas passadas - mas isso só vale até o feriado acabar. Casais passeiam juntinhos com a ilusão de que amores como aquele duram pra sempre, porque oras, estamos no Natal e nossos desejos serão realizados!
Um monte de baboseira, na minha opinião.
Não me entenda mal, eu não sou insensível. É só que... Bem, eu já fui uma dessas pessoas e posso garantir que nada terminou do jeito fofo como todos os contos natalinos pintam. Na verdade, terminou com as mortes da minha mãe e da irmã mais velha.
Mas não vamos entrar em detalhes melancólicos sobre o meu passado que eu claramente superei.
Fui tirado de meus devaneios pelo mesmo garoto de gorro colorido, que esbarrou no meu ombro direito, desta vez andando na direção oposta a minha.
- Ei! - reclamei e percebi que ele havia virado um pote de glitter dourado em mim sem querer. - Purpurina? Sério?
O garoto era mais alto que eu e, quando ergui o rosto para encará-lo, quase perdi o ar. Ele era muito bonito. Alguns cachos louros escapavam pela borda da touca, se destacando com as cores berrantes da mesma.
- Desculpe. Estou com pressa. - ele murmurou com um sorriso e encolheu os ombros. - Feliz Natal!
E, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele saiu correndo, não faço ideia para onde.
Nova York era cheia de pessoas estranhas... Mas do que eu estou falando? Eu moro em Los Angeles, tem lugar no mundo mais estranho que aquele?
Isso nos leva a uma outra questão importante sobre esse fim de ano: fui enxotado de casa pelo meu pai desnaturado.
Não que ele já tivesse se importado com alguém que não fosse ele próprio, mas pelo menos tentava cumprir o papel de pai depois que mamãe e Bianca morreram - e ele falhava miseravelmente todas as vezes. A única pessoa daquela casa que era legal e que fazia de tudo para que minha vida não fosse um pesadelo completo, era Perséfone, minha madrasta.
Veja bem, meu pai nunca se prendeu a pessoas e muito menos a famílias. Ele casou-se com minha mãe na juventude e acho que eles realmente se amavam já que Hades (longa história sobre como esse apelido surgiu) não a largou mesmo quando sua família inteira era contra a união - ou talvez tenha sido por isso que continuou casado, apenas para contrariar sua família de merda. Acontece que depois de alguns anos, quando Bianca era pequena, mamãe descobriu que Hades a estava traindo e foi atrás da mulher, apenas para descobrir que Marie Levesque não fazia ideia de que o cara já tinha família e que estava enganando as duas. Elas viraram amigas e fizeram questão de se separar de meu pai (melhor decisão da vida delas). Marie teve uma filha quase na mesma época que eu nasci: Hazel, minha irmã mais nova. Nenhum de nós três recebeu o nome dele, apenas os genes inconfundíveis. Perséfone surgiu na nossa vida logo depois e se casou com meu pai, embora ela fosse o exato oposto dele e, foi apenas por conta dela, que eu, Bianca e Hazel mantivemos contato com Hades.
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Do you dare?
Fanfiction[au!solangelo] Onde Will Solace ama o Natal, mas esse ano as coisas não estão nada parecidas com o normal de todos os anos. Numa tentativa de distração, ele aceita o conselho de seus amigos para encontrar sua alma gêmea: um caderno com desafios c...