Capítulo 7

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Ian

Uma semana se passou desde que vi Laura pela última vez. A manhã estava fria, o pouco vento que vinha da janela do carro deixava o clima mais tenso. Olhei de relance para mulher sentada ao meu lado, ela estava com a cabeça encostada na janela e os pensamentos vagando. Fazemos esse caminho todas as quartas e ela sempre fica dessa maneira.

- Como você está? - quebrei o silêncio.

- Cansada. Toda semana a mesma coisa, você sabe que não tem jeito querido.

- Mãe, você pode... Só tentar? - meus olhos marejaram ao encarar seu rosto. Nele havia uma expressão séria e compreensiva ao mesmo tempo - Por mim?

Ela apenas concordou e voltou a olhar a paisagem.

A minha relação com a minha mãe nunca foi fácil, D. Amelia era uma mulher difícil de lidar, minhas escolhas tanto profissionais quanto pessoais nunca foram aceitas por ela. Me lembro a forma como ela ficou feliz ao saber sobre meu término com Laura, mesmo vendo claramente que eu estava sofrendo.
Existia barreiras em volta da nossa relação, muros construídos ali por anos. Passei muito tempo considerando meu pai a única família que eu realmente possuía, mas desde então muita coisa mudou.
Agora ela está doente e prestes a morrer. Tivemos dois anos incríveis juntos, dois anos em que ela demonstrou seu papel de mãe, porém agora que tudo estava entrando nos seus devidos lugares ela irá partir.

Ao chegarmos no hospital minha mãe foi para sua respectiva sala e retomou o tratamento. Eram intermináveis sessões de quimioterapia, horas e mais horas esperando para que ela retornasse.
Eu estava distraído no celular quando senti alguém tocar meu braço.

- Tio Ian! - a voz alegre preencheu o corredor.

Notei que se tratava de Alice e meu sorriso logo apareceu. Aquela garotinha se tornou muito especial para mim ao longo desses últimos meses. Nossa amizade nasceu de forma inusitada, com direito a um esbarrão e um terno novo manchado, e cresceu desde então.

- Eu estava morrendo de saudades suas! - abracei a pequena - Como você está hoje?

- Melhor que ontem. - respondeu ela com um sorriso enorme no rosto - Você pode brincar comigo hoje?

- Deixa eu pensar... - coloquei a mão no queixo - É claro que posso!

Seu grito de felicidade ecoou pelo local me fazendo rir. Fomos para a sala de brinquedos que ficava na ala pediátrica, Alice escolheu alguns e pediu para que eu a levasse ao jardim. Sem demoras estávamos no mesmo. Me sentei em um banco ao lado de uma grande árvore e posicionei a cadeira de Alice na minha frente.

- Então, paramos na parte que você se declarava para ela... - disse a menina - Quero saber, o que ela respondeu?

- Verdade, você tem uma memória incrível! - ela riu de meu comentário.- Depois que eu me enfrentei o terrível dragão e me declarei para a princesa Laura... - dei uma pausa dramática para a história ficar mais convincente. Alice tinha os olhos vidrados e eufóricos na história - Ela disse que também estava perdidamente apaixonada por mim.

- EU SABIA! - exclamou ela em felicidade - Vocês são perfeitos um para o outro.

- Concordo. - respondi mais para mim mesmo do que para ela.

- Então vocês se casaram? Tiveram filhos? Me conta como foi aquele negócio que as pessoas chamam... Lua de mel.

- Olha a história está ficando muito longa. Fica para uma próxima. - tentei ignorar a sua última pergunta e vi ela fazer um biquinho triste.

Mas, seu sorriso apareceu assim que ela olhou em direção ao meu ombro. Segui seu olhar e me virei percebendo Laura bem atrás de nós.

- Moça bonita! - comentou Alice - Você não está mais triste, está até sorrindo.

Como eu era antes de você - 2°TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora