Round 14

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Sabe a motivação que você encontra para fazer o que mais ama com total esforço e determinação? Não digo trabalho. — Ao menos que ele seja o fator a tua paixão. — Mas falo da ação no dia. — Ou que só pode ser feita algumas vezes na semana. — Em que você dá mais do que poderia de si. A escrita que não é profissional, mas tem que ser impecável. Os passos de dança amadores, mas que são puníveis caso percam o compasso.

A ação, ou arte, que somos capazes de executar sem o mínimo de retribuição. Desde dançar forró num sábado recompensador sobre a semana exaustiva. Ou o professor com prazer de ser questionado pelo filho após revisar uma pilha de provas que exauriram o dever pela pedagogia, mas não a paixão por ela. Até brincar de pique esconde com o irmão mais novo. Pensando no possível para encontrar os melhores lugares. — Ainda sim fáceis. — Para ele te procurar.

Todas essas ações são bobas na mesma intensidade que legítimas. Elas não mereciam teu sangue, suor e esforço. Justo por não merecerem, é que se tornam tão prazerosas. O que você daria o sangue sem tomar nada em troca.

Pela segunda vez. A dica de tentar encurralar El Jubilado dava resultados. Os socos ainda paravam na defesa dele, mas evitar tomar outro golpe era o suficiente. Meus braços estavam pesados, porém, perder o ritmo do round ia ser como um pedido a derrota. O olhar do Jubilado por trás da guarda ainda era atormentador. Nele carregava o golpe da vitória.

Fui além do que poderia, ou deveria. Aproximei nossos corpos e comecei a abrir o caminho para facilitar a luta. Desci os punhos, e executei uma série de golpes na costela dele. Cada vez que a luva defrontava os ossos um som abafado e seco soava ao público.

Socos como estes, no corpo, fazem alguns lutadores fraquejarem com o passar do tempo. Mas alguns lutadores mais fortes, como El Jubilado, só sentem o golpe de fato, se forem ao rosto.

O braço esquerdo dele abaixou de novo. A faceta do veterano ficou exposta uma segunda vez. Era a oportunidade. Na última sequência na costela levantei o braço esquerdo num gancho em direção ao queixo dele.

Ele esboçou o maldito sorriso.

Havia outra vez caído na armadilha? Tudo levou a crer que sim. Tão perto de encaixar meu gancho.

Ele contragolpeou. Um cruzado de direita que pegou tanto no braço quanto no osso do rosto. A defesa me salvou de outra queda, mas fui jogado. — Desequilibrado. — Para as cordas do outro canto do ringue.

Ele é invencível?

— Você o pegou, garoto! — O soluçou completou a euforia.

O peguei? Como?

Levei a atenção ao veterano. O que vi reviveu a chama em meus olhos. As pernas dele tremulavam. Isso só podia significar que o gancho encaixou, e ele teve danos por causa disso. — Um gancho bem-dado pode destruir qualquer boxeador.

Precisava continuar. Ignorei a dor e o bambeio dos joelhos. Avancei numa quase corrida, e próximo de El Jubilado, continuei os golpes. Jab. Direto. E um cruzado de esquerda. Permaneci assim. Tinha que forçar o caminho a base da brutalidade.

O veterano revidava com cruzados na costela ou golpes no meu lado direito. — Quem por miséria de vida ia querer uma magia de socos certeiros? Para meu azar. Era forte no boxe, e doía. — Fingia que não doía, tão pouco me importava. O real é que as pancadas retiravam o controle de meu corpo. Como se estivesse a ponto de cair duro no chão.

Ele aplicou-me outro soco na costela. Tive de tomar a oportunidade. Num berro de desespero encaixei o cruzado de esquerda na bochecha dele, e me afastei.

Jubilado sentiu o golpe. Contudo, o dano que tomou era inferior ao que havia causado. Olhamo-nos. Num mútuo de respeito e desejo para nos recuperarmos.

— Ya descubierto o motivo de estar de pé no ringue, ninõ? — Ele baforava. Distinto de estar exaurido. Parecia animado com o combate. Em particular, eu preferia que estivesse exaurido.

— Um X-Tudo Ultra Oriental Kung-Fu com cheddar! — Despejei meu grito.

Voltamos a ficar próximos. Ele encaixou dois socos. Um, na minha barriga, e outro na bochecha. Correspondi com dois cruzados de esquerda no queixo. Isso o fez se afastar, mas não permiti. Reencontrei nossos corpos e continuamos a nos golpear. A força dele me fazia soltar o resto de ar que acumulei. Mas consegui ler os socos que vinham na altura do rosto.

De fato.

Ele é um veterano.

Mas também havia algo de ruim nisto.

Ele é um veterano.

Jubilado demorava mais para se recuperar. Mesmo com poucos golpes efetivos. Por um instante sorri aliviado. Só que El Jubilado me encarou furioso. Creio que a atitude não foi das mais prazerosas para ele ver. Isso o fez vir para cima de mim com voracidade.

No meio do ringue, os socos pareciam mais aterrorizantes. Consegui proteger o rosto, mas os que batiam no abdômen pareciam me matar aos poucos. Ele encaixou uma boa sequência, três socos na boca do meu estômago. Minha defesa se abriu, e recebi um gancho na ponta do queixo. Tão bruto, que pode se ouvir o barulho do osso socado.

Ajoelhado, pela terceira vez, fui ao chão. São poucos os boxeadores que aguentam se erguer na segunda vez, quem dirá de a terceira.

— No me lleves a mal, ninõ. Se for realmente apenas dinheiro o motivo de estar lutando, no puedo dejarte ganhar.

Como um deus que retornava ao trono. Ele me deixou parado de joelhos. No desejo que algum milagre me salvasse. Os segundos avançavam, e nada do corpo responder. Ali era o fim.

O Nocaute do X-TudoOnde histórias criam vida. Descubra agora