Ponto de partida

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O suor escorria por seu corpo a medida que seus passos se tornavam ainda mais ágeis. O mar demonstrava sua fúria ao amanhecer, os ventos gélidos das cinco da manhã tornavam o clima frio e o atraso do nascer do sol, fazia com que o que a paisagem a sua frente ainda estivesse nublada.



Nos fones de ouvido, tocava a sua preferida de Charles Brandley, a música The World (Is Going Up In Flames). Conforme a melodia soul tocava, ele corria. Já estava ultrapassando seus quarenta minutos de exercícios matinais, mas também estava próximo de bater sua meta diária de oito quilômetros percorridos.



Ao sentir seu relógio vibrar, olhou para o mesmo sem deixar de correr e percebeu que já eram quase 5h48 da manhã. Era hora de retornar para casa e assim ele o fez. Ao chegar na entrada do condomínio em que morava, cumprimentou o porteiro que estava acompanhado de um dos seguranças, trocou um rápido diálogo sobre o clima na capital carioca e caminhou em direção a sua casa.



Ao chegar, parou em frente a mesma e observou a própria residência. Uma casa de dois andares, relativamente grande, mas não o suficiente para ser chamada de mansão. Era do tamanha ideal para ele, que abrigava apenas sua filha, sua governanta e o motorista. A casa tinha um aspecto industrial e minimalista, com portas amarronzadas e paredes cor de creme.



Ele analisou mais alguns segundos a fachada de sua residência, pensou em algumas reformas, pois não conseguia ficar parado quando o assunto era renovação. Queria sempre que sua casa fosse a mais bela de seu estilo, pois como arquiteto, ele precisava ser referência no assunto. Não tinha essa de "casa de ferreiro, espeto de pau".



Após mais alguns minutos de reflexão sobre o que poderia mudar, ele retirou os fones, enrolou e os guardou no bolso. Caminhou para dentro de sua residência, subiu as escadas já retirando a camisa e a lançando dentro do cesto de roupas sujas que havia em seu banheiro. Deteve uma parte de seu tempo a procurar defeitos em seu corpo, achou vários, mas se auto tranquilizou com o fato de que ele estava envelhecendo e aquilo era comum. Chegar aos quarenta e três anos daquela forma, ainda sim, era uma vitória.



Ligou o chuveiro, esperou a água amornar e por fim adentrou o box, permitindo-se relaxar com o líquido que caia sobre seu corpo. Após o banho, ele enrolou a toalha na cintura, caminhou até o closet, observou aquelas inúmeras peças pretas, cinzas e brancas, optou por uma camisa preta, calças cor de creme e um sapato esporte fino preto.



Cronometrando seus passos, ele passou seu creme de barba, vestiu-se, arrumou os cabelos, pegou sua bolsa transversal amarronzada e desceu as escadas exatamente as 6h30. Ao chegar na cozinha, encaixou seu celular no MP3 que havia ali e selecionou sua playlist de blues e como em um perfeito ritual, largou a bolsa no balcão e foi até a cafeteira que ficava em cima do mesmo.



Colocou um novo filtro, duas colheres de café solúvel em 200ml de água, ligou o objeto e saiu em busca de sua xícara preta no armário, pegou a mesma e recostou-se no balcão à espera do término do feitio da bebida quente.

Após cinco minutos, lá estava ele servindo-se uma generosa quantidade de café e sentando-se na baqueta que havia próximo do balcão.



Sistematicamente, abriu o jornal que já estava por ali, graças a governanta da casa que acordava às seis da manhã para comprar pães e o noticiário em papel para o patrão. O homem bebericava o líquido quente ao passo que se atualizava das notícias referentes ao país e a sua cidade.



— Eu lhe disse ontem. - a governanta adentrou a cozinha já falando. — A política brasileira está de mal a pior e não há esperança de melhoras. - colocou algumas sacolas de compras sobre a pia.



Amor a segunda vistaOnde histórias criam vida. Descubra agora