Capítulo 11

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Sexta-feira

- Bom dia - abro meus olhos e a primeira coisa, ou melhor, alguém, que vejo é Thomas me encarando.

- Bom dia - sorrio e digo.

- Dormiu bem?

- Sua cama é bem confortável.

- Se quiser, pode dormir nela mais vezes - ele abre mais o seu sorriso sacana. E eu retiro o meu - que foi?

- Thomas... - agora ou nunca - eu...

O despertador toca.

- Quantas horas!?

- Umas... seis e cinquenta... por aí.

- Thomas, eu tô atrasada! - me levanto rapidamente, pego minhas roupas e me troco no banheiro.

- Você não vai nem tomar café?

- Eu como alguma coisa no caminho - eu já estava acostumada ir pra escola com fome mesmo...

- Eu te levo. Te faço companhia.

- Então se arrume já!

Lavo meu rosto e visto a mesma roupa de ontem...

Que droga! A mesma roupa de ontem?

Saio do banheiro e quase levo um susto, Thomas estava apenas de cueca. Meu instinto foi virar rapidamente e esperar ele vestir-se completamente.

- Pode olhar. Não tenho vergonha de mostrar os meus músculos - eu reviro os olhos, mesmo ele não podendo ver.

- Acabou?

- Já. Pode virar - eu faço e o vejo já vestido. Uma roupa básica. Uma camiseta lisa cinza, calça jeans e um tênis casual branco.

Que rápido.

- Vamos? - passo pela sua porta apressada. Nem arrumo meu cabelo, apenas passo a mão meio desajeitada.

- Bom dia - Alicia me diz quando vê eu descendo as escadas. Sua expressão está BEM melhor do que a de ontem.

Espero ela não pensar coisas erradas ao meu respeito depois de ontem.

- Bom dia sr e sra Satis - vejo o pai de Thomas ao lado dela também.

- Bom dia Vitória - ele me dá um sorriso simpático.

- Oi mãe, oi pai - chega Thomas atrás de mim - tchau mãe, tchau pai.

- Vocês não vão comer nada?

- Ela está atrasada, deixa pra próxima - Thomas me puxa pela cintura.

- Tchau - digo pra eles antes de sair.

No colégio

- Você não vai comer nada? - Thomas diz ao pararmos no portão do colégio. Que bom que ele não mora tão longe da escola. Em cinco minutos, já havíamos chegado.

- Eu tô bem. Eu como mais tarde - sorrio, mas ele continua com a expressão séria.

- Eu não acredito. Come pelo menos uma barra de cereal - ele coloca uma em minha mão.

- Valeu - dou-lhe um selinho - mais tarde nos falamos. Eu preciso te dizer uma coisa.

- Ok, eu te espero aqui depois das aulas então - sorrio.

- Tchau - eu já ia correr pra aula quando ele me segura e me puxa para um outro beijo.

- Tchau - sorrio e corro. Dessa vez, sem que ele me segurasse.

Como a barrinha que ele me deu e corro para a sala de física.

- Atrasada - a professora Lucimar me repreende.

- Desculpa, não irá se repetir – abaixo a cabeça e me sento na carteira mais distante dos outros e na frente de Miranda. Escuto os cochichos sobre mim e está pior do que ontem, mas tento respirar fundo e manter o foco.

- O que houve? Você está péssima! - Miranda diz o óbvio. Agora, sem a maquiagem, minhas olheiras saltam pra fora e minhas espinhas se destacam. Além do meu cabelo não estar penteado e eu ainda estar com a mesma roupa de ontem.

- Longa história...

- Sem conversas paralelas - Lucimar olha diretamente pra mim.

- Licença - a diretora Roberta aparece na porta - eu preciso falar com Vitória França.

- A vontade - Lucimar sorri e faz sinal para eu ir com a diretora.

Meu coração dispara. Ela não dava nenhuma pista em sua expressão para eu saber se era coisa boa ou ruim, mas algo, em meu interior, dizia que era péssimo.

- Seu pai está muito preocupado com você - droga!

Eu silenciei meu celular e esqueci completamente dele. E se antes meu coração estava as mil, agora tá aos milhões.

Será que ele vai segurar seu ataque, ou vai me matar ali mesmo na frente da diretora?

- Senhor França? - ela abre a porta e a primeira coisa que vejo é meu pai sentado de costas pra nós.

- Vitória... - ele se vira e sua frase morre. Primeiro veio o susto mudo, mas depois, misturou milhares de outras emoções. Espanto, tristeza, decepção... Porém eu podia jurar que ele havia dado um mini sorriso de lado. Por míseros segundos, mas deu - Vitória, você me deixou muito preocupado. Onde dormiu essa noite? - seu tom de voz estava neutro.

- E-eu dormi na casa do... - parei ao pensar em uma hipótese que me assustou bastante. Se eu contar a verdade, ele pode querer tirar satisfação com os pais de Thomas. E se ele está encrencado agora, imagina se isso acontecer? Não posso ser egoísta a esse ponto.

- Eu vou deixar vocês a sos - a diretora diz logo antes de sair.

- Vitória! Que roupa é essa? Sua cara está um horror. Por que faltou ontem na sessão de fotos!?- ele agarra meu braço e dispara a perguntar. Era essa a expressão que eu esperava dele, raiva. Tudo que eu via em seus olhos era a raiva.

- Pai. Aquela não era eu de verdade. Essa sou eu. Não estou pedindo pra você gostar, mas sim aceitar. Aceitar que eu sou assim! Eu fazia tudo pra te agradar. Mas não dá mais! Eu estava infeliz. E ainda estou, por saber que você não me ama - minhas lágrimas escorrem pelas minhas maçãs do rosto. Tento segurá-las, mas é impossível. Sinto minha garganta se fechar. Sinto dor por todo o meu corpo.

- Filha - ele suaviza o tom e me abraça. Um ato que eu nunca pensei que ele fosse capaz de fazer - em casa conversamos - ele me solta e sai porta a fora.

Eu aproveito a deixa para correr. Correr para o banheiro e poder lavar meu rosto. Eu sempre achei que odiava meu pai. Mas depois de hoje, vejo que não o odeio, eu sinto falta dele, sinto falta do meu pai.

Suas atitudes me machucam, mas... Se eu buscar em minha mente, bem lá no fundo, posso lembrar de uma época em que ele era carinhoso...

Será que ele um dia vai me aceitar como sou?

Esbarro em alguém.

Será que temos algum imã?

- Você tá bem? - Fábio me olha com uma expressão preocupada.

- Não! - falo a verdade, mas não fico para ouvi-lo dizer alguma coisa, volto a correr.

Ao chegar ao toalete, solto todas as lágrimas que eu ainda tinha. Estava decidida, não tenho condições de voltar pra aula. Não agora e nem na próxima. 

A Descoberta De Quem SouOnde histórias criam vida. Descubra agora