Capítulo 34

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- Imaginei que estaria aqui - escuto uma voz. De início, pensei ser Malala. Porém, me surpreendo ao ver Melinda Solis.

- C-como? - saio da posição deitada de barriga pra cima, em que eu estava, para ficar de pernas cruzadas, virada para aquela mulher.

- Fábio me contou tudo o que aconteceu.

- Por favor. Me explica tudo - agora estou mais calma. Agora estou mais preparada para a verdade completa.

Não senti aquele desespero para abraçá-la como vemos no filme. Não senti aquele amor materno. Senti como se meu coração estivesse partido, me impossibilitando de sentir qualquer emoção.

- Mas antes, posso te abraçar...? - uma lágrima escorre por seu rosto. Eu apenas assinto e ela me aperta. Sinto mais lágrimas suas caírem pelo meu ombro. Porém, continuo sem reação, neutra diante da situação. Não sinto absolutamente nada.

- Me conte - a afasto grosseiramente. 

- Esse jardim era o meu recanto - ela continua me enrolando - pensei estar abandonado quando ele me afastou.

- Estava. Mas eu o cuidei - ela sorriu e uma pontinha de emoção se acendeu em mim - diga o que quero saber - mas eu ignoro.

- Nós formamos. Ele em administração e eu...

- Em artes plásticas - a corto - quero o que eu não sei.

- Ele disse que iríamos ficar juntos. Todavia... As críticas da sociedade aumentavam. E o seu nome estava em jogo.

- No pensamento dele, você não teria um futuro. Acertei? - digo indiferente.

- Quando resolveu me afastar, eu já estava grávida. Disse que me ajudaria. Não queria. Mas... Ou era isso, ou era rua.

- Por que me abandonou?

- Ele sentiu afeto. Então, concordei que... Cada um ficaria com uma bebê.

- Por que não pediu guarda compartilhada ou sei lá!? - sobressalto minha voz.

- Reputação.

- E Malala, onde ela se encaixa nisso tudo?

- Novamente. Reputação. Não seria bem visto como um pai solteiro. Então, pediu pra ela. Pediu que fosse sua mãe. Pois, ele sabia que ela era apaixonada por ele e que não podia ter filhos.

- Daria um ótimo livro - digo irônica e ela ri.

- Quando vi que, o que eu tinha feito era loucura. Ele me disse que você tinha morrido - outras lágrimas caíram, agora, de nós duas.

- Mãe... - digo quase em um sussurro. Minhas emoções bateram com força total em mim.

- Minha filha... - ela, como eu, não segura e nem tenta disfarçar o choro. Nos abraçamos. 

Ficamos assim, abraçadas, por um tempo. Depois, nos deitamos na grama e começamos a conversar tudo o que nunca falamos uma para outra. Demos altas gargalhadas. Até o sol se pôr e precisarmos voltar.

- Dorme comigo? - digo ao chegarmos na porta de casa. Não podia perdê-la. Todo o meu comportamento frio de início, era medo. Eu estava com medo dela não me querer mais. Porém, agora, minhas emoções estavam vivas, fortes - por favor?

- Se seu pai deixar - eu havia esquecido completamente dele - eu volto. Não vou deixar você se afastar. Nunca mais - ela sorri triste e eu a abraço. Ficamos um tempo assim, agarradas, uma não querendo se afastar da outra, tentando adiar o inevitável, tentando, de alguma forma, nunca nos afastarmos. 

A Descoberta De Quem SouOnde histórias criam vida. Descubra agora