Daniel Fun Dara não estava atrás de presas fáceis nem queria perder tempo a brincar com jovens caçadores. Para evitar distrações no seu caminho, decidiu que a melhor estratégia seria atacar o elo mais fraco. Heiryn seria a sua vítima, ou melhor, a sua marioneta. Se conseguisse assustá-la o suficiente para que fugisse desesperada, desviaria a atenção dos caçadores. E, assim, aconteceu. Heiryn, apanhada numa teia de medo e dúvidas, acreditou que os caçadores a queriam matar. Sem lhes conhecer bem as intenções, optou por correr em busca da sua própria salvação.
O medo corroía-lhe o coração enquanto ouvia os gritos da jovem caçadora atrás de si, mas não ousou parar. A adrenalina que pulsava nas suas veias impedia-a de pensar com clareza, e cada sombra na floresta parecia um predador à espreita. Rapidamente percebeu que estava perdida, cada árvore, cada arbusto pareciam idênticos. Quando avistou uma grande árvore à frente, decidiu que seria o seu refúgio temporário, mas não se apercebeu da armadilha que a esperava.
Num instante, sentiu o chão desaparecer debaixo dos seus pés. Agora, pendurada de cabeça para baixo, Heiryn não teve outra opção senão gritar por ajuda, sentindo-se mais vulnerável do que nunca.
— Como pode ser tão estúpida? — A voz cortante de Gabriela ecoou pela floresta quando a jovem caçadora se aproximou, guardando a espada. — Como é que pudeste acreditar num vampiro?
— Ele salvou-me a vida... Se não tivesse segurado aquela flecha... — A voz de Heiryn estava embargada pela vergonha e pelo medo, enquanto o sangue lhe acumulava na cabeça.
— Ele salvou a própria vida, manipular-te foi só um bónus. Como é que podes ser tão ingénua? — Gabriela estava furiosa. Toda a sua experiência como caçadora tinha sido posta à prova, e não gostava nada do resultado.
— Desculpa... — murmurou, finalmente compreendendo que tinha sido usada como uma simples peça num jogo perigoso. — Podes tirar-me daqui, por favor?
Gabriela suspirou, ainda cheia de raiva, mas cedeu.
— Só preciso de desatar este laço... — Respondeu com frustração evidente, enquanto se inclinava para soltar Heiryn. No entanto, a pressa em resolver a situação e a tensão do momento cegaram-na para o perigo iminente. Antes que pudesse perceber, outro mecanismo foi acionado, e agora ambas estavam presas, penduradas de cabeça para baixo na grande árvore.
— Maldição, este lugar está cheio de armadilhas!
— Porque é que os caçadores armam tantas armadilhas? — perguntou Heiryn, o desconforto a crescer com cada segundo passado naquela posição.
— Já começo a pensar que estas armadilhas não foram postas por caçadores... — O tom de Gabriela era grave, o olhar fixo na floresta circundante, como se esperasse que algo ou alguém se revelasse a qualquer momento.
— Então quem mais seria? — Heiryn tentou desesperadamente manter-se consciente, enquanto sentia a cabeça a latejar. Estar pendurada de cabeça para baixo estava a começar a ser demais para o seu corpo exausto. — Sinto-me mal... Acho melhor gritarmos.
— Ficou maluca? — Gabriela respondeu com dureza, virando o olhar furioso para Heiryn. — Gritar aqui é convidar criaturas para nos devorarem. E sim, criaturas: vampiros, lobos, lobisomens, trolls, ogres... sabe-se lá o que mais pode estar à espreita.
Engoliu em seco, calando-se instantaneamente. Mas o seu silêncio não mudou o fato de que uma dessas criaturas já estava a ouvi-las, silenciosa e letal.
— Não me sinto bem... — repetiu com a voz agora um sussurro fraco. A pressão na cabeça e a falta de comida começavam a levá-la ao limite.
— Em tão pouco tempo? Aguenta-te! Estamos aqui por tua causa, lembra-te disso. — Gabriela tentava manter a calma, mas estava claro que a situação a estava a afetar. A incerteza do que podia acontecer deixava-a tensa, e Heiryn estava a começar a perceber que a jovem caçadora não estava habituada a falhar.
De repente, Gabriela avistou uma figura familiar a aproximar-se. O coração deu-lhe um salto de alívio.
— Gabriel! — exclamou, vendo o irmão a correr em sua direção. Mas o alívio foi curto. Gabriel, ao ver a irmã naquela posição, vulnerável e presa numa armadilha, não conseguiu esconder a sua frustração.
— Estás bem? — perguntou Gabriel, a voz carregada de preocupação, mas também de irritação.
— Sim... mas cuidado, está cheio de armadilhas por aqui. — Gabriela advertiu-o rapidamente.
Gabriel dirigiu um olhar cortante a Heiryn, o desagrado claro no seu rosto.
— Muito obrigada, senhorita, por nos ter colocado nesta situação. Realmente, ajudaste muito aquele vampiro a escapar.
— Eu... Desculpe... — Heiryn estava arrasada. Sabia que a culpa era sua, mas a intensidade da situação estava a esmagá-la. A fome, o cansaço, a culpa, tudo se acumulava dentro de si.
— A nossa prioridade é salvar pessoas, não deixá-las morrer. Devias ter isso em mente. — Gabriel falava enquanto tentava soltar a irmã, os movimentos rápidos e precisos. Mas antes que pudesse libertá-la completamente, um novo horror emergiu das sombras.
Um canibal, o rosto pintado de cores escuras, surgiu de entre as árvores, aproximando-se rapidamente. Heiryn, em pânico, começou a gritar, incapaz de controlar o medo que a dominava. Nunca tinha visto uma criatura como aquela, e o terror apossou-se dela como uma sombra.
O canibal atacou Gabriel pelas costas, enfiando-lhe um punhal no ombro direito. Gabriel caiu, batendo com a cabeça contra o tronco da árvore, ficando inconsciente.
Gabriela e Heiryn entraram em pânico, os gritos delas ecoando pela floresta como um apelo desesperado. A criatura voltou-se então para elas, os olhos brilhando com uma fome selvagem.
Heiryn pensou que aquele seria o seu fim. Estava indefesa, presa, sem qualquer chance de escapar. A morte parecia inevitável. Mas, num piscar de olhos, algo se moveu com uma velocidade impressionante na direção do canibal.
O vampiro, Daniel Fun Dara, surgiu como uma sombra mortal, cortando o ar com uma precisão letal. Numa fração de segundo, decepou a cabeça do canibal com a mão, deixando o corpo inerte cair ao chão.
Heiryn mal conseguiu compreender o que tinha acabado de acontecer. Num momento, a criatura estava prestes a matá-las; no seguinte, a cabeça do canibal rolava pelo chão, separada do corpo.
— Sou Daniel Fun Dara, o vosso salvador — declarou o vampiro com um sorriso enigmático, os olhos brilhando com uma satisfação gélida.
Gabriela e Heiryn ficaram em silêncio, os corações ainda a bater descontroladamente, incapazes de decidir se deviam sentir-se gratas ou temer ainda mais o homem à sua frente.
Daniel, com uma facilidade desarmante, soltou Gabriela da armadilha. A jovem caçadora correu imediatamente para o lado do irmão, tentando acordá-lo, mas sem sucesso.
— Não acorda... — murmurou Gabriela, o pânico a crescer novamente. O olhar dela desceu até ao punhal cravado no ombro de Gabriel, e o horror apoderou-se do seu rosto ao perceber que a lâmina estava envenenada.
Daniel olhou para ela, um misto de curiosidade e diversão nos olhos.
— Parece que o vosso problema está longe de terminar, senhoritas. Mas não se preocupem... ainda estou aqui para vos proteger.
Fim do capitulo 😍
Espero que tenham gostado.
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Hidryss Isto não é um conto de Fadas
Historia CortaTodos querem viver na Grande Cidade de Hidryss, suas ações definiram seus caminhos e os seus olhos negarão seus destinos. Não basta ter razão, mas sim, saber tê-la. Heiryn sempre sonhou em um dia viver na Grande cidade e se casar com um conde, ser...