𝟎𝟏. Walk This Way

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Cidade de Yanji, China10 de abril de 2019

Imensos norte-coreano arriscam as suas vidas para deixar a Coreia do Norte.

A Coreia do Sul é um refúgio seguro, mas a estreita fronteira com a Coreia do Norte é fortemente militarizada e repleta de minas, o que se torna quase impossível uma fuga por lá.

Por isso, muitos desertores seguem para o norte e tentam entrar na China, mas na China, quem foge da Coreia do Norte é considerado "imigrante ilegal" e enviado de volta, se descoberto pelas autoridades. Uma vez de volta ao país natal, os desertores são submetidos a tortura e interrogatórios em punição por "traírem a pátria".

Sair da China é perigoso para qualquer pessoa que tenha fugido da Coreia do Norte. A maioria quer chegar a um terceiro país ou a uma embaixada sul-coreana, onde recebem asilo e passagens para a Coreia do Sul. Contudo, viajar pela China sem algum documento de identidade é perigoso.

A grande maioria dos desertores são mulheres. Porém sem se conseguirem legalizar na China, são particularmente vulneráveis à exploração. Algumas são vendidas como esposas, frequentemente em áreas rurais. Outras são forçadas a se prostituir ou a entrar na indústria de sexo via webcam ao vivo.

– Adaptado da BBC

Nara respirava fundo. Os seus batimentos cardíacos estavam completamente desregulados e ela sabia que, a qualquer momento, tudo poderia dar errado. A cada segundo que passava, a ansiedade tornava-se mais intensa. Verificava repetidamente o conteúdo da sua pequena mochila, quase de forma obsessiva. Sabia que qualquer erro, qualquer excesso, poderia significar o fim da sua tentativa de liberdade. Um passo em falso e poderia ter de fugir dos guardas fronteiriços ou da polícia chinesa, e para isso, não podia carregar qualquer objeto ou mesmo o excesso destes que fosse comprometê-la.

A travessia do Rio Tumen tinha sido um sucesso, mas as suas mãos ainda tremiam ligeiramente ao recordar o som gélido da água e a escuridão que a rodeava. Agora, já em solo chinês, sentia-se um tanto aliviada quanto vulnerável. Os guardas fronteiriços tinham-lhe dito que alguém viria buscá-la e era nessa esperança que se agarrava. As palavras deles ainda ecoavam na sua mente: "Uma mulher virá. Não temas." Era uma mulher com cerca de 50 anos que, segundo os rumores, ajudava mulheres norte-coreanas a evitar o destino cruel de serem vendidas a homens chineses nas áreas rurais. Aquela mulher representava esperança num futuro incerto, mas talvez um pouco menos ameaçador.

Nara decidiu sentar-se debaixo de uma árvore, tentando ao máximo não chamar a atenção. Cada movimento, cada som ao redor, parecia estar carregado de perigos ocultos. O medo constante de ser descoberta fazia-a sentir-se como uma presa cercada por predadores invisíveis. Foi então que viu uma senhora a aproximar-se. Tentou decifrar os traços daquela mulher, tentando adivinhar se seria ela a sua salvadora ou apenas mais um desafio no caminho.

     — Nara, certo? – a voz da mulher soou com um sotaque norte-coreano inconfundível e Nara assentiu silenciosamente, sentindo um misto de alívio e desconfiança. – O meu nome é Liu Tao e sou eu quem te vai ajudar nesta missão de fuga da Coreia do Norte.

As palavras de Liu Tao foram como um conforto para o espírito inquieto de Nara. Contudo, a jovem sabia que aquele era apenas o início de uma longa jornada. Levantou-se com a ajuda de Liu Tao e as duas começaram a caminhar lado a lado. O silêncio entre elas era pesado, quase palpável. Tao avisou-a que durante o caminho até ao abrigo, ela não deveria pronunciar uma única palavra, pois a menor distração poderia atrair a atenção dos policiais de Yanji, que não hesitariam em enviá-la de volta para o seu país. A tensão era quase insuportável, cada passo dado parecia ecoar na sua mente como um tambor que anunciava a proximidade do perigo.

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