1.0 - Sonho e ilusão

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 A movimentada calçada, repleta de turistas devido à época do ano em que estavam, atraía repetidamente o olhar de Yujin. A jovem de dezenove anos estava mais distraída que o normal, e seu amigo percebeu isso, pois das vezes que a chamou, ela não deu indício algum de que havia escutado.

- SEO YUJIN!

 Finalmente, a garota olhou para o rapaz de cabelo preto cuja franja partida ao meio cobria o início de suas sobrancelhas. Não entendeu o motivo do grito que a assustou tanto quanto a quem estava ao redor, tendo todos que estavam na cafeteria olhando para a dupla de amigos com problema momentâneo de comunicação.

- O que deu em você?! Por que tá no mundo da lua há mais de meia hora?! - cruzou os braços, demonstrando sua chateação com o alheamento da amiga.

 Hesitante, tenta encontrar alguma pista no rosto fofo irritado de que não era com ela com que o jovem se referia. Devia estar mesmo desatenta. Por qual razão além da apresentada ele gritaria seu nome? Por que aquilo estava lhe prendendo tanto em seus pensamentos?

-É, você. Não se faça de sonsa. - descruza os braços e pega a larga xícara de cerâmica em tom salmão, levando-a até os lábios e verificando pelo calor se ainda estava muito quente para se beber - Se pelo menos for por causa de um gostos...

- Tá bom! - tenta cortar a fala do garoto que sorria por já esperar essa reação - Me desculpa, Jimin. - suspira sentindo as várias coisas que lhe atormentam no momento - É que eu tive um sonho muito estranho...

 O estudante de dança analisa a apreensão da amiga. Yujin costuma ser medrosa, principalmente quando se trata de contato com pessoas, ainda mais com o sexo oposto. Ser seu amigo há mais de dez anos é uma bênção, e às vezes uma penitência, afinal, se sente honrado por ter sua amizade, mas vê-la tão distante de todos é de partir o coração.

- É? E o que foi? Você finalmente conseguia falar com um cara? - brinca, pois mesmo sabendo que a trava que ela possui em interagir com os outros é um ponto de desapontamento para ambos, nunca se cansa de ver a carinha envergonhada dela quando toca nesse assunto.

 Suspirando alto, a garota que sonha em se formar em literatura fixa o olhar no anel prata que usa diariamente. Ela o tinha desde criança e nunca deixou de achá-lo a joia mais linda. Encontrá-lo perdido em frente a sua casa da infância parecia ter sido o destino. A forma com que os traços desenham um par de asas a deixam hipnotizada.

- Um anjo dizia que eu tinha que morrer... - ainda que a frase proferida seja tenebrosa, sente-se mais tranquila após focar no pequeno objeto.

- Credo. - recua na cadeira, achando estranho o relato da amiga - Se os sonhos forem realmente uma forma do subconsciente se manifestar, eu diria que você acha que não é amada pelos que estão a sua volta.

- Não é só isso. - seu receio fica transparente para Jimin - Eu estava com medo, ele tinha um ar sombrio... - muda o foco ao se lembrar da expressão embaçada que viu - Mas ao mesmo tempo era muito bonito - sentindo o coração acelerar um pouco, suas bochechas coram pela memória - do tipo que você olha e já se apaixona.

- Apaixonar? - sorriu maldoso, pronto para alfinetar a tímida garota à sua frente, e ela volta a atenção para o rosto do estudante de dança - Yujin, não seria tesão, não?

 Yujin enrubesce mais e desvia o olhar novamente, incapaz de fitar o amigo que ria de si. Ela cruza os braços, defensiva por causa da zoação. Esses assuntos são complicados, íntimos e ainda vergonhosos para a garota. Sem nenhuma experiência amorosa, fugiu e espantou, até o atual momento, qualquer tipo de relacionamento, seja romântico ou até mesmo de amizade.

- Você é muito santinha - pôs o queixo sobre a palma da mão, analisando o rosto envergonhado da jovem - talvez seja por isso que esse anjo tenha aparecido pra você.

O anjo da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora