2.2 - Dos males, o menor

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 A música de fundo para a dupla é o som do sábado na cidade à noite. As barraquinhas de comida por que passavam, as buzinas de motoristas estressados, a melodia que saía das portas abertas dos bares, as conversas misturadas entre os que apreciavam o céu sem nuvens. O jeito extrovertido de Taehyung foi esquecido pelo mesmo durante a caminhada até a parada de ônibus. O rapaz de cabelo escuro arrumado acatou a condição da estudante que acompanhava, permanecendo em silêncio durante o trajeto e mantendo uma distância que julgava ser adequada à requisição da garota.

 Já Yujin, remoía seguidamente o acontecimento em que um surto de coragem lhe atingiu, ficando sem se reconhecer por alguns segundos. A andança com o jovem insistente que conheceu há uma semana é como o cantinho do castigo para ela: onde você fica para repensar suas más ações.

 Depois da aceitação por parte de Taehyung, a bibliotecária inicia a sequência de questionamentos a si mesma. Quais são os motivos para essa súbita mudança de atitude, esse medo de pessoas, essa insegurança no quesito de relacionamentos, esse sonho cujo antagonista é idêntico ao rapaz que caminha ao seu lado. Perguntas que se repetem sem parar um minuto sequer.

 E isso poderia ter lhe causado uma grande infelicidade, ou sorte se depender do ponto de vista de quem o vivencia. Novamente, seus devaneios a deixaram alheia ao mundo. Nem mesmo o alerta de Taehyung e sua tentativa de segurar a garota foram o bastante para evitar que ela atravessasse no sinal vermelho. O motorista desviou de Yujin a tempo de apenas assustá-la com a buzina, fazendo com que a bibliotecária tropeçasse em seus próprios pés ao andar para trás. Se era um golpe do destino ou não, se foi uma infelicidade ou uma grande sorte, Yujin pensaria nisso depois de recuperar seu equilíbrio.

- Você tá bem?! - envolve a garota caída no chão em seus braços a fim de ajudá-la a levantar - Se machucou?

 Os delicados toques examinam cuidadosamente os possíveis locais machucados. Taehyung olha de cima a baixo Yujin, procurando algum arranhão visível, e solta um pesado suspiro de alívio ao nada encontrar. Esquecendo da condição imposta pela garota, ele a abraça carinhosamente.

 Pouco a pouco, os curiosos que se amontoaram para ver a possível tragédia se dissipam, voltando aos seus caminhos, ignorando ou comentando sobre o acontecido. Tudo isso são pesadelos se tornando realidade para Yujin: ter vários olhares em si, receber a atenção afetuosa de alguém, a quase morte antes de ter conquistado seu objetivo de ser uma renomada escritora.

 Paralisada com o acidente inesperado seguido do abraço caloroso, a bibliotecária não sabe se empurra o homem que acaricia sua cabeça enquanto a conforta dizendo que estava tudo bem, ou se agarra o sobretudo azul escuro do rapaz e deixa seu corpo extravasar em lágrimas os sentimentos sufocantes que lhe prendem cada vez mais.

- Yujin - Taehyung se afasta devagar com preocupação - está tremendo... - deixando de envolver o corpo menor, entrelaça sua mão na dela e a leva para o centro da calçada - Que tal um chocolate quente pra acalmar? - sugere ao pôr a mão livre na bochecha da garota.

 O consentimento da garota é um balançar de cabeça afirmativo. A dupla dobra a esquina, indo em direção ao café tão conhecido pela estudante. Este trajeto também foi calado, mas desta vez o espaço entre os dois não existiu. Com os dedos entrelaçados, o passo lento faz com que o tempo para a chegada ao estabelecimento demore. Por outro lado, a vagareza foi boa para a consciência de Yujin, saindo do estado de choque e assimilando os eventos de minutos atrás.

 Na cafeteria, a ligação da estudante para o amigo é concisa, explicando o necessário e pedindo que ele a encontre, não dando chance de Jimin se exaltar pelo telefone. Enquanto o curto diálogo acontecia, Taehyung recebeu o chocolate quente e o cappuccino gelado que havia solicitado, ignorando o flerte da funcionária que o atendeu.

O anjo da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora