O anjo da Morte

4.7 - Sob o céu estrelado

 Yujin se sentia bem, como há muito não se sentia. Estar ali com seus pais, o melhor amigo e o namorado era o presente de natal que a surpreendeu positivamente. Não precisava de algo material, somente essas pessoas bastavam para que se sentisse em paz. Porém, seu coração acelerado a impediu de ter boas noite de sono nos primeiros dias, pois com Taehyung dormindo ao seu lado era quase impossível se manter mentalmente estável. Saber que em um gesto involuntário ela poderia encarar aqueles olhos de escuridão intensa fazia com que seu cérebro se concentrasse em permanecer em uma única posição. Mas não havia como controlar o corpo após adormecer profundamente.

 E era nesse momento que o anjo aproveitava para admirar a amada. Ele estava completamente apaixonado, podia perceber, porque depois de tanta pesquisa, reconheceu os sintomas do que os humanos tanto adoravam e chamavam de paixão. Sentia-se feliz e sortudo por ter a oportunidade de experienciar algo tão maravilhoso junto a Yujin.

 Até mesmo a convivência com Jimin se tornou mais fácil naquele clima natalino prazeroso. Estavam se dando bem, respeitando os limites e evitando trocar farpas, pelo menos na frente dos outros. O dançarino não conseguia se controlar às vezes, e o anjo não deixava de rebatê-lo. No entanto, o grupo estava aproveitando os dias festivos pelos quais passavam. Acordando cedo e dormindo tarde, as conversas divertidas, os diversos jogos, as comidas que provavam.

 Com muitas risadas, a troca de presentes foi feita. As lembranças que compartilharam seriam guardadas com carinho por cada um. Taehyung não precisou agradecer aos pais de Yujin, eles insistiram que a retribuição viesse como visitas do casal. Haviam adorado o rapaz.

- Foi o melhor natal que já tive.

 Deitados na mesma cama, o anjo fala assistindo a inquietude da garota. Não havia uma posição confortável que não a deixasse frente a frente com o namorado e preferia não encará-lo a fim de continuar mantendo seu corpo sob controle. Uma tarefa difícil, visto que somente o lado que estava tentando evitar parecia ser aconchegante.

- Já passou outros natais na Terra? - perguntou confusa, desistindo de se mexer e finalmente olhando o homem sorridente.

- Não.

 O sorriso de Taehyung era lindo. Tão doce, sincero, angelical. Porém, apesar de se sentir maravilhado com as experiências familiares afetuosas de minutos atrás, ele ansiava passar por aquelas que avançassem o relacionamento. No entanto, o pensamento da jovem estava bem longe desse desejo.

- Então não pode dizer isso, não tem algo com que comparar.

- Posso sim e vou. - beija rapidamente os lábios até então frios da bibliotecária e ela se assusta pelo ato súbito.

 Devido a vergonha que ainda sentia em demonstrar o imenso afeto que sentia pelo anjo, suas bochechas ganham um tom avermelhado. Os beijos que trocavam nunca eram profundos o suficiente para Taehyung, já que a bibliotecária interrompia antes que progredissem para algo mais sensual. Entretanto, aos poucos ela ia se soltando para retribuir o carinho do namorado. A exemplo, a estudante devolve o breve beijo, sorrindo envergonhada em seguida. O anjo se surpreende, mas logo sorri pela ação da garota. Queria que isso se repetisse mais vezes.

- Aqui também dá pra ver as estrelas.

 Iluminando o céu, os pequenos pontos brilhantes de que tanto falaram em outras ocasiões podiam ser vistos pela janela aberta. Ainda que tenha vivido nesse ambiente por bastante tempo, ele nunca perdeu o interesse em observar as luzes do universo. E sua namorada compartilha da mesma atração pelas explosões cósmicas que ocorriam sobre si.

- Quando mais nova, adorava ler de noite. - revelando uma memória de sua infância, Yujin se vira a cabeça para apreciar a imagem - Ia para a frente da casa, deitava e lia com as estrelas como plano de fundo.

- Que poético. - coloca o braço por cima da barriga da jovem, queria trazê-la para mais perto de si.

- Minha vida é uma poesia. Eu escrevo cada verso com as emoções que sinto e agora - sorri ao girar o corpo completamente, ficando de frente para o anjo - elas são muito boas.

 Indo contra a vergonha constante, dá um breve beijo e em seguida se aproxima mais do namorado, que a envolve em um abraço sem recusa. Às vezes se questionava como conseguia desejar tanto alguém, chegava a ser irracional.

- Na verdade li a parte da poesia em um livro.

 Mesmo que abafada por estar com o rosto escondido nos braços do anjo, a risada é ouvida e acompanhada pela do namorado. Encerrando a noite nessa posição protetora, seus corações batem ritmados.

 Após a data celebrativa, eles se preparam para deixar a casa onde Yujin cresceu. Tanto a mãe quanto o pai da garota abraçam Taehyung, que retribui alegremente o gesto afetivo. E notando o ciúme de Jimin, a mulher repete a ação com o dançarino. Sua filha era sortuda por ter dois rapazes como eles ao seu lado. Sentiam-se confiante em deixá-la sob os cuidados deles.

 Felizmente, perdurando a ar festivo e tranquilo, a viagem ocorreu tranquilamente. O trio aproveitou o percurso com as músicas que tocavam no rádio e a partir de um ponto do trajeto, uma conversa pacífica entre o anjo e seu amigo começou. Yujin percebeu que o clima acalmou entre os homens, agora que o dançarino conhecia um pouco mais a respeito de seu namorado. Talvez fosse isso que o dançarino precisava, conhecer a versão de Taehyung que ela conhecia.

- Então você tem mais de dois mil anos. - Jimin fala, como se em voz alta fizesse com que assimilasse melhor a informação - E seu trabalho é levar as almas pro inferno.

- Praticamente isso. - a voz grave se mistura à melodia da música que tocava em tom baixo com o intuito de não atrapalhar o diálogo.

 O garoto não precisava de algo concreto para acreditar nas palavras do homem que lhe enraivecia no princípio. Só de olhá-lo sentia que não vinha de um lugar muito amigável, e como a amiga disse no começo, seus olhos pareciam conter a morte.

 Chegando à casa da bibliotecária no fim da tarde, o casal entra no prédio sob a vigilância de Jimin. Quando soube o que a amiga sofreu, decidiu que iria reforçar seus cuidados a fim de protegê-la. Entretanto, lembrou-se que agora ela tinha alguém para fazer isso ao ver o sorriso da garota cada vez que mencionava o anjo. E sabendo um pouco mais da história de vida do parceiro da estudante, conseguia acreditar que a bibliotecária estava em segurança com Taehyung.

- Está entregue. - para em frente à porta do apartamento da namorada sorrindo - Obrigado por esses dias incríveis!

 Yujin não queria se despedir dele. Amou os momentos que passaram juntos na casa de seus pais. Até mesmo as noites conturbadas em que demorou a dormir por ter a presença do ser que mexia com sua sanidade desde a primeira vez que o viu.

- Não precisa agradecer - com a cabeça um pouco baixa, move a mala de rodinhas de um lado para o outro, precisava pensar em um meio de fazê-lo ficar mais tempo consigo - meus pais te adoraram.

- Isso é um alívio pra mim, sabia? - a garota o olha levemente surpresa, pois não esperava que ele fosse se importar com algo que parecia ser tão trivial para um ser celestial - A permissão de seus pais faz com que... - antes que conclua o pensamento a respeito da aprovação familiar que havia estudado é interrompido pela fala apressada da mais nova.

- Quer dormir aqui?

 Não analisou a pergunta antes de convidá-lo para passar a noite ao seu lado. Queria compartilhar o mesmo espaço com ele novamente. Queria se sentir acolhida como quando dormiu em seus braços. Queria tocar o corpo quente que a envolveu durante o frio da madrugada. Era pedir demais que Taehyung realizasse seu desejo? Seu alucinante e apaixonado desejo.

- N-não precisa aceitar, é só que você não tem onde dormir, né?

 Tenta consertar o que considerou um erro, mas que agradou bastante o anjo. Yujin não fazia ideia do quanto o anjo ansiou por um convite como esse.

- Acha que sou sem-teto, é? - deu uma curta risada assistindo a jovem unir os lábios e retrair os ombros constrangida, tanto pelas palavras mal interpretadas quanto por perceber que o pedido não foi bem visto.

 Porém, o sofrimento da bibliotecária foi transformado por um sentimento de confusão e logo de alívio. A resposta do namorado veio em forma de um beijo seguido de um sorriso. Yujin sente as pernas falharem por um segundo. Ainda não havia se acostumado a tê-lo tão próximo de si.