4.0 - O primeiro beijo

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 Yujin nunca soube expressar bem seus sentimentos. Relutava a revelar o que sentia, tinha medo do que pensariam a seu respeito e vergonha de ser fraca. A única pessoa com que compartilhou algo foi Jimin, ele sabia tudo de sua vida, era seu porto seguro. Seus pais a amavam e entendiam suas limitações emocionais, então não faziam objeção ao garoto que vivia junto a sua filha, fazendo-a feliz na medida do possível. Mas o dançarino não era seu objeto de paixão. E agora que expôs o que sente para quem redemoinha suas emoções é como se estivesse na montanha russa descendo o trilho em alta velocidade para em seguida adentrar o looping.

 Fitando as reações nervosas da jovem, Taehyung processa o que ela disse. O que deveria fazer nesta situação? Ele finalmente obteve a resposta que tanto ansiou às escondidas, por que não conseguia agir como queria?

 O retorno estático do anjo traz fim ao surto de coragem de Yujin. Percebendo o que havia falado, a garota se atrapalha no pedido de desculpas, fazendo com que se sentisse mais patética. Se tivesse ficado calada em relação ao cerne de seu sofrimento não estaria se sentindo tão humilhada. Isso era o que ela pensava. Porém, Taehyung só precisava assimilar que a declaração foi real. E ao entender não deixou que a bibliotecária se confundisse ainda mais nas palavras desesperadas.

- Eu também te amo, Yujin.

 Uma resposta simples, mas poderosa o suficiente para abalar todas as estruturas da jovem. Ela para de tentar formar uma frase conexa e foca no anjo que a olha como se pudesse absorver toda sua energia em um piscar.

 Sussurrando, ele repete as palavras ditas enquanto inclina o corpo para perto da estudante, observando as feições confusa e surpresa dela. Apoiado nas mãos, restando poucos centímetros entre eles, Taehyung sente o que nunca havia sentido. Era majestoso. O nervosismo, a ansiedade, o desejo, o amor. Seria isso o que os humanos denominam de paixão?

- Você me ama? - Yujin balbucia desacreditada, afinal, achava que o anjo amasse Kim Minsook e por isso a abandonou a fim de ficar com a médica.

 Taehyung ri, achando adorável que ela não esteja tão diferente de si. Calmamente, aproxima ainda mais seus rostos, seus olhares alternando entre os lábios entreabertos e os olhos sonhadores. E mais uma vez declara o motivo de agradecer a profecia apesar de suas consequências.

- Sim, Seo Yujin. - dá um sorriso encantador que faz  com que a jovem sorria também, completamente imersa na beleza do homem à sua frente - Eu te amo.

 Quando refletia sobre primeiros beijos nas histórias que lia, a bibliotecária nunca pensou que o seu pudesse ser com um anjo. Como evitava contato social, suas relações eram superficiais, não tinha intimidade com qualquer outra pessoas além de seu amigo, então um beijo estava praticamente fora de cogitação. Entretanto, Taehyung apareceu, bagunçando sua vida, suas ideias, suas emoções, seus desejos, tudo que ela achava ter sob controle.

 Durante toda sua existência, o anjo nunca se envolveu amorosamente com um mortal. Talvez por causa da predestinação, a qual não tinha conhecimento até meses atrás. Nenhum humano lhe atraiu verdadeiramente até conhecer Yujin. Ela fazia isso consigo. Brincava com seus conceitos sem perceber, o mínimo sorriso era o suficiente para mexer um coração que havia considerado ser inútil.

 Não foi necessário muito para que o tocar de seus lábios se tornasse a nova sensação favorita de ambos. Era extasiante. Seus sentidos se prenderam no calor e na suavidade, o frio da noite não os afetava naquele pequeno cômodo escuro. O curto contato os fazia desejar por mais, pelos passos seguintes, pela utopia de um lugar em que somente o amor entre eles importava.

 A imensidão que atraía e repelia ao mesmo tempo nos olhares de cada um demonstrava o que não podia ser descrito em palavras ou ações. Não era apenas físico ou momentâneo. Era espiritual e eterno. O clichê sobre o qual tanto discutiram permanecer agradando o público. Um encontro de almas. Algo bem maior que eles e que não podia ser evitado.

- O que vamos fazer?

 Yujin pergunta, aprofundando o olhar no de Taehyung. Não existia mais medo de fitá-lo, assumiu estar apaixonada pelo ser de olhos que carregam a morte. No entanto, eles expressavam para si todo o amor que idealizou receber, ainda que fosse em um dia no qual seria uma pessoa diferente, mais expositiva, mais sociável. E agora o tinha sendo ela mesma.

 Refletindo a respeito da questão levantada, Taehyung põe sua mão sobre a da jovem, sentindo seus corpos reagirem com o simples contato, mas que também era tão especial. Sabia o que acarretaria levarem adiante este sentimento arrebatador chamado amor. Porém, abandoná-la se tornou uma opção inexistente a partir do momento que percebeu estar completamente entregue à garota.

- Não sei... - suspirou e fechou os olhos.

 Logo sorriu ao ter a bochecha acariciada. Seu coração decidia se acelerava ou se tranquilizava por esse ato banal. Poucas semanas antes isso seria impensável para o anjo. A sensação prazerosa que tomava conta de todo seu corpo por apenas estar na companhia de alguém era incabível.

- Podemos continuar sem... - a jovem começa ao ter uma ideia que lhe traz um pouco de constrangimento por mencionar uma coisa tão íntima quando nem havia firmado algo com ele - um envolvimento físico maior... não é?

 O sorriso envergonhado de Yujin faz Taehyung sorrir e imitar a ação da bibliotecária. Gostava de tocá-la assim, passava uma imagem de cumplicidade que nunca pensou que desenvolveria com alguém. Adorava a timidez da garota cada vez que mencionava algo sobre relação sexual, era como um convite para lhe mostrar as maravilhas que poderia sentir ao aceitar os desejos carnais. Mas também o fazia querer protegê-la da insalubridade e libidinagem do mundo. Esse impasse chegava a enlouquecê-lo nas vezes que ela demonstrava seu acanhamento em relação a isso.

- Acho que não custa tentar. - responde ainda sorrindo, pois o rubor nas bochechas da jovem permanecia - Não tem como a profecia se realizar se não... - pondera em usar o termo que normalmente utilizaria, contudo, considera melhor escolher um dentro dos limites dela - tivermos um... relacionamento mais íntimo.

- C-certo... Decidido então! - sorriu forçado, tentando superar a vergonha por estarem conversando sobre isso.

- Ótimo! - Taehyung exclama animado com a decisão a que chegaram - Agora tome a água e descanse por enquanto. - Yujin segura o copo que o anjo estendia para si, seus lábios unidos expressavam a timidez que ainda não havia passado - Vou preparar alguma coisa pra você comer.

 Felicidade era pouco para definir o que Taehyung sentia. Estava incrivelmente contente por ter exposto seus sentimentos, por Yujin revelar que o sentia o mesmo em relação a ele, por estarem finalmente engajando em algo que poderia ser considerado como um namoro...

 "Eu preciso pedi-la em namoro!", pensou e estancou na hora. Para a sorte dele, já estava a caminho da cozinha, não precisaria explicar a mudança súbita da expressão. Planejando como iria fazer isso, começou a cozinhar uma receita que havia aprendido com Minsook.

 Estava contente também por poder preparar uma refeição para Yujin. Suas esperanças de um final feliz aumentaram, tudo daria certo. Precisava dar certo. E ele faria isso acontecer.

O anjo da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora