07.

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As coisas realmente melhoraram para Perséfone após o desjejum. Enquanto Hécate manteve certo distanciamento, a expressão indiferente e o olhar frio, Nyx e os gêmeos foram calorosos na despedida – com direito a abraços por parte da deusa da noite. Assim, depois as saudações intermináveis, ela resolveu esquecer a preocupação com o sequestro para acompanhar Hades pelos corredores, rumo ao exterior do majestoso castelo.

Estava ansiosa – talvez fosse até um eufemismo usar essa palavra, já que, na realidade, o entusiasmo queimava seu interior.

O banquete foi delicioso e ela se alimentou bem, comendo um pouco de tudo que foi posto à mesa. Agora, caminhando pelo corredor com a barriga cheia, sentia-se exausta. A sonolência sempre foi uma amiga presente após as refeições.

— Mais tarde te mostrarei os cômodos principais. — o deus comunicou, mais a frente, com a habitual expressão neutra. — Alguns locais foram encantados por Hécate, então evite zanzar sozinha por aí.

— Qual o motivo para encantar o castelo? — a pergunta escapou sem que percebesse e, depois do estranho olhar que o rapaz lhe lançou, se sentiu na necessidade de se explicar. — Parece desnecessário.

— Se tem algo que prezo, é a minha segurança. — respondeu. — E a do meu elmo. — acrescentou.

A deusa assentiu, compreendendo. Não chegava a ser novidade o fato do elmo ser um objeto visado entre os deuses – principalmente os mal-intencionados –, afinal, quem não quer a capacidade de ser invisível?

Hades possuía uma das armas mais – se não a mais – poderosas do mundo, mesmo que aos olhos só parecesse um capacete de guerra comum.

Perséfone suspirou pesadamente, com os orbes oliva fincados nas costas dele. Notou, nada surpresa, que ele era uns trinta centímetros mais alto. Não possuía tantos músculos ou um porte atlético, mas os ombros largos compensavam. O maxilar quadrado e o rosto proporcional, cheio de ângulos, tornavam-no assombrosamente bonito, o que combinava de forma bizarra com o estranho ar artístico no castelo.

Por mais que detestasse admitir, o lugar impressionava. Até mesmo as paredes do corredor possuíam minúcias nos tijolos de concreto – uma sequência de ilustrações gregas que narravam lendas jamais contadas.

— Minha mãe sempre fala que uma casa diz muito sobre o dono. — comentou, como quem não quer nada, apenas para quebrar o silencio. A curiosidade a rasgava por dentro, e isso não se dava apenas à vontade de conhecer o Submundo, mas principalmente por Hades.

Ele a sequestrou, um ato, no mínimo, questionável, mas nunca a tratou como prisioneira, sem mencionar o fato de ter arriscado a própria vida para salva-la. Como se não bastasse, apesar das feições duras e a áurea excêntrica, a gentileza em seus olhos chegava a ser reconfortante.

O que pensar de um sujeito assim?

Confusa, afastou os pensamento. Ele havia dito que sanaria suas dúvidas no momento adequando, quando estivesse preparado. Perguntou-se quando seria o tal momento adequado.

— É mesmo? — ele abaixou os olhos para fita-la, retirando-a dos devaneios. — Interessante. O que acha que esse castelo diz sobre mim?

— O que disse? — pensou ter escutado errado.

— Quero saber o que acha que esse castelo diz sobre mim.

Isso a pegou de surpresa. Sendo uma deusa menor, um ser insignificante, era de se esperar que poucos deuses dessem importância para suas opiniões. Hades, porém, parecia atento a cada palavra proferida por seus lábios, como se realmente as considerasse.

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