"Eu havia imaginado aquele momento diversas vezes, tantas que eu mal pude contar depois que todos os dedos dos pés e das mãos já haviam marcado o número necessário e provavelmente o número aceitável para alguém sonhar com o homem que já fora tudo pa...
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Meus olhos ardiam e minha garganta estava seca. Minha cabeça doía, meu peito estava apertado e eu não sabia mais o que dizer e nem fazer. A dor que eu sentia parecia vir de todos os lugares...
- Não acredito que foi tão burra, Scarlet - disse meu pai baixinho pela quinta vez.
Ele parecia estar em um looping infinito de xingamentos e praguejamentos, e eu simplesmente aceitei, afinal, nenhum pai ficaria feliz de ter a filha de 18 anos grávida. E solteira. Recém solteira. Solteira porque quer, não porque o homem que ela ama descobriu que iria ser pai e decidiu ir embora. Não era por isso.
Jamais seria por isso.
Não é?
Bom, se fosse por isso, eu nunca iria saber, não dei a chance para que Ian pudesse me abandonar ou o bebê. Eu fiz isso por ele e me poupei da dor da rejeição.
- Desculpa, pai - já era a quinta vez que eu repetia isso, mas eu não tinha mais o que dizer, e além de tudo, nenhuma palavra parecia ser suficiente, nem mesmo a desculpa.
- O que o pai disse? - olhei para meu pai com dúvida, sem entender o que ele queria dizer. - O pai da criança, Scarlet! - ele disse alto, com raiva, levantando-se do sofá exasperado e passando a mão nos cabelos pretos.
- Eu... eu... nada - suspirei, derrotada. Não queria mentir para o meu pai, estava sem saída. - Eu não contei a ele.
- E como você espera criar esse bebê? Sozinha? Posso saber por que não contou a ele sobre essa criança? Que eu saiba você não fez sozinha, não é mesmo? Ele não devia estar aqui dizendo que vai se casar com você? Hein? Onde ele está, Scarlet?
- Eu não sei, pai! Eu não posso estragar a vida de outra pessoa, ta legal!? Ele é bom demais pra isso, mas você nunca vai entender! Ele é... tudo! Não posso fazer isso com ele, então se eu tiver que me sacrificar para que ele possa seguir o sonho dele, eu faço isso!
Lágrimas que eu nem sabia que segurava escorriam pelo meu rosto sem parar.
- Não pode ter esse bebê, Scarlet - meu pai disse baixinho com uma voz triste contida. - Mal tenho dinheiro para nós, como vou alimentar outra boca?
- Eu posso trabalhar, pai... não, eu vou! Eu...
- Scarlet - ele me interrompeu. - Filho da trabalho. Filho é pra sempre. E a faculdade? E os seus sonhos?
- Meus sonhos mudaram quando eu vi o positivo naqueles testes, pai. Esse bebê é meu agora. E é seu neto, pra sempre também.
- Os meus sonhos pra você não mudaram. E não vai ser essa criança que ainda nem é criança que vai mudar isso. Você não vai estragar sua vida. Eu não vou deixar. Ou você tira, ou esperamos até nascer para dá-lo para adoção - ele disse, ríspido. Aquelas palavras me pegaram de surpresa, eu esperava muita coisa: esporros, praguejamentos, xingamentos... mas não isso. Foi muito pior do que eu imaginei.
- Ou o que? - me atrevi a perguntar.
- Ou você não é mais minha filha. E eu quero você longe daqui. É isso, se não seguir as minhas ordens, eu quero você longe daqui.
Me levantei rapidamente do sofá, sem acreditar não que acabara de ouvir, ainda anestesiada com a reação do meu pai e com tudo que vinha acontecendo na minha vida.
- Pois bem, então - falei, virando de costas para meu pai e subindo as escadas, indo para meu quarto, fazer minhas malas.