02. PARIS

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         Fazia frio em Paris

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         Fazia frio em Paris. Os ventos gélidos e ar cortante não eram receptíveis para quem andasse na rua naquele momento. Por isso, ficar em casa era minha melhor opção.

Algumas fotos que eu havia imprimido na noite anterior iam me servir para começar a preparar o catálogo que me fora pedido.

Depois de um tempo sem pausas, meu celular começou a tremer e eu peguei no segundo toque.

- Bon aprés midi - falei. A maioria dos meus contatos era francês, então eu usava a língua deles.

- Boa tarde, é a senhoria Evans? - perguntou uma voz feminina aguda do outro lado da linha. A língua era inglês, minha língua materna, agradeci por isso; fazia um tempo desde que eu não escutava um sotaque familiar.

- É ela mesma, quem fala?

- Aqui é Joy Sidney, senhorita Evans e estou ligando de Boston, EUA, em nome do Boston Celtics. Presumo que a senhoria já ouvira falar sobre o nosso jornal?

Senti vontade de bufar. Obvio que conhecia o Boston Celtics, era o maior jornal esportivo de Boston, que a quatro anos atrás era motivo de risadas sem fim e sonhos que pareciam um poucos distantes no momento.

- Sei, sim. Eu nasci em Boston. E pode me chamar de Scarlet.

- Ah, que bom saber disso, senho... Scarlet. Bom, nós do Boston Celtics ficamos extremamente impressionados com sua espontaneidade e precisão nas fotos em Notre Dame e no palácio de Versailles. A paixão, mas o mesmo tempo a veracidade nas fotos é exatamente o que precisamos para o jogo de sábado à tarde, o estepe que pode levar o time de futebol americano de Boston a final estadual. Queremos saber se você aceita o emprego.

- Desculpe, Joy... posso te chamar de Joy, não posso? Eu... eu me mudei de Boston a muito tempo atrás para ficar longe de tudo que me lembra... hm... futebol. E eu não estou disposta a voltar para Boston, nem por emprego.

- Nem se for só dessa vez? Estamos dispostos a pagar uma grande quantia, senhorita Evans - ela pareceu estar perplexa com a minha recusa e voltou a me chamar de senhorita.

- Veja, Joy, o problema não é dinheiro... eu não só não quero...

- Por favor, senhorita Evans. Meu emprego depende disso. Eu.. eu... eu sou estagiária. Me ficou o dever de conseguir contratar a senhorita... se eu não conseguir... por favor, senhorita Evans. Só dessa vez.

Talvez fosse meu coração mole, tentei me convencer que era isso... que meu coração mole queria ajudar Joy a conseguir ficar no emprego, a se promover. Não, pensando melhor, é porque eu sou boa no que faço. Sou muito boa mesmo. Sou ótima, a melhor.

Aceitar aquela oferta não tinha nada haver com eu querer voltar para casa, ver como as coisas estavam depois de quatro anos longe... ver como estavam as pessoas. É, pessoas. Não necessariamente uma. Não, nunca uma pessoa só.

Por isso, quando entrei no avião que ia direto para Boston e me inclinei na cadeira, eu prometi a mim mesma de que não choraria quando pisasse no aeroporto onde dei adeus a meu melhor amigo e ao meu pai, onde também dei adeus a tudo me lembrava... grrr.

Era só um jogo, merda! Um jogo não podia machucar tanto... o problema era que eu não conseguia parar de pensar no lindo cara de olhos claros, corpo musculoso e que sonhava alto. Seu grande sonho era ser jogador de futebol americano, me permiti só por aquele momento pensar se ele havia conseguido conquistar seu grande objetivo. A parte boa de mim desejou que sim... a parte ruim fingiu não ligar. Só fingiu.

Suspirei e fechei os olhos.

Onde eu havia me metido? Que merda eu fui fazer? Será que eu estava pronta para ver o lugar onde fui mais feliz mas que também mais me machucou? Será que eu estava preparada para tudo que iria vir a enfrentar?

Talvez fosse realmente a hora disso acabar. De eu por um ponto final em tudo que ficou no passado mas que eu não consegui esquecer.

A parte adulta e fria da pessoa que me tornei dizia que sim; completando que isso seria o melhor para mim e depois disso finalmente eu conseguiria abrir meu coração e minha cabeça para novas oportunidades e relacionamentos. Mas a minha parte adolescente do ensino médio só dizia não. Dizia que eu não podia deixar a melhor coisa que já me aconteceu ir embora... dizia que tinha que doer mesmo, que tinha que arder, mas que ia sarar. Que eu não podia abandonar todas as coisas boas e belas que vivi com a única pessoa que já amei. Que se eu quisesse tirar a dor, eu perderia também as alegrias.

Foi isso que me machucou durante todos aqueles anos. A lembrança do quanto era bom, do quanto fui feliz.

Talvez a minha parte adulta e fria, diferente da criança que eu era no passado, tivesse razão. Eu precisava esquecer. Não, eu tinha que esquecer.

Aquela viagem não seria apenas à trabalho, seria também um adeus a tudo que eu fui e a tudo que me feriu... mas também me fez feliz. Tinha que ser assim.

E assim seria.

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