"Eu havia imaginado aquele momento diversas vezes, tantas que eu mal pude contar depois que todos os dedos dos pés e das mãos já haviam marcado o número necessário e provavelmente o número aceitável para alguém sonhar com o homem que já fora tudo pa...
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- Obrigada por me trazer, Charlie - meu melhor amigo e eu estávamos parados na frente da casa do jogador do Boston College. Ele olhava para frente, como se a resposta que tanto procurasse estivesse ali. - Charlie?
Ele olhou para mim, com os olhos um pouco arregalados e descrentes.
- Sempre vou estar aqui, Scarlet. Sempre que você precisar. Eu... eu... eu não sei como ele vai reagir, então...
- Bom... já aconteceu, então... ele precisa saber, não é? - tentei soar tranquila, mas meu coração ia o tempo inteiro na boca e voltava.
- Para, Scarlet. Para de fazer isso!
- O-o que..? Fazer o que?
- Isso. Ser forte. Você não tem que levar o mundo nas costas o tempo inteiro.
Olhei para o meu melhor amigo e senti meus olhos lacrimejarem e arderem com as lágrimas que queriam cair. Virei para a porta e a abri, disposta a enfrentar o que fosse.
Aqueles três testes de gravidez com dois riscos cada um virou meu mundo de cabeça pra baixo. Eu queria chorar, mas me segurei. Eu fiz aquilo. Eu e Ian fizemos aquilo. Agora tínhamos que assumir.
- Você pode ir, Charlie. Eu me viro daqui - falei, já do lado de fora do carro.
- Tudo bem, Scarlet. Eu vou te esperar - ele respondeu, voltando a olhar para frente.
Suspirei e fechei a porta do carro. Comecei a andar pelo jardim da casa, onde estava tão cheia de gente quanto dentro.
Algumas pessoas olhavam para mim... não era algo novo naquele momento. Desde que eu e Ian nos assumimos para todos, olhares se tornaram comuns. Mas naquele dia em específico, eu estava odiando todos aqueles olhares. Talvez a calça preta e o moletom estivessem um pouco fora de moda para aquele tipo de festa e eu me xinguei mentalmente por não ter posto uma roupa melhor... mas a situação pedia pressa.
Andei olhando atentamente para tentar achar Ian, mas ele não estava em lugar nenhum. Soltei todo o ar que nem sabia que prendia quando avistei Ryan, parceiro de time de Ian e um dos seus melhores amigos.
Ele falava com alguém, na verdade, estava quase ficando com uma menina que eu não reconheci. Se fosse em outra situação, eu nem me aproximaria... mas ele era minha esperança de encontrar logo o Ian.
- Ryan! - chamei-o, assim que me aproximei o suficiente dele e toquei seu ombro, o assustando. Ele se virou para mim com os olhos arregalados, mas depois relaxou quando viu quem era.
- Scarlet! Oi!
- Desculpe atrapalhar, Ryan... eu procuro pelo Ian, você o viu?
- Ah... hm... você está linda, Scarlet - ele sorriu, sem graça. - É... ele... a última vez que o vi ele estava na cozinha.
- Obrigada - não esperei por uma resposta e fui rapidamente para a cozinha.
Quando cheguei, demorei um pouco para me achar com toda aquela gente ali, mas logo o avistei, sentado na bancada da cozinha, com uma cerveja na mão e conversando com outros jogadores do time.
Ele era tão lindo. Até de costas ele ficava incrivelmente charmoso... eu diria que ele parecia um príncipe, mas seria tão pouco. Ele estava mais para um Deus grego... sub-Deus, talvez.
Estávamos juntos a meses e a sensação que eu sentia quando o via continuava a mesma: meu coração dava um pulo e voltava pro lugar. Acelerava como um de uma menininha apaixonada pela primeira vez.
Andei até ele, com cuidado para não chamar muita atenção. Toquei seu ombro, fazendo-o se virar ainda rindo de algo que seu colega disse. Quando percebeu que era eu, ele largou-se cerveja que segurava em cima da bancada e andou os poucos centímetros que faltavam para ficarmos próximos. Ele me pegou no colo, com aqueles braços lindos e definidos e me girou um pouco antes de me colocar no chão. Eu estava com o sorriso de uma garotinha.
- Senti sua falta - ele disse contra o meu pescoço, dando beijinhos.
- Eu também senti a sua... - falei, baixinho. Meu sorriso logo se transformou em uma cara de preocupação e eu senti que Ian percebeu.
- O que houve, Scar? - ele passou a mão pelos meus cabelos e deu um rápido beijo na minha testa.
Aquele carinho era algo maravilhoso pra mim. Algo que só fazia sentido vindo dele e somente dele. Com ele eu aprendi coisas, aprendi a amar... aprendi a ser amada. Com ele foi tudo novo, todas as coisas foram primeiras vezes.
Eu não queria decepciona-lo, acabar com seus sonhos... eu não podia fazer isso! Nunca iria me perdoar.
- Podemos ir para um lugar mais calmo?
- Claro, Scar, vem - ele tirou a mão do meu rosto e agarrou minha mão. - vamos para um quarto lá em cima.
Ian se afastou de mim, botou meus cabelos soltos para trás e me deu um beijo na testa, como sempre fazia, aquilo me fez dar um sorriso fraco, eu amava quando ele fazia isso, era tão bom.
Subimos para um quarto qualquer, não me importei em prestar atenção nos detalhes. O quarto estava escuro e Ian foi lado procurando um interruptor. Ele acendeu a luz e antes de sentar na cama de casal que havia, trancou a porta e puxou-me para seu colo. Aceitei de bom grado, ficar perto de Ian, sentir seu cheiro, seu abraço e tudo que o envolvia era algo que eu amava demais.
- O que tem pra me dizer? - ele perguntou, dando beijinhos e cheirando meu pescoço. Comecei a rir.
- Você sabe que eu não aguento quando faz isso! - falei em meio aos risos.
- Ah! Scar! Eu tenho algo a lhe dizer também! - seus olhos brilhavam antes mesmo dele começar a dizer algo.
- Você primeiro - falei, calma e com um sorriso que torci para ele não perceber que era mentiroso.
- Fui aceito na faculdade! - seu sorriso vai de orelha a orelha. - Depois do jogo um cara veio falar comigo... - ele fechou os olhos como se procurasse em sua cabeça a palavra certa. - Um olheiro! Ele me viu jogando e disse que depois da formatura eu já estou aceito na faculdade! Acredita!?
Se fosse em outro momento... qualquer outro, eu estaria pulando de felicidade. Não que eu não estivesse... quer dizer... meu Deus, nunca estive tão confusa. Eu queria que ele conquistasse seus sonhos, queria que ele realizasse as coisas que ele sempre sonhou... mas agora não era somente eu.
Eu não sabia como lidar com aquilo sozinha.
Mas eu também sabia que se fizesse o que tinha que fazer, tudo iria mudar. Por diversos motivos. Principal deles: a faculdade jamais aceitaria um adolescente prestes a ser pai. Ainda mais quando é necessário se dedicar aos campeonatos da universidades. Ele jamais ficaria por mim... ou pelo bebê.
- Scar? - Ian me tirou de meus desvaneios e eu dei um sorriso grande, tirando ele do fundo da minha alma. Dei beijinhos em sua boca.
- Ian! - suspirei. - Qual faculdade?
- A de Nova York!
Meu coração parou. Na verdade, tudo pareceu parar. Eu não podia fazer isso com ele. Não podia fazer isso com o futuro dele. Não podia fazer isso com o homem que eu amava, com o único que já amei.