Capítulo 9

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Samuel P.O.V

A cena a minha frente parecia retirada do filme romântico, que assisti com minha mãe.

Tamires olhava fundo em meus olhos e  seus cabelos balançavam conforme a leve brisa da noite.

Estar de frente para ela, me lembrava uma conversa que tive com meu pai há anos atrás. Na conversa em questão, ele brincava que o fardo dos Northside era se apaixonar por mulheres complicadas, no dia eu ri e disse que eu nunca faria aquilo, agora eu estou aqui pagando a língua.

Respirei fundo, precisava contar a ela.

Quais são as chances disso acabar mal e eu apanhar?
Coragem, Samuel!

— Tenho algo para te contar. - Falei.
— Conte. - Ela respondeu.

Parei de encara - lá, ou nunca conseguiria dizer tudo.

— Sei que somos totalmente opostos, sei também que nossas famílias tiveram suas desavenças no passado, mas esse assunto vem tirando o meu sono à dias.
Eu gosto de você, não só como amigo e eu tentei esquecer isso e fingir que esse sentimento não existia e que ele não crescia dentro de mim todos os dias, tentei ignorar os batimentos acelerados do meu coração e o frio no estômago toda vez que eu te via, porém isso não deu certo e eu estou cada vez mais apaixonado por você, sei que as chances de você não sentir os mesmo são enormes, mas eu não consigo mais guardar isso. - Falei encarando o horizonte.
— Eu também gosto de você, mas o medo sempre falou mais alto e eu também paguei a língua. - Ela disse.
— Somos dois frouxos. - Falei rindo.
— Somos. - Ela respondeu rindo também.

Depois de presenciar a queima de fogos, voltamos para o carro e pegamos a estrada de volta para casa.

No meio do caminho, Tamires tentava me explicar a deficiência da Mônica.

— Ela é surda oralizada, se comunica em português, só que a voz dela é um pouco diferente.
Tem nível moderado em um ouvido e severo em outro. Escuta com aparelhos auditivos.
Ela vai todos os anos fazer audiometria porque foi perdendo a audição com o passar do tempo até chegar no nível que esta hoje.
Ela não pode limpar os ouvidos em casa, a cada 6 meses vai no otorrinolaringologista fazer limpeza. - Tamires explicou.
— Ela já nasceu deficiente? - Questionei.
— Mônica não nasceu deficiente, uma doença trouxe sequelas permanentes, começou a afetar órgãos como a cóclea e o cérebro quando ela tinha 8 meses. - A loira falou.
— E a paralisia cerebral? - Olhei para ela pelo canto do olho.
— Existem diversos tipos de paralisia cerebral, e ela tem dois tipos. Atática leve é um tipo. Discinética moderada é outro tipo. Então são três deficiências diferentes, duas paralisias cerebrais e a surdez
Atática leve causa dificuldades de equilíbrio e deglutição. Discinética moderada causa dificuldades de movimentar e controlar as mãos, pés e cabeça.  - Tamires completou e tombou a cabeça no vidro.

— Como você lembra disso ? - Perguntei.

— Helena me explicou isso. - Tamires respondeu fechando os olhos.

— Sono? perguntei.

— Um pouco. - Ela disse.

Permanecemos em silêncio até o prédio dela e assim que olhei para o lado, percebi que ela dormia.
Meu pai deve estar rindo de mim e dizendo "É o karma dos Northside".
Balancei a cabeça e acordei  Tamires, que meio sonolenta se despediu de mim e entrou no prédio.
Esperei alguns instantes e depois segui para minha casa.
Quando cheguei em casa, as luzes estavam apagadas, entrei em silêncio, segui para o meu quarto e depois de um banho, caí na cama e dormi.

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