O cavaleiro e o mago

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O protagonista da nossa história se chama Dalfur. Apenas Dalfur. Na época que nos referimos as pessoas não tinham sobrenome. Dalfur, um simples camponês, estava feliz por ter conseguido terminar o ano com uma boa colheita. Ele precisava trabalhar para o rei, isso era verdade, mas também tinha noção de que era um homem livre; há séculos não havia escravidão em suas terras.

Quando criança, Dalfur sonhava em ser um mago. Sentia muita vontade de dominar a arte de soltar fogo com as mãos, congelar inimigos e ficar invisível. Mas aprendera, desde cedo, que isso não era nenhuma habilidade para camponeses como ele. Apenas nobres tinham o privilégio de estudar desde cedo as artes da magia.

Dalfur sempre trabalhara no campo. Tinha três filhos e uma esposa. Todos trabalhavam seis dias por semana para o rei, que era proprietário da sua terra, mas durante os domingos podiam descansar. Era nesse tempo que nosso protagonista procurava aprender sobre magia.

Um dia, conversando com sua esposa, ela disse a ele:

– Dalfur, por que não desistes de ser mago? Sabes muito bem que isso não é coisa para camponeses como nós...

– É preciso sonhar, querida. Sem sonhos não chegamos a lugar nenhum.

Dalfur se lembrava dos seus pais, amantes da magia. Os dois, embora não fossem magos de nascença, dominavam aquela arte tão bem que até se faziam passar por nobres que praticavam seus poderes desde a infância. Mesmo sendo magos, eles nunca ensinaram isso a Dalfur. Diziam que esse era um ofício perigoso, uma profissão que ninguém gostaria de assumir. Dalfur não os ouvia. Ele queria ser um mago a qualquer custo.

Nosso protagonista sabia muito bem que havia alguns magos que nasciam assim. "A magia é um dom", diziam eles. Havia também, é claro, aqueles que se esforçavam para isso. Eles diziam: "a magia é apenas uma questão de esforço". Dalfur era um daqueles que concordava com o segundo grupo.

Mas os seus afazeres no campo eram tantos que às vezes ele até se esquecia de sua vontade de ser mago. "O feudalismo é realmente um regime injusto", ele pensava. Mas lá no fundo ele sabia que um dia dominaria a magia se se esforçasse.

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Um dia, quando Dalfur menos esperava, um sujeito muito estranho batia em sua porta. Vestia uma armadura de metal e montava um lindo cavalo branco.

– Bom dia – falou em uma voz rouca com um sotaque próprio do Norte. – Caminhei pela estrada por anos. Vivi por muito tempo em busca de aventuras, mas agora estou voltando para casa. Falta um dia de viagem para eu chegar à minha aldeia; será que eu poderia me alojar aqui por uma noite? Infelizmente não tenho nada para oferecer em troca da estadia, além da minha companhia.

– É claro – respondeu prontamente Dalfur – Seja muito bem vindo à minha casa, mas não temos muito a oferecer.

– Não te preocupes – retrucou o cavaleiro – Fico feliz apenas com algumas roupas limpas, uma comida quente e uma cama para dormir.

– Tudo bem – disse Dalfur, pensando que ele queria coisas demais – Seja bem vindo à minha casa.

– Sabe... – refletiu o cavaleiro – Estou cansado da magia. Queria viver a vida como uma pessoa comum.

– Por quê? – perguntou Dalfur, surpreso.

– A magia é muito perigosa – respondeu – Ela transforma as pessoas. Bons se tornam maus, maus se tornam bons, espertos se tornam estúpidos, estúpidos se tornam espertos. A magia tira a essência do ser humano.

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