Naquele vilarejo, as coisas eram tão recentes que ainda não tinham nome. O mundo exterior permanecia vivo apenas na memória dos mais velhos, que ainda tinham lembranças de algum lugar diferente dali. Não havia a menor necessidade de marcar o tempo, pois a vida passava tão lentamente que o sol e a lua serviam como um único relógio.
O vilarejo era feito de barro. As estradas, casas e utensílios domésticos eram compostos deste único material. Muitos viajantes de fora confundiam o barro com algum tipo de chocolate, se decepcionando quando chegavam mais perto.
Não estava nos mapas. Todos os cartógrafos achavam tal medida desnecessária. Sendo tão insignificante, nenhum geógrafo ousaria estudá-lo; eles tinham coisas mais importantes a fazer. Os historiadores tampouco achavam nenhuma fonte primária ou secundária para o vilarejo. Os poucos linguistas que ouviram falar do Vilarejo apresentavam a hipótese que por lá se falava algum estranho dialeto semelhante ao aramaico, mas pela falta de documentação, ninguém tinha certeza.
Não havia mais do que vinte ou trinta casas no Vilarejo. Não era necessário mais do que isso. Todas as pessoas se conheciam desde o momento que nasceram; o vilarejo consistia em uma grande família.
Ninguém no vilarejo podia imaginar que a vida poderia ser diferente. Para eles, a modernidade não passava de alguma imaginação infantil, um sonho distante. Eles sabiam, é claro, da existência do mundo exterior, mas o ignoravam completamente.
No vilarejo, ninguém trabalhava. A comida nascia da terra, e a água caía dos céus. Não havia nenhuma necessidade de plantar e colher porque a natureza tudo dava. Talvez justamente por terem uma mesa tão farta que não evoluíam. Permaneciam na mais completa escuridão como crianças recém nascidas.
***
O Vilarejo tinha alguns personagens interessantes. Eles serão apresentados a seguir:
José Caldo era o mais velho. Sua idade provavelmente ultrapassava um século, mas ninguém se lembrava de contar o tempo, como foi dito anteriormente. Ele se lembrava de quando o vilarejo tinha nascido, embora ninguém acreditasse nele.
Maria das Luzes era a mais nova. Tampouco conheciam a sua idade, mas acreditava-se que ela tinha nascido no momento em que uma constelação se formou no céu. Havia, de fato, muitas constelações, e ninguém sabia exatamente qual era. Sendo tão nova, queria conhecer a vida fora do vilarejo. Os mais velhos, é claro, diziam para ela parar de bobagens.
André dos Anjos não era jovem nem velho. Como um adulto, era um meio termo entre José Caldo e Maria das Luzes. Conhecia bem o vilarejo; sabia absolutamente tudo sobre ele; a quantidade de metros quadrados, o número de casas e a quantia exata de barro em cada uma delas. Infelizmente, ninguém estava interessado em seus cálculos.
Não há outros personagens neste conto. Quando se fala do vilarejo, é importante economizar papel, dada à sua completa insignificância em todos os aspectos.
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Um belo dia, o inesperado aconteceu. O vilarejo recebeu um visitante.
Tudo começou como sempre começava. No vilarejo, era difícil que as coisas mudassem. A mudança, na verdade, era vista como uma perturbação na ordem natural das coisas. José Caldo, o mais conservador de todos, tinha medo de qualquer tipo de alteração na natureza da vida.
Não entendiam os habitantes do vilarejo que as mudanças eram parte natural da vida. Por isso, a modernidade lhes parecia tão assustadora. Foi nesse belo dia, não marcado pelo calendário, que o mundo real bateu à sua porta.
***
O viajante, aparentemente, chegara ali por acaso, o que era, naturalmente, o esperado. Vestia uma jaqueta de couro, jeans, tênis all star e óculos escuros. Jovem e bonito, transparecia vir de uma alta classe da sociedade urbana. Era o verdadeiro símbolo da modernidade.
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Contos fantásticos
NouvellesExperimente nessas páginas histórias que não passam no mundo real. A maioria delas passam em uma época distante da nossa, embora não seja especificado quando. Aqui você encontrará todo tipo de ser mágico, bem como várias sociedades ficcionais. Seja...