Crescendo

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"Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas desta vida!
1 Coríntios 6:3"

Passar a noite em um hospital era algo que Patch nunca havia feito, na realidade em todos os seus 700 anos em terra ele não tinha se quer passado algum tempo em hospitais, não precisava daquilo, hospitais são para os mortais como aquela jovem garota. Patch esfregou as mãos no rosto, já havia enviado uma mensagem para o Rixon não o aguardar e nem se deu o trabalho de explicar, apenas citou os malditos anjos.
Se aquela garota sobreviver, Patch sabia que algo iria mudar em sua vida pacata, só temia que tipo de mudança seria essa.
Por estar em um local mundano, ele fingiu adormecer na poltrona, puxando seu boné dobrado dos bolsos e pondo sobre sua cabeça a fim de cobrir suas feições dos demais.

Ficar imóvel era fácil, algo herdado de seus dias como Arcanjo. Quando as horas foi passando, ele estava ficando cada vez mais entediado até que ouviu os passos da enfermeira, pode ouvir sua respiração e seus batimentos cardíacos. Antes que a mulher pudesse lhe tocar para o acordar, Patch levantou-se e ajeitou o boné em sua cabeça.

- Como ela está? - Perguntou a enfermeira de forma direta, a mulher se espantou com a velocidade do rapaz diante dela que tinha uma aparência que não devia ter mais de 20 anos.

- Acabou de acordar, o médico pediu para te chamar até o quarto, ela não está muito bem. - Como assim ela não estava muito bem?

Que porra de hospital é esse? Mesmo sem conhecer a menina, ele estava preocupado, porque iriam querer ele lá se ela não estava bem?

Patch apenas revirou os olhos e estendeu o braço. - Você primeiro.

A enfermeira claramente estava estranho o jeito dele, mas Patch já estava entediado e de saco cheio disso tudo, segue a enfermeira até o quarto 320 e então a mulher o guia para dentro. Encontrando um médico homem de pele negra, cabelo bem cortado e um cavanhaque.

- Bom dia, Senhor...? - Ele perguntou estendendo a mão, Patch apertou a mão dele e fez um comprimento com a cabeça.

- Patch. - Disse sério e então olhou a garota na cama de hospital, ela estava acordada e olhando ele com grandes olhos castanhos e procurando reconhecer ele, Patch sorriu. - É sério, me chame de Patch. Todo mundo chama.

O seu sorriso se intensificou ao ver a garota franzir o cenho com certa desdém e ao mesmo tempo em que suas bochechas estavam coradas. Então está saudável para estar corada.

- Certo. Rum. - O médico deu um grunhido  para limpar a garganta antes de continuar. - O senhor trouxe a paciente ontem a noite após ela sofrer um acidente de carro, ela não perdeu tanto sangue e sua recuperação até que está boa vendo que está acordada.

Patch olhou do médico para a menina, porque ele falava dela daquela forma com a mesma no quarto? Ergueu a sobrancelha para a garota que desviou os olhos e ele voltou a olhar o médico.

- O que ela tem?

E Patch soube que a sua pergunta era crucial, o médico que ele notou agora que tinha se esquecido de dizer seu nome, talvez por causa de toda a confusão. Patch olhou no jaleco o nome gravado "Dr. Richard"

Nominho sem graça. Ele pensou.

O médico olhou para baixo, olhando uma prancheta em sua mão e depois voltou a pôr os olhos encima de Patch.

- Ela não se lembra de nada antes de acordar aqui no hospital, esperávamos que pudesse ser de alguma utilidade. - O médico olhou para a garota ruiva que não dizia nada.

O que ela tinha? É muda? Patch sabia línguas de sinais mas não achava que iria ser preciso, a garota entendia bem o que eles falavam só pela forma que ela reagia a sua voz.
Seus batimentos eram como asas de um beija-flor, batendo sem parar.

- Eu não posso ajudar, não a conheço. - Tirou o boné e correu os dedos pelos fios negros do cabelo, causando outra palpitação no coração da garota. - Só a resgatei. Ela não tem nenhum documento? Talvez no carro.

O doutor Richard dava um suspiro e passa a mão em seu cavanhaque, folheia a prancheta e nega com a cabeça.

- Infelizmente não, mas muito obrigado. - Ele ia despensar o Patch que já estava agradecendo aos céus para sair daquele lugar. Quando a garota puxou a manga do jaleco do médico. - Sim?

Os dois se olharam por um momento e então ela engoliu em seco e falou tão baixo que Patch quase achou que o médico não iria ouvir.

-..... Deixa eu..... falar com ele..... - Sua voz era um sussurro rouco mas havia um toque de uma voz suave.

O médico olhou para Patch e depois a garota, então ele saiu deixando os dois a sós.

- Então. Amnésia né. - Ele sorriu. - Loucura.

Mas a garota não sorriu, Patch virou o boné pondo a aba para trás e caminhou pelo quarto até a cadeira de metal ao lado da cama dela, o quarto em que estavam era bastante comum. Havia duas camas de hospital, uma cortina separando elas, a outra estava vazia dava para ver, alguns armários e o da menina ligado a uma máquina e pelo visto estava tomando soro também.
Quando ele se sentou, a menina se retraiu, ajeitando-se na cama, Patch viu uma perna dela escapando do lençol barato, pele clara e macia com alguns furinhos de celulite comum. Ela notou que ele estava a olhando e se cobriu rapidamente, seus olhos castanhos atraindo os negros de Patch.

Após um longo momento de silêncio, apenas os dois se encarando.

- Não vai falar? Tudo bem, gatinha. - Ele abriu um sorriso que logo assumiu uma expressão sombria. - Mas vamos ser sinceros, não te conheço e nem você me conhece e mesmo se conhecesse não ia se lembrar. Fala o que quer logo e me poupe de perder tempo.

Isso causou uma reação na menina, com um rápido movimento ela ergueu a mão que não estava presa no soro e esbofeteou a face de Patch, fazendo seu rosto virar para o lado com o contato.
Por um instante ele não teve reação. Estava surpreso que uma humana tinha lhe dado um tapa, não que ele já não tivesse levado um antes, mas não estava esperando um tapa naquele instante.

Abriu um sorriso malicioso e olhou a menina que ardia em fúria.

- Belo tapa, tente com a mão fechada na próxima vez.

- Babaca! - Enfim ela falou com ele, sua mão parecia estar doendo pela força, ela o olhava em fúria. - Na próxima eu lhe chuto bem nas bolas e decepo seu pau!

Mesmo com a dificuldade na fala, ela mostrava um instituto feroz, isso despertou curiosidade nele que continuo sorrindo mostrando os perfeitos dentes brancos.

- Você não se lembra do próprio nome mas sabe o que é um pau? - Isso só fez ela revirar os olhos. - Interessante.

- Saia daqui. - Ele ordenou, Patch se levantou sorrindo. - SAIA!

- Você quem me pediu para ficar. - Ele diz indo até a porta, abrindo ela mas se virou para olhar a menina. - Porque?

- Achei... Que...

- Que iria me reconhecer. - Ele estala a língua em um som estridente. - Já disse, não te conheço.

Patch saiu do quarto, passando pela porta mas parou quando ouviu.

- Mas eu te conheço....

Um sussurro tão frágil que achou ter imaginado, ele virou-se e viu ela mudando de posição para se deitar, quem era ela? Agora estava curioso de mais com a situação.

A Queda do Arcanjo (+14)Onde histórias criam vida. Descubra agora