“O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem, e os livra.”
Salmo 34:7- Você só pode estar louco. - Rixon disse ao seu amigo assim que ele o encontrou no apartamento e lhe disse o que estava planejando fazer.
- É a única chance que temos. - Patch rebateu, ambos estavam sentados na cozinha de Rixon, segurando garrafas de cervejas e se olhando.
Já passava das duas horas da manhã e a Nefilim estava adormecida no quarto de Rixon, ele tinha contado ao seu amigo o que havia ocorrido dentro daquele apartamento, mas somente a parte de que a garota se lembrara de seu próprio nome. Ele não teria coragem de lhe contar sobre algo tão íntimo, sobre a mulher que o fizera cair em desgraça perante aos anjos apenas pela vontade de se tornar humano e amá-la com todo seu coração angelical.
Não que Patch fosse desdenhar do amigo, ele havia feito a mesma coisa mas sinceramente ele não fizera por um amor mas sim apenas pelo desejo de ser humano, o que fora irônico em como na realidade tudo que ocorreu fora perder as asas e uma parcela do que era ser um anjo e estar vivo, tendo que possuir corpos humanos para ser capaz de sentir alguma coisa, qualquer coisa.- Irei até ela, é o único jeito.
- Vai matá-la? - Rixon questionou o amigo, Patch olhou sua garrafa e levou ela até sua boca, dando um longo gole apenas por uma forma de distração. - Então...vai matá-la?
- O livro de Enoch diz que um anjo pode se tornar humano, acho que é a única chance que eu tenho. - O Arcanjo sussurrou, envergonhado consigo mesmo por dizer tais palavras em voz alta.
Por mais que ele já tenha tentado se tornar humano, dizer aquilo em voz alta era vergonhoso quando na sua primeira tentativa dera errado. Apesar de não dizer a ninguém, as vezes se arrependia do que fizera, como fora tolo de largar o que tinha. Não era um anjo qualquer, mas um anjo superior, um Arcanjo que tinha um único dever entre os seus irmãos e era observar e fazer as ordens serem cumpridas, mas jamais intervir entre os homens. Não era como os outros superiores, como Miguel ou Rafael que tinham mais liberdades e até ordens mais sangrentas como a destruição de sodoma e gomorra.
Patch quando ainda era Jev, era um Arcanjo que apesar da obrigação de observar os homens, fazia isso com uma certa distância e quando anjos inferiores descumprem ordens superiores, ele os fazia pagar, por isso ele sabia bem que desrespeitar a lei iria chamar a atenção dos quatro grandes, mas não esperava que a sua punição seria tão dolorosa.- Você se lembra da dor de cair? - Ele ergueu o olhar para o seu amigo, Rixon fora um Querubim, um anjo de guerra, ele não se lembra muito de quantas vezes o vira nos céus mas desde a queda foram inseparáveis. - Lembra de como suas asas foram arrancadas e a chegada até esse reino carnal?
- Lembro de me sentir ardendo em chamas e quase achei que tinham me enviado ao inferno ao invés de a terra. - Rixon diz, dando um gole em sua bebida e então uma risada amarga. - Fiquei quase três dias deitado imóvel em dor, até hoje não perdoei aqueles bastardos.
- Nem eu. - Patch diz, abandonando sua garrafa e jogando ela no lixo, ele empertigou sua coluna enquanto colocava suas mãos na bancada da cozinha. - Por isso darei um belo chute em suas bolas ao provar que o Livro de Enoch é verdadeiro, farei Marcie morrer e me tornarei humano, quando isso acontecer será a sua vez, velho amigo.
O Arcanjo estendeu sua mão ao loiro que deu uma risada e apertou a mão do amigo.
- Porra! Essa eu quero ver.
Eles riram com a possibilidade de vitória.
***
Com uma olhada no relógio de seu celular, o Arcanjo podia ver que já estava anoitecendo, ele passou o dia todo observando a humana em sua escola, olhando ela de uma certa distância, a garota era líder de torcida do colégio e uma grande vaca. Em outros tempos em um dia de Cheshvan ele até poderia transar com ela, mas sinceramente ela não era seu tipo, muito magra e esnobe de mais para seu gosto, ele poderia vomitar ao passar algum tempo com aquele tipo de garota.
Mas para sua surpresa quando chegara em sua casa e observara ela sozinha, ele descobriu um outro lado dela, um lado que lhe dava pena. Uma garota esnobe que pisava nos outros para se enaltecer na realidade era uma criança solitária e lutando pela sobrevivência, era irônico pensar que o fato de ela ser tão magra parecia que era devido aos anos que passará lutando para conseguir viver.Patch sabia que filhos de Nefilins tendiam a morrer cedo, era praticamente um milagre que aquele casal conseguirá ter uma filha, mas o que o surpreendeu mais foi o fato de que o homem que a menina chamava de pai, era o corpo que Rixon usava. Deveria contar a Rixon? Havia uma chance de ele também poder tentar vencer a maldição, mas quando ele estava para ligar ao amigo, o ar mudou ao seu redor. O tempo ficou mais lento e as pessoas nas ruas pareciam paralisadas, ele se virou e viu Dabria acendendo um cigarro.
- Não sabia que você fumava.
- Não fumo. - Ela disse, jogando o cigarro no chão e pisando nele. - Só acho divertido acender.
O Arcanjo se forçou a não revirar os olhos, em pensar que quando ainda tinha asas, andava com aquela mulher, realmente estivera tão entediado com a vida angelical que fora capaz de se entregar a uma mulher colo aquela.
- O que faz aqui, Dabria? Não deveria estar ceifando vidas? - Desdenhou dela.
A loira caminhou até ele, seus saltos batendo contra o asfalto da calçada, cruzou os braços embaixo de seus seios fartos e observou a mansão diante deles.
- Ela está morrendo, sabia. - Tombou a cabeça de lado, encarando Patch de forma que o deixava desconfortável. - Você pode tentar mas não garanto que vai funcionar.
- Me diga o que você quer, já lhe disse algo útil em troca do nome dela. - Ele diz trincando o maxilar ao pressionar com força seus dentes uns nos outros.
- Sua informação é útil, mas não podemos fazer nada contra isso. - Ela colocou a mão em seu ombro e deslizou para sua nuca, suas unhas longas arranhando sua pele e causando desconforto em seu estômago, Patch se virou para encarar ela enquanto esperava a mulher continuar. - Precisamos que faça algo.
- Por que eu?
- Você possui Chauncey, você é o único que pode o deter.
- E o que ganho com isso?
Patch jamais faria algo de graça aos anjos, na realidade nem estava surpreso de Dabria o pedir aquilo. Quando a garota Amélia sofreu o acidente, ele vira um anjo da morte os observando, eles tinham planejado aquilo mas bastava descobrir até aonde ia o envolvimento dos anjos nos assuntos dos Nefilim, saberiam eles desde o início sobre a possível guerra?
- Você pode voltar a ser um anjo.
Isso arrancou risadas de Patch, ele gargalhou alto enquanto Dabria se afastava do mesmo.
- E quem disse que eu quero ser um anjo? - Ele apontou com a mão em direção a casa de Marcie Miller. - Eu quero ser humano.
- Humano! Eca! - Dabria fez um som de nojo enquanto revirava os olhos. - Não passam de macacos, porcos de barro. O que você tanto ver neles?
- Isso não te interessa. - Patch rebate mas quando Dabria ia dizer algo a mais, ele cobriu sua boca e a puxou para a lateral da casa de frente a mansão que observavam, ele vira um movimento estranho no quarto de Marcie e temera que ela os tivesse visto a observando.
Marcie então saiu pela janela como qualquer adolescente se esgueirando, ela subiu em um galho de árvore e desceu pela mesma até o gramado do jardim, os dois anjos notaram ela correndo descalça com os saltos em suas mãos e um carro parou na rua e ela se jogou dentro.
- Aonde será que ela vai? - Patch sussurrou enquanto soltava a mão da boca de Dabria que estava se encostando contra seu corpo de forma nojenta e ele a empurrou para longe. - Preciso ir.
- Pense no que eu disse.
- Me de um motivo melhor. - Ele diz antes de ir atrás da líder de torcida.
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A Queda do Arcanjo (+14)
FanfictionTODOS OS DIREITOS RESERVADOS E se Jev não tivesse conseguido encontrar Nora? Jev que logo mudaria seu nome para Patch e a cidade de Coldwater, Maine. Não estivesse mais proporcionando alegria ao pobre arcanjo caído? Patch e Rixon partem para longe...