CAPÍTULO 39

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Boa leitura!♡

  DEPOIS DA CENA  do banheiro, Liu ficou indiferente comigo o resto do dia.  Sem saber o que fazer eu fiquei no quarto enquanto ele fazia companhia ao seu piano por muito tempo.  Eu não conseguindo mais esperar, adormeci.

Ao acordar, não tinha ideia de que horas eram. Pela escuridão do quarto o sol ainda não tinha raiado. Apenas de roupão me espreguiço na cama. Ao perceber que meu marido não estava, me levantei ainda sonolenta. Logo que começo a descer as escadas  escuto uma música. As notas soam do piano. Ajeito o roupão apertando a faixa enquanto fui até ele. 

 Como eu imaginei, Liu estava sentado ao piano, alheio a tudo à sua volta. Sem fazer barulho eu entrei e me encostei na parede, fiquei ouvindo a música de melodia triste.  Ele é fabuloso ao piano, músico excelente. O ambiente está  apenas com uma luz  de uma luminária ao lado do piano. Todo o resto da sala está às escuras. Ele me parece intangível…. Sozinho dentro da sua bolha invisível. Mesmo com medo de ser mandada embora, fui em sua direção, embalada com a melodia melancólica. 

Vejo seus dedos esguios e habilidosos encontrarem as teclas com delicadeza.  Ele ergue os seus olhos profundos e brilhantes. A luz da luminária destaca os olhos verdes dele, o deixando deslumbrante. Tive vontade de me jogar em seus braços naquele momento.

— Senti sua falta na cama. — sussurro.

— Estou sem sono, então resolvi praticar.  — confessa colocando as suas mãos em cima dos joelhos. Ele está com pijama que comprei! Eu nem vi quando ele se trocou, a gravidez está mesmo me deixando preguiçosa. Deitei na cama e provavelmente caí logo no sono bem profundo. 

— Volte para cama   — pede.

— Volta comigo? — pergunto com a voz rouca e seca. Ele não me responde o que me deixa bem triste e sem graça. Liu está mesmo chateado comigo.

— Que linda e triste a música. Beethoven? 

— Não. — dá um sorrisinho.

 — É minha. 

  Ele me parece um pouco abatido.

— Ah. Você estava triste quando a criou? Porque ela parece uma música bem triste, melancólica. 

— Para cama, Alice. — agora ele exige.  

Coloco minha mão em cima da mesa do piano e franzo as sobrancelhas. 

— Não sem você.  

— Bem, eu quero ficar sozinho.  — me olha, examinando meu rosto com intensidade.

— Bem, eu não quero ficar sozinha. Então vou ficar aqui com você. — me sentindo um pouco corajosa eu tiro a sua mão do joelho, liberando seu colo para me sentar nele com coração batendo acelerado. 

— Você está chateado comigo, porque acha que é minha segunda opção, mas não é.  Estamos sendo estúpidos, Liu, você não está vendo? 

— Eu não sou estúpido. Não sou. — diz, com a voz baixa sem olhar nos meus olhos. 

Automaticamente eu me recrimino pela escolha da palavra. Quando ele ainda estava no colégio alguns colegas de classe usavam essa palavra para ofender. Falavam que o autismo o deixava estúpido, sem inteligência.

— Não é, mas estamos nos comportando quando tal. Eu amo você e amo nosso filho na mesma proporção de modo diferente. Eu não vou deixar de te amar quando você precisar se afastar da gente. Não vou. —  coloco as minhas mãos de cada lado do seu rosto, o fazendo olhar para mim.

— O problema não é você amar ele,  nunca foi. É você deixar de me amar, quando perceber que eu não sou um bom pai. Toda a sua atenção vai ser para ele, e eu não sei se vou conseguir me adaptar bem a isso. Talvez você perceba que fez uma escolha ruim ao casar com um autista e vá embora junto com ele. — ele confessa isso de uma maneira tão baixo que foi difícil de escutar

Meu Anjo Azul #2/ Segunda EdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora