Capítulo 6. Pudim de amoras

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Irmãos. Uns chamam de bênçãos, outros atribuem adjetivos nem um pouco cristãos. A relação entre irmãos é algo que ninguém é capaz de explicar, ao mesmo tempo em que uma pessoa daria a vida por um irmão, poderia matá-lo também.

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Emma passou a tarde toda remoendo aquelas palavras das crianças. Ela e Cat almoçaram com os três sobrinhos de Thomas, o que foi uma surpresa para ela, já que a maioria das famílias não permitiam que as crianças fizessem as refeições na mesa principal da casa. Adam, o mais velho dos três, foi o único que se dignou a falar alguma coisa durante a refeição, ele contou que Thomas não iria se juntar a eles para o almoço pois teve algum problema com os empregados da propriedade. Ele também contou algumas coisas sobre a vida do tio, mas nada que ajudasse a responder qualquer pergunta que Emma tinha rodando na sua mente.

Até mesmo Cat percebeu que a irmã não estava muito no seu estado de espirito normal e deixou-a sozinha quando ela saiu para a varanda ao fim da tarde. O lugar tinha uma vista linda do sol se pondo no horizonte e Emma se sentou em um dos bancos com um acolchoamento macio, ficou ali remoendo os seus pensamentos e assistindo o céu ganhar uma coloração amarelada e depois rosa, tornando-se mais arroxeado em seguida.

Foi nesse momento que ela ouviu o som da porta se abrir e se virou, vendo Thomas saindo. Ele estava um pouco mais relaxado, sua camisa cinza fora substituída por uma branca e o cabelo estava solto, molhado e um pouco mais escuro. O olhar dele parecia preocupado quando ele se aproximou e se sentou ao lado de Emma.

- Eu gostaria de me desculpar por hoje de manhã. – Ele disse.

Emma se virou para ele, franzindo a testa.

- Não é necessário. – Ela falou com sinceridade. – Sou eu que devo me desculpar. Eu me esqueço de que nem todos são da minha família e não estão acostumados comigo me metendo onde não sou chamada, o senhor deve ter notado que eu sou um pouco enxerida. Eu não deveria ter feito aquela pergunta.

Thomas suspirou e o olhar dela encontrou o dele por um momento, antes de ele fitar o céu que se escurecia diante dos dois.

- A mãe dos meninos era minha irmã mais velha, ela e o marido morreram quando Luca e Stella tinham um ano, desde então sou eu quem cria os três. – Ele fez uma pausa. – É difícil para mim falar sobre o assunto pois ela era minha única família. Mas nada justifica a forma como eu falei com a senhorita.

Emma tentou manter-se firme e continuar aumentando seu ódio por ele, suprimindo o amor que cresceu no seu peito nos últimos meses, mas ela pôde ver a dor no olhar dele durante aquele olhar trocado, foi isso que fez ela segurar a mão dele na sua, atraindo o olhar dele de novo.

- Está tudo bem, eu entendo. – Ela se forçou a sorrir. – Podemos começar de novo?

Thomas concordou de novo e abriu um sorriso amargo antes de prosseguir:

- Me desculpe também por ter sumido durante todo o dia. Foi um pouco grosseiro convidá-la e não estar aqui para pelo menos conversar com a senhorita e a sua irmã, mas um dos meus empregados se feriu hoje e nós tivemos muitos problemas.

- Mas agora está tudo bem? – ela perguntou com sua preocupação perceptível na voz e Thomas garantiu que estava tudo bem.

As palavras dos gêmeos continuavam martelando na cabeça de Emma, ela não queria perguntar tão diretamente, mas se os dois queriam construir mesmo um relacionamento, ela precisava esclarecer tudo.

- Thomas, eu vou fazer uma pergunta e preciso que você seja muito sincero comigo. – Sua voz saiu firme da forma como ela queria.

- Eu não sou um homem de mentiras. – Ele disse, parecendo aborrecido.

Ela respirou fundo, precisava mesmo saber a verdade e esperava que ele realmente não fosse um homem de mentiras, o futuro dos dois só dependia dele agora.

- Quais são seus verdadeiros sentimentos por mim?

A expressão dele passou de apreensivo para relaxado e confuso.

- Todos os sentimentos que eu revelei naquela carta são verdadeiros. – Foi a resposta dele, mas depois ele prosseguiu. – Sinto algo muito forte por você. Mesmo que tenhamos nos visto pessoalmente apenas uma vez, sinto que a conheço melhor do que muita gente e quero muito que nos conheçamos melhor, por esse motivo vim até aqui me desculpar e explicar o motivo da minha reação nesta manhã.

Emma engoliu em seco, agora vinha a segunda pergunta difícil.

- Não quero parecer uma louca ciumenta, mas as crianças comentaram sobre outras senhoritas que foram recebidas aqui e que você se casaria com uma delas. – Ela desviou o olhar dos olhos verdes dele. – Isso é verdade? Quem eram elas?

Mesmo com a pouca iluminação, Emma pôde notar a confusão no rosto dele, o maxilar tenso. Ele parecia refletir.

- Meu Deus! – ele exclamou, abrindo um sorriso. – Eles disseram isso mesmo? Disseram que eu me casaria com uma delas?

Ele riu e Emma engoliu em seco enquanto concordava com um aceno de cabeça.

- As últimas senhoritas que estiveram nesta casa foram as filhas de um primo do meu pai. – Ele disse, ainda sorrindo. – As duas estão noivas e o pai delas estava junto, eu nunca me casaria com nenhuma delas. As crianças queriam apenas espantar você.

Emma não queria insistir, mas ainda se sentia insegura, ainda tinha um nó na garganta que não conseguia engolir. Thomas apertou a sua mão de forma carinhosa.

- Ei, eu estou falando sério. – Ele falou baixinho. – Eu estou apaixonado por você, mesmo que as elas não fossem comprometidas, eu nunca me interessaria por nenhuma delas.

Emma não conseguiu evitar de abrir um sorriso.

- Me perdoe por hoje. – Thomas pediu de novo. – Amanhã nós vamos passar mais tempo juntos, nos conhecermos melhor, e eu vou provar que estou falando a verdade. Pode ser?

- Combinado. – Ela disse, animada. – Me desculpe se eu pareci uma ciumenta, mas é que eu fiquei preocupada, também estou apaixonada por você e não queria me magoar nutrindo sentimentos por alguém que pode estar interessado em outra dama.

Thomas já estava perto dela, mas, mesmo assim, ele se aproximou um pouco mais. Emma notou que na verdade os olhos dele não eram totalmente verdes, eles tinham um tom bem claro de castanho próximo das pupilas. Os olhares deles estavam fixos um no outro e a voz dele saiu bem baixa quando ele disse:

- Tenho interesse apenas em você, Emma Campbell. Desde quando nos encontramos pela primeira vez, há dois anos, as outras damas não parecem mais tão interessantes, nenhuma é tão atraente ou intrigante quanto você.

- Intrigante? – ela perguntou, curiosa. Ela notou um sorriso surgir nos lábios dele e podia jurar que existiam covinhas por baixo daquela barba comprida. Ele tocou de maneira suave o rosto dela.

- Não sei explicar, você me intriga, quando a olho, sinto que você tem um grande segredo escondido e me sinto muito tentado a descobri-lo.

Emma sorriu.

- Talvez eu tenha mesmo um grande segredo.

O olhar dela caiu sobre os lábios dele quando o seu sorriso se alargou, eles estavam muito próximos. Depois ela notou o olhar dele também sobre os lábios dela, involuntariamente ela se aproximou mais dele, e ele se aproximou dela. Os dois estavam quase se beijando, Emma tinha certeza de que seria beijada pela primeira vez, e seria pelo homem que ela amava, seu coração estava acelerado.

Um barulho alto fez os dois se afastarem, Emma olhou para a porta, Catarina estava saindo com um grande sorriso nos lábios.

- O jantar está servido. – Ela disse, parando de frente para Emma e Thomas. – O mordomo vinha chamar vocês, mas achei melhor eu mesma vir. Emma, temos pudim de amoras para a sobremesa, eu sei que você ama, então é melhor entrarmos logo. – Cat se virou para Thomas. – Ela costuma comer como um boi quando tem pudim de amoras.

Emma sentiu-se corar, ela sabia que estava demorando para que a irmã a fizesse passar vergonha. Antes que Catarina pudesse dizer algo pior, ela se levantou e Thomas fez o mesmo, indo juntos para a sala de jantar da casa, onde as crianças já esperavam por eles. 

O segredo de Emma CampbellOnde histórias criam vida. Descubra agora