Capítulo 1. Não fui seduzida

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As coisas estão começando a esquentar na capital. Algumas especulações começaram a surgir sobre a identidade desta autora e as damas da alta sociedade estão em polvorosas, iniciando uma investigação. 

Lady Emyline pretende se manter em segredo, mas posso dizer que ninguém que vocês já especularam é a verdadeira responsável por isso tudo.

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Uma carta pode ser capaz de mudar a vida de uma pessoa completamente... 

Emma Campbell sempre fora conhecida por suas muitas correspondências e por sempre gostar muito de fofocas, ela cresceu cuidando da vida de todos os irmãos. Agora que morava há alguns meses apenas com a mãe e Catarina, sua irmã mais nova, ela se sentia muito entediada com a paz que imperava na casa. Caleb ainda não tinha se casado, como os três irmãos mais velhos, mas vivia viajando, ele já fora para a Itália várias vezes, conheceu Portugal, Espanha e muitos outros lugares.

Ela suspirou enquanto dobrava o papel e o enfiava de volta na gaveta da sua escrivaninha, junto com as outras cartas. O fato é que Emma nunca imaginou que as suas correspondências poderiam levá-la a algo assim. Ela e o Sr. Lewis, ou Thomas, como ela preferia chamá-lo, estavam se correspondendo já havia vários meses e ela estava certa de que o amava. Depois de vários flertes inocentes nas cartas, Thomas disse em uma carta de algumas semanas atrás que também nutria alguns sentimentos por Emma, o que a deixou estonteante.

Emma só não esperava que ele fizesse a proposta que fez na última carta, do começo da semana. Ela ainda não respondera, não sabia o que dizer a ele ou como contar para a família sobre a situação toda, Anthony surtaria. Thomas havia – finalmente – proposto um encontro pessoalmente para conversarem e verem como se adaptariam à presença um do outro. Ele propôs que ela fosse conhecer a propriedade dele em Hemilton, uma cidadezinha próxima de Gwendolin, onde a família tinha um rancho, ou então ele se ofereceu para ir à Rudá, se a família dela achasse mais adequado.

Depois de colocar o papel de volta na gaveta, ela suspirou mais uma vez e se levantou, tomando coragem. Ninguém sabia desse segredo dela, como ela contaria para a mãe e os irmãos que estava apaixonada por um homem que só viu uma única vez? Anthony nunca permitiria que ela fosse para a casa dele sozinha.

Precisava falar com alguém que a entenderia, alguém como ela, a sua metade. Se tinha alguém que podia entendê-la, esse alguém era Caleb. A porta do quarto dele estava aberta, então ela entrou e viu o irmão sentado à sua mesa de trabalho, próximo da janela do quarto.

- Ei. – Ela disse com um pouco de hesitação na voz. – Podemos conversar?

O cabelo ruivo do irmão brilhou sob a luz do sol ao se virar para ela. Caleb estava com o cabelo bagunçado e a roupa amarrotada, as mangas da camisa dobradas na altura dos cotovelos, Emma percebeu que ele provavelmente estava trabalhando em algum dos seus quadros ou esboços no papel. Mas ao ver a expressão da irmã, ele sorriu e se virou para ela, indicando a cama para ela se sentar.

- Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou com preocupação.

Os dois sempre se entenderam muito bem, não precisavam falar para que o outro entendesse como se sentia. Depois de dividirem o útero e passarem a vida toda juntos, Emma julgava que era inevitável as coisas serem assim.

Emma começou a falar, com calma, contanto tudo para o irmão enquanto ele apenas assentia. Ela contou sobre como os dois se conheceram, contou sobre a primeira carta, sobre os sentimentos que ela desenvolveu pelo cavalheiro, sobre tudo que eles conversaram ao longo dos meses, enfim chegou à parte onde Thomas pediu se podiam se conhecer pessoalmente, o olhar de Caleb se tornou mais distante, mas ele continuou escutando e assentindo. Emma sabia que o irmão não a julgaria, então foi totalmente sincera.

Caleb gargalhou antes de dizer qualquer coisa.

- Então é por isso que está tão estranha esta semana? – ela franziu a testa, sem compreender o que ele dizia. – Tipo, você está apaixonada, recebeu uma proposta para conhecê-lo, e aí está só enfiada no quarto sem cuidar da vida dos outros, tentando achar uma forma de falar sobre isso?

Emma corou e assentiu. Ele a conhecia muito bem e as vezes isso não era bom, Caleb sabia que ela estava fugindo.

- Você precisa falar com a mamãe. – Ele continuou. – Não sei se você quer ir conhecê-lo ou se quer que ele venha te conhecer, mas, em qualquer opção, só a mamãe será capaz de acalmar Anthony e ajudar você.

Ela suspirou e concordou.

- Caramba! – ele exclamou. – De todos nós, eu pensei que você seria a última a se apaixonar. Não que você seja insensível ou algo do tipo, é que você sempre foi independente e objetiva, nunca pensei que se deixaria seduzir por um homem.

- Não fui seduzida! – ela protestou na hora, um pouco irritada.

- Ah, irmãzinha, não importa o que diga, você foi seduzida, sim. – Caleb sorriu. – Mas de uma maneira boa, não se preocupe. Eu gosto de ver você assim.

- Assim como? – ela exigiu saber, franzindo a testa.

- Bem, você sabe. – Ele deu de ombros. – Emma Campbell sempre esteve no controle de tudo, nunca se desestabilizou, e agora está na minha cama, me pedindo ajuda com algo, tentando revelar para a família o grande segredo de sua vida, o motivo por trás de todas as cartas que escreve.

Ela arregalou os olhos azuis e franziu a testa.

- Esse não é o grande segredo da minha vida, é apenas algo que ninguém sabia. – Emma falou como se fosse uma grande idiotice o que o irmão acabou de dizer.

- Bem, seja como for, você precisa falar com a mamãe e revelar o grande segredo de Emma Campbell. – O irmão disse com um sorriso.

- Às vezes eu odeio você. – Ela decretou, se levantando.

- E às vezes eu amo você. – Ele declarou, ela podia perceber o sorriso na voz dele. – Apenas às vezes.

Ela entrou no quarto do irmão receosa e estava saindo com raiva. Caleb não a ajudou em nada, apenas mandou ela falar com a mãe, então Kate teria que ajudar mesmo. Alisando a saia do vestido enquanto caminhava pelo corredor, Emma repetia internamente: Acalme-se, vai dar tudo certo!

Precisava falar com a mãe, Kate com certeza iria ajudá-la, iria entender a história toda e arrumar uma forma de ajudar Emma com tudo isso.

- Mamãe? – ela chamou, entrando na sala de visitas. Kate ergueu o olhar da almofada que estava bordando e encarou a filha, arqueando uma sobrancelha, enquanto ela caminhava e se sentava de frente para a mãe. – Eu preciso muito da sua ajuda.

- Então diga. – Kate disse com um gesto de mãos para que Emma falasse logo.

Ela respirou fundo e se preparou. E então Emma disse tudo que precisava, desde o dia em que chegou em casa nos braços de um cavalheiro estranho, contou sobre a primeira carta que enviou, sobre como eles foram se tornando mais íntimos e sobre seus sentimentos por ele. Kate apenas escutou, sua expressão não demonstrava julgamento ou qualquer outra coisa, estava impassível.

- Mais de dois anos? – foi a pergunta que Kate fez. – Como você escondeu isso por todo esse tempo?

Com certeza não era essa a reação que Emma esperava, talvez um pouco de repreensão ou bronca, mas Kate parecia admirada. Emma sorriu e percebeu que não estava nem corada mais.

- Sempre tive muitas correspondências, foi fácil esconder. – Ela disse, orgulhosa, e deu de ombros. – Por favor, mamãe, preciso da sua ajuda. Se Anthony ou Joe descobrir, eles não vão deixar eu conhecê-lo e ainda vão assustar o pobre coitado.

- Você realmente o ama? Quer mesmo conhecê-lo? Pensa em se casar com ele? – Kate perguntava e Emma assentia, corando de novo. – Vamos dar um jeito, então.

Sem conseguir se conter, Emma se levantou e abraçou a mãe, com um sorriso enorme no rosto. Ela sabia que a mãe iria ajudá-la e ela finalmente poderia conhecer o homem que ela amava. 

O segredo de Emma CampbellOnde histórias criam vida. Descubra agora