Morte a espreita

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A chuva caia com força, tornando a fuga de Claire ainda mais difícil.
Correndo em zigue-zague pelas árvores, ela tentava avançar pelo terreno lamacento, enquanto tentava despistar seu perseguidor.
O vulto encapuzado continuava implacável, se movendo com habilidade através das árvores, saboreando cada segundo da caçada.
A mulher ofegava, sentindo como se ácido de bateria bombeasse em suas veias e seu coração quase explodisse em seu peito.
A sombra se aproximava mais e mais, fazendo Claire sentir seu hálito podre em suas costas, enquanto o toque frio de seus dedos esqueléticos começavam a apertar seu pescoço..

Claire acordou assustada, desorientada demais a principio, mas a ladainha insessante do motorista a lembrou onde estava.
-Hey, me diga se já ouviu essa antes: Um inglês, um francês e um italiano entram em um Pub…
As palavras do taxista foram morrendo aos poucos, caindo em ouvidos que ficaram surdos a tudo que acontecia ao seu redor.
Ela olhava pela janela, olhando as pessoas e suas vidas comuns, tentando se distrair para afastar o pesadelo de sua mente, mas sem sucesso.
-......ou não seria francês haha. Diz se não é boa ou….. - ria o motorista, olhando para trás, vendo se sua passageira havia entendido a genialidade de sua piada.
-Hey moça, cê tá bem? Tá pálida demais, parece doente - comentou o motorista, fechando a cara, preocupado.
-Não se preocupe comigo, eu ficarei bem.
-Então tá...
Se ele não puder ajuda-la, então ela sabia que estaria condenada para sempre.
Ela sabia que cedo ou tarde, ela viria atrás dela. Tinha passado por muita coisa, muita história para saber que ela não deixaria tudo passar.
Teria que estar pronta.
Ainda se flagelava, pensando em toda a loucura de sua situação, quando sentiu a mão do motorista a chacoalhar, a libertando de seu transe.
-O quê…?
-Disse que já chegamos moça. Aqui é o bar que você procura. São 5 libras.
-Oh, obrigada, desculpe - respondeu a mulher, pegando a quantia e pagando o homem.
-Tem certeza que vai ficar bem?
-Sim, obrigado, não se preocupe comigo.
-Só...tome cuidado moça. O bairro aqui é perigoso.
Não tanto quanto o que está atrás de mim.
Descendo do carro, a garota entrou tremendo no bar, sendo logo bombardeada pelos cheiros de cigarro, cerveja, suor e urina.
Um típico Pub inglês. Não entro em um desses a anos...
Se dirigindo ao balcão, ela logo abordou o barman, que lustrava um velho copo enquanto não desgrudava os olhos do jogo na TV.
Aparentemente o Liverpool estava massacrando o Arsenal, para desespero dos bêbados ali presentes.
-Olá, preciso de uma informação, pode me ajudar?
Sem tirar os olhos da TV, o barman apenas resmungou:
-Só se tiver indecisa entre cerveja e conhaque, fofinha.
Claire sentiu a raiva subir por sua garganta. Ela sempre odiou ser chamada por esse tipo de apelido estúpido que os homens adoravam usar.
Se controlando, ela perguntou novamente:
-Preciso encontrar uma pessoa que me disseram frequentar aqui. Seu nome é John. John Constantine.
Essas provaram ser as palavras mágicas. Todo o bar parou o que estava fazendo e se virou em direção a ela.
O barman esbugalhou os olhos, desviando seu olhar da TV para a garota, com um misto de surpresa e medo.
-Moça, vai por mim, você não quer encontrar com ele não. Vá embora.
-Sei bem o que estou fazendo....
-O que você precisa é ir pra casa e repensar suas amizades. Vai por mim, John Constantine não é o tipo de amigo que você quer ter. O homem é amaldiçoado - disse o Barman, quase sussurando.
-A garota já é crescida Tom, sabe o que tá fazendo - soou uma voz embriagada nos fundos do bar, fazendo o barman dar um pulo, assustado.
Viera de uma mesa que estava nas sombras, dificultando o reconhecimento de quem havia dito.
-Cê que sabe então. O enterro é seu fofinha. Na mesa dos fundos. Quando sentir um arrepio subir pela sua coluna, vai saber.
Claire seguiu até onde fora indicado, se aproximando da única mesa ocupada ali.
Parecia que apesar do bar estar cheio, todos evitavam estar ao redor desse homem, como se tivessem medo dele ou que ele fosse contagioso de algum modo.
Algumas coisas nunca mudam pelo visto.
-John?
Se curvando das sombras para a luz, o homem se fez visível: loiro, cabelo curto, com um rosto bonito e olhos astutos.
Astutos até demais.
-Ora ora….Claire. Quanto tempo faz? Dez ou doze anos desde o incidente da Mansão Marsten? O que te trouxe a realeza para essa imundice atrás de mim? Quer comprar algum artefato mágico ou veio atrás de um pouco de ação? - disse John, dando uma piscadela com um sorriso debochado.
Bastardo arrogante.
-Doze anos Constantine. E pra mim isso ainda é pouco tempo. Esperava nunca mais ver seu rosto presunçoso na minha frente - respondeu a mulher, com um traço de amargura na voz.
-Uma pena. Gostei tanto de nosso tempo juntos. Poderia ensinar a nobreza um truque ou dois.
-Você é um viciado em adrenalina, bastardo egoísta, um ladrão e um trapaceiro. Não se importa com nada nem com ninguém se puder se safar, mas infelizmente é minha única opção.
-Palavras duras Claire. Para uma médium aristocrata de cento e cinquenta anos, esperava um pouco mais de finesse...mas o que sei eu, sendo apenas um pobre proletário? O que posso fazer por você coração?
Respirando devagar, Claire olhou John em seus olhos antes de começar a dizer.
-A Morte está atrás de nós John.
-Ela está atrás de todos nós, isso que nos faz especiais meu amor - zombou.
-Pare com esses gracejos idiotas! Estou falando sério aqui!
-O que aconteceu? Sua Sociedade Secreta mordeu mais do que podia mastigar? hahahaha - gargalhou John - Tô cagando pra vocês da aristocracia. Não passam de um bando de urubus que se acham melhor que o resto de nós. Pode dar meia volta e morrer em outro lugar chapa.
Ao contrário do que John esperava, Claire apenas sorriu.
-Não é apenas de mim que ela está atrás John. Nós. Os pesadelos já começaram, não começaram? Sonhos tão ruins, que nem o álcool está mais sufocando…
John Constantine empalideceu.
Já fazia algumas semanas que ele havia tendo sonhos tão ruins quanto os que tinha logo após Newcastle.
Gim barato e cerveja se tornaram seus companheiros constantes, mas ultimamente nem eles estavam dando conta de suprimir todas aquelas imagens ruins.
-Ah caralho, só pode ser sacanagem uma merda dessas… tá me dizendo que a Morte resolveu vir atrás de mim? Me conte uma novidade belezoca. Convivo com a Morte desde que nasci - resmungou John, massageando as têmporas.
-Agora é diferente John. Enquanto você se isolava, se afogando em álcool, todos os médium do mundo começaram a ter visões e sentir o que está por vir. Investigando minhas visões, acabei por descobrir que as visões que tinha eram sobre um certo culto de bruxos da america do sul, que através dos boatos que correm, ouvi que pretendem trazer a Morte fisicamente para esse plano. Se isso der certo...
-É o fim de toda a vida na terra. Cê tá falando da Brujeria. Conheço esses merdas, eles são loucos o suficiente para tentarem algo assim mesmo….
John parou, sorvendo um gole de sua cerveja, antes de fazer a pergunta que realmente queria.
-Eu não sou médium. Então por que estou tendo essas merdas de sonhos?
-Usando meus dons, consegui me conectar brevemente a consciência da Morte, durante seus ataques psíquicos. Ela parece estar disposta a se vingar de quem a trapaceou, seja usando métodos não naturais como eu, ou que escaparam de suas garras por vezes demais, como você. E ainda tem mais...
John Constantine a olhou, e Claire pode ver em seu rosto, a expressão de um homem que nunca poderia fugir de sua sina, não importa o quanto tentasse.
-Não posso ter momento nenhum de paz nessa merda, posso? Logo aparece um bastardo querendo me foder. Fala logo, o que mais?
-Ela parece ter uma rusga especial com sua linhagem John. Parece odiar cada Constantine que já existiu ou que existirá, por algum motivo que desconheço.
-Merda. Todo Constantine que já li a respeito parecia pensar que nossa linhagem era amaldiçoada mesmo, mas isso…
-Vai ajudar?
-Gemma e Cheryl estão em perigo também. Preciso descobrir o porque. Parece que não tenho opção aqui. Como tenho o saudável hábito de me importar com minha pele, vamos foder com a Morte, antes que ela faça isso com a gente.

John e Claire logo saltaram assim que o táxi parou em frente ao hotel.
-Hey John, que porra é essa, você deve ter quase o dobro da idade dessa mina! - sussurou Chas, quando John se curvou pela porta.
-Se você soubesse da verdade, ela é que seria presa chapa. Ela só precisa de ajuda.
-Sei bem que tipo de ajuda cê pode dar pra ela. Mande ela embora John. Mande agora! Cê sabe que só piora as coisas quando tenta ajudar os outros.
-Não posso Chas. Tô envolvido nessa também. Pega a René e sua filha e fica na moita por uns tempos tá? só por precaução, beleza companheiro?
Chas olhou John por alguns segundos, antes de suspirar e dizer:
-Se você diz. Se cuida então John.
John Constantine viu o táxi sair, com preocupação. Chas era seu amigo mais antigo (e pensando bem, era o único que restava), um bom companheiro, e se a Morte estava atrás dele, esperava que pelo menos nada de ruim acontecesse com Chas.
Acendendo um crivo, John seguiu em direção a Claire, que o aguardava na entrada do hotel.
-Preocupado com seu amigo?
-Sempre. Chas é idiota demais para sua própria saúde.
-Coitado, não diga uma coisa dessas..
-Bem, ele continua meu amigo. Quer prova maior de burrice que essa?
Seu senhorio apenas os ignorou quando eles entraram, preocupado mais com o que acontecia em Doctor Who do que com eles.
Subiram até o quarto de John, no número 212, aonde o Mago passava os nós de seus dedos pelo umbral, recitando baixo algumas coisas antes de abrir a porta.
Assim que entrou no pequeno quarto, Claire sentiu sua pele arrepiar, como se uma corrente elétrica estivesse percorrendo seu corpo.
-Proteções - respondeu John, a pergunta não verbalizada da mulher.
-Tenho pó de tijolo espalhado pelo quarto, glyphos desenhados em todos os cantos, evitando assim que espiritos e demônios me peguem de surpresa. Aprendi isso do pior jeito, quando um merda de Vampiro Psíquico invadiu meu antigo quarto.
-Você...me assusta John. Zatanna sempre disse que você era um canalha destrutivo, mas nunca percebi quanto.
Constantine apenas riu, com um sorriso triste que pareceu demonstrar todo o peso dos anos em suas costas.
-Olha, você pode dormir na cama, enquanto eu me viro no chão. Amanhã a gente vai ver uma velha amiga minha que pode nos ajudar.

John Constantine: Legado MalditoOnde histórias criam vida. Descubra agora