Deixai toda a esperança ó vós que entrais - Parte 1

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Alguns dogmas creem que quando você nasce, dois espíritos também nascem para acompanha-lo durante a sua vida. Um bom e um ruim. Você crescerá junto a eles sem saber, sempre os alimentando com suas decisões e experiências.

Você dormirá, eles não. Dia e noite, eles vão continuar sempre sussurrando coisas ao seu ouvido. Escolhas que parecerão cada vez mais simples, conforme o espirito que esteja melhor alimentado, até que chegará o dia em que nem pensará mais antes de tomar cada decisão. Alguns creem que é assim que o Inferno ganha seus Condenados, através de cada escolha ruim que fazemos, cada ato negligenciado ou que simplesmente deixamos de se importar, até descobrirmos que o lago de fogo existe.

Mas eu sou diferente.

Eu fiz as escolhas erradas, mesmo sabendo que o Inferno existia.



Pelo que pareceu milênios, John caiu em um abismo infinito de escuridão.

Ele sabia que o Inferno era um reflexo negro do céu, uma paródia, construída como uma afronta ao Criador, mas ainda assim se indagava em quanto mais demoraria pra chegar, até finalmente perceber um ponto de luz, que se expandia mais e mais conforme se aproximava.

Mesmo sendo apenas uma projeção não corpórea, seus sentidos estranhamente começaram a ficar entorpecidos, até sua consciência mergulhar totalmente no mar de trevas. Acordando, ele percebeu que estava caído em um lugar árido, onde um vento sinistro soprava, provocando calafrios.

Olhando ao redor, ele acabou por percebeu um gigantesco portão, que se erguia imponente. Caminhando em sua direção, ele começou a sentir um cheiro nauseante de putrefação embotar seu olfato, e conforme se aproximava, acabou percebendo para seu horror, que o muro havia sido erguido usando os corpos dos condenados, ainda vivos e mutilados, expressando toda sua dor e desespero.

A velha falta de sutileza do Inferno.

Chegando perto o suficiente do Portão, John percebeu que nele havia sido talhado alguns dizeres, inscrições em uma língua a muito morta e esquecida, mas que por algum motivo, eram compreensíveis a ele.

Deixai toda a esperança, ó vós que entrais.

-Humpf, o velho paradoxo do Inferno. Desprezam toda forma de esperança, mas precisam dela para torturar os Condenados, os fazendo sonhar em alcançar o céu....

Tocando um gongo que servia de campainha, John logo percebeu um figura mancando em direção a ele. Ao se aproximar, ele percebeu que era um demônio cheio de pústulas, com pedaços de seu corpo esfolados, onde vermes brotavam, se alimentando de seu pus amarelado.

-Quem vem lá, querendo entrar assim, de tanta boa vontade no Inferno? É louco, ou corajoso demais? Responda-me cão!

-Meu nome é John Constantine – respondeu o homem, saboreando a surpresa do demônio.

-É um pouco dos dois então. Cê é famoso por aqui. O chefe vai gostar de saber que resolveu se entregar ao seu Destino.

-Seu chefe já sabe que eu estou aqui, zé-ruela. Agora abre essa merda e saia da minha frente.

Os portões se abriram sozinhos, deixando o caminho livre para o Mago, que admirou a geografia infernal, pensando em todo o caminho que teria que trilhar.

-Precisa de um guia? Ou melhor, de um amigo? – disse uma voz conhecida a suas costas.

John se virou, assombrado. Não esperava ouvir aquela voz, não ali, nas portas do Inferno.

John Constantine: Legado MalditoOnde histórias criam vida. Descubra agora