Um Estranho auxilio

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Sem se lembrar de como havia chego ali, John vagava pela escuridão absoluta, ouvindo gemidos e súplicas, que pareciam vir de algum lugar além das trevas. Não era preciso ser nenhum Sherlock Holmes para perceber que aquilo não era bom.
Seus instintos rosnavam em alerta máximo, lhe dizendo para evitar se possível de seguir na direção dessas vozes.
Se sentindo desconfortável, ele caminhava sem destino ou direção, quando percebeu que algo mais estava ali com ele, o observando.
Nunca longe o suficiente, mas também nunca perto o suficiente para se revelar.
"Melhor pra mim cuzão." - pensou John.
Pouco a pouco, fragmentos de sua memória começavam a voltar, já conseguindo se lembrar de que estava na mansão de Xanadu com mais alguém, mas o por que ainda continuava um mistério.
-Se isso é algum lugar de transição, quero meu dinheiro de volta, puta negócio chato - zombou.
-Morrer é diferente pra cada pessoa, mas como um filho da puta durão que já esteve as portas da morte várias vezes e voltou pra se gabar, digo com tranquilidade: Isso não pode ser a morte.
É algo pior.
-John?
Constantine se virou, e ao ver a mulher ali, parada, sua memória retornou com força, a ponto de amolecer suas pernas, o fazendo desabar ao chão.
-Claire!
-Me ajude John. Não consigo….prosseguir. Frio. Muito frio..
-Sinto muito pelo que aconteceu Claire. Você não merecia isso. Mas não posso te ajudar enquanto estiver aqui. Vá para a luz quando ela aparecer novamente.
-Não consigo. Ele não deixa. Por favor John...por favor.
-Ele quem Claire? A Morte?
-Eu estava enganada John, não é a Morte que a Brujeria quer...
John se aproximou da aparição, mas a expressão da mulher começou a mudar, como se ela estivesse vendo algo que John não poderia.
E isso a assustava como o inferno.
-Se não é a Morte que a Brujeria está invocando, o que é então Claire? Me diga!
-Ele se aproxima, me chamando novamente. Oh Deus, me ajude, não consigo resistir! Por favor John! - suplicou, erguendo seu braço, enquanto começava a desvanecer, até sumir totalmente.
-Claire! - gritou, mas ela já havia partido para onde quer que estivesse sido chamada.
Desesperado, o Mago sentiu que aqueles olhos na escuridão avançarem. E pelo que pareceu dias, John correu através das Trevas, procurando uma saída, até cair, finalmente vencido pelo terror e angústia.

O mago abriu os olhos, desorientado. Olhando para os lados, não conseguiu reconhecer aonde estava.
Percebeu que era uma pequena cela, com o teto baixo e sujo, com manchas de umidade e sujeira. Sua cama e uma cadeira eram todos os móveis que se podia ver.
-Olá John. Bem-vindo de volta ao mundo dos vivos - saudou uma voz a sua esquerda, materializando aparentemente do nada.
-Porra!
Um homem agora estava sentado na cadeira, onde antes não havia ninguém. Alto, vestindo uma capa azul e chapéu, seus cabelos eram negros, e seu rosto continha delicados traços finos, como uma pintura renascentista.
Mas o que mais chamava atenção eram seus olhos: Eram assustadoramente brancos, parecendo transmitir o peso e sabedoria de Eras, junto a uma tristeza quase palpável.
-Desculpe se te assustei.
-Bom te ver novamente Vingador Fantasma, mas quase me matou do coração. Se bem que era pra eu ter morrido antes, de outra coisa - comentou John, levantando seu lençol e constatando que seu ferimento fora limpo e suturado.
-Agradeça as irmãs por isso. Eu o encontrei caído nas ruas, entre a vida e a morte, alucinando pela febre e perda de sangue. Te trouxe até aqui, aonde elas puderam te ajudar.
-Quanto tempo tô aqui?
-Quatro dias.
-Merda. Não posso ficar muito tempo em um lugar só. Eu...estava sonhando com um lugar escuro, onde pessoas pediam ajuda….conhece?
-Você estava preso no limbo. Se não fosse minha ajuda, teria ficado preso ali pela eternidade. Quando o encontrei, os espectros que vivem ali já estavam quase em cima de você, dispostos a aproveitar de seu desespero para transforma-lo em um deles. Mas consegui espanta-los, e te trazer de volta.
-Pensei que o Limbo era um lugar aonde você poderia encontrar sua salvação ou condenação..
-Exatamente, mas é uma luta constante. Assim como você poderia encontrar espíritos que o ajudariam a transcender, também existem coisas que gostariam de te manter preso ali, pela eternidade.
-Espera, você disse que estava me ajudando? Pensei que o Vingador Fantasma fosse neutro nos assuntos de céu e inferno.
John conhecia bem o suficiente o homem ao seu lado, para saber no que ele estava pensando. Originalmente um anjo das Hostes Celestiais, ele escolheu ficar neutro durante a Grande Rebelião Celestial na Cidade de Prata, quando as Hostes de Lúcifer se ergueram em sua tentativa de golpe.
Os revoltosos acabaram sendo derrotados, mas ele acabou pagando por sua neutralidade mesmo assim. Banido do Paraíso, ele foi amaldiçoado a percorrer pela Eternidade sozinho, impedido de retornar as belezas do Paraíso até que fosse aceito novamento por Yehovah.
-Eu interfiro quando sou necessário John. Principalmente quando algo pode desregular o equilíbrio cósmico. Não poderia deixar você morrer. De alguma forma, você sempre foi importante para o Grande Plano de Deus.
-Corta a baboseira de catecismo chapa. Me diga logo que merda tá acontecendo, já que aparentemente eu sou o fodão que pode acertar tudo. Topei com o espírito de Claire no limbo. Ela implorava por ajuda e sofria, mas mesmo assim conseguiu revelar que não era realmente a Morte que estava atrás dela. Que merda que tá sendo invocado pela Brujeria então?
O Vingador apenas permaneceu em silêncio, lhe dando um sorriso melancólico, fazendo o sangue de John ferver de raiva.
-Ah, agora virou neutro de novo é filho da puta? Só ajuda quando convém? Desgraçado arrogante, não sei por que tive esperanças que me ajudasse - disse com raiva, mas acabando por sentir uma dor lacinante ao tentando se levantar.
-Merda!
-Você ainda não está totalmente curado John. E está sendo procurado pela polícia também.
-Inferno, nada pode ser fácil na vida de John Constantine pelo visto. Tenho que salvar o rabo de todo mundo e evitar de ser preso por coisas que não cometi.
-O caminho nunca é fácil John. Digo por experiência.
John Constantine conseguiu juntar forças para se levantar, colocando seu capote enquanto rangia os dentes pela dor.
-Obrigado pela ajuda que deu e que não deu, seu zé-ruela. Mas preciso continuar. Duas mulheres que precisavam de ajuda celestial, agora merecem ajuda para um descanso digno.
Saindo de sua cela, John percebeu que estava no porão de uma velha igreja, aonde ao sair, percebeu várias freiras indo e vindo sobre os leitos dos enfermos. Ele parou, tateando seus bolsos, enquanto o Vingador aparecia em suas costas.
-Tome cuidado lá fora John. O inimigo ainda não desistiu de procurar você.
-Sei como cuidar de mim mesmo, amigo. Do contrário não teria nem conseguido nascer - disse John aborrecido, enquanto acendia um cigarro, recebendo um olhar de reprovação de uma freira que passava.
-Aonde vai agora? - perguntou o Vingador, assim que sairam da velha igreja.
-Haiti. Só preciso fazer um certo ritual primeiro e depois parto pra lá. Preciso descobrir quem realmente me persegue, já que um certo arrombado celestial não quer me dizer. E um pouco do bom e velho Voodo pode me ajudar.
-Desculpe John, mas só posso interferir até um certo ponto. Haiti?
-Lady Johanna Constantine é a chave. Ela descobriu o que Jack realmente fez e eu preciso saber também. Agora com Xanadu morta, só me resta pedir ajuda a uma pessoa, justo a quem eu deveria evitar, já que fodi com ele e com todo seu império.
-E quem seria essa pessoa?
-Papa Meia-Noite.


John Constantine: Legado MalditoOnde histórias criam vida. Descubra agora