Johanna Constantine Parte 1

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O som das águas quebrando contra a praia, trouxe a consciência da mulher de volta ao mundo dos vivos.
Ainda sentindo o mundo girar, o gosto da água salgada misturada com areia em sua boca, a fizeram perceber que havia chego em terra firme.
-O que...onde? - perguntou confusa, tentando se levantar, mas seu corpo a traiu, fraquejando e acabando por cair novamente na areia da praia.
Girando no lugar, ela tentava se lembrar do que havia dado errado.
Só conseguia lembrar de que havia abordado o navio de sua presa, quando fora pega no meio de uma violenta e imprevisível tempestade, que veio aparentemente do nada, destruindo tanto seu navio e tripulação, quanto o de seu inimigo, a deixando a deriva por dias até chegar aquela praia.
"Morrer perto do objetivo, teria sido uma piada cruel...mas até mesmo o destino parece favorecer Johanna Constantine as vezes".
Juntando todas suas forças, ela conseguiu se levantar, caminhando ao redor da praia em busca de sobreviventes, quando topou com um pequeno barco ancorado. Surpresa, ela percebeu que rastros saiam dali até a floresta, que pelo menos três Homens haviam sobrevivido a tempestade.
Tateando seus bolsos secretos, ela suspirou aliviada quando percebeu que seu pequeno kit de ladra e sua faca ainda estavam ali.
"Sei que seus Deuses Negros te salvaram, desgraçado. Mas dessa vez não vai escapar..." sorriu Johanna, com prazer.
Alimentando seu corpo com ódio, ela adentrou a mata fechada, e enquanto seguia a trilha deixada por eles, ela começou a se lembrar de como tudo aquilo havia começado.
Tudo havia iniciado quando ela havia retornado de sua missão para o Lorde Morpheus durante a revolução. Lady Johanna Constantine havia retornado para casa, quando começou a ouvir rumores sobre estranhos desaparecimentos que estavam assombrando Londres.
Jovens mulheres haviam sido sequestradas, apenas para aparecerem brutalmente mortas, o que forçou Johanna a intervir diretamente.
Se infiltrando nas camadas mais baixas da sociedade, ela usou toda sua astúcia para finalmente descobrir e encontrar o homem responsável por tudo aquilo. Por meses ela o perseguiu incansavelmente, até finalmente encontrar seu covil, conseguindo o ferir gravemente.
Mas ainda assim o maldito conseguiu fugir, se refugiando dentro de uma igreja velha, aonde ele realizava seus sacrifícios de magia negra, aparentemente tentando invocar algum horror saído do mais profundo inferno.
Sem perder tempo, Johanna lutou contra o insano homem ferozmente, conseguindo fugir enquanto a igreja ardia em chamas, acabando por desabar em cima de seu inimigo. Meses se passaram após esse evento, mas mesmo assim, ela sabia que aquele homem maldito não havia morrido.
Sempre atenta a casos estranhos, ela continuou investigando, até o reencontrar novamente algumas vezes ao longo dos anos, mas ele sempre conseguia escapar de seus dedos.
Até agora.
Ela havia o rastreado até ali, naquela pequena ilha esquecida por Deus, aonde traria a justiça divina sobre aquele demônio.
De volta a realidade, ela avançava com dificuldades sobre a selva, que parecia implacável. Mesmo parando para beber em poças d'agua e se alimentando das frutas que encontrava, a pouca força que parecia ter recuperado começava a se esvair rapidamente naquele calor infernal.
Ainda assim, ela percebia algo estranho naquela floresta: não havia animais ali. Não era possível ouvir o canto de pássaros ou de qualquer inseto, prova que algo realmente maligno emanava da cidade.
Caminhando pelo que parecia horas, ela começava a perder as esperanças, quando finalmente chegou aos portões da velha cidade abandonada, que pareciam desguarnecidos.
No portão, percebeu inscrições em várias línguas, sendo algumas desconhecidas a ela. Mas através do latim, do grego e do persa, ela conseguiu entender:
"Aquilo que não está morto pode jazer eternamente. E em Eras estranhas, até mesmo a Morte pode morrer.."
Sentindo um calafrio subir pela sua espinha, Johanna se esgueirou para dentro, se surpreendendo ao contemplar a cidade, ao qual não conseguia reconhecer a estranha arquitetura, com seus ângulos não-euclidianos.
Ela andou por muito tempo por ruas e vielas da grande cidade, até ouvir risadas e gargalhas em um corredor ao longe. Se aproximando, ela percebeu que eles riam da miséria das pobres garotas que haviam raptado e que agora as prendiam em um calabouço.
Esperando eles se afastarem, Johanna sacou seu kit e se aproximou, usando seus dons aprendidos em sua juventude pobre para abrir a porta.
Ela era uma mulher que não se impressionava fácil com os terrores do mundo, mas ao abrir a porta, o cheiro de morte e sujeira quase a fizeram recuar, horrorizada.
Dentro da cela, vários corpos se amontoavam em um canto, enquanto algumas jovens moças se encolhiam no outro, com medo.
-Quem..é você? - perguntou uma voz fraca, quase um sussuro, vindo de uma delas.
-Johanna. Vim libertar vocês e matar o animal que fez isso - respondeu a mulher, apurando sua audição para ter a certeza que ninguém se aproximava.
-Matar ele? Boa sorte. Ele é protegido por demônios, vi com meus próprios olhos ele se recuperar quando Dizzy o apunhalou para tentar fugir...é melhor fugirmos - disse outra mulher.
-Não pretendo fugir. Não até ficar cara a cara com o responsável por isso. Venho seguindo-o a muito tempo, sempre chegando quase tarde demais para impedir seu ritual - respondeu ela, mostrando sua faca.
-Como...como sabia que ele pretende fazer um ritual? - perguntou uma das moças, enquanto saiam da cela.
-Todas as moças sequestradas eram saudáveis, mas seus corpos foram encontrados com sinais de desnutrição e suas mortes pareciam seguir certos ritos. Em sua mente insana, ele acredita que irá invocar alguma coisa do outro lado do abismo.
As garotas tremeram diante daquela afirmação, tentando não se perguntar que tipo de Coisa poderia responder ao chamado de seu raptor.
Enquanto fugiam, o barulho de passos começou a ecoar no corredor, sinalizando que pelo menos um dos carcereiros estava de volta.
As garotas começaram a chorar de desespero, chamando a atenção do homem, que correu na direção delas, com o porrete em riste.
Johanna se preparou, se interpondo entre eles.
-Deixe-as ir e me leve no lugar delas - pediu com firmeza.
-Cale a boca mulher. Elas tem sua função. Já você, pertence ao meu mestre. Finalmente vai parar de nos atrapalhar - ria o homem, com uma risada porcina.
-Depois que ele ensinar seu lugar, talvez até sobre um pouco pra mim - rosnou o carcereiro, com desejo, enquanto se aproximava de Johanna, baixando sua arma.
-Não tem medo de ser subjugado por uma mulher que não esteja sem forças? - provocou Johanna.
-O dia em que uma mulher levar a melhor sobre mim… - começou o guarda, mas Johanna fora mais rápida.
Avançando com velocidade, ela retirou sua faca de sua manga, cravando no pescoço do homem, enquanto segurava sua boca com a outra mão, o impedindo de gritar enquanto seu sangue jorrava.
As outras garotas ficaram em choque ao ver aquilo, mas Johanna agradeceu aos céus por elas pelo menos não gritarem.
-Você o matou!
-De nada por isso. Era ele ou nós. Nosso amigo acreditava que somos frágeis, não acreditando que uma mulher poderia oferecer perigo. Só mostrei como ele estava errado.
Elas se colocaram em movimento novamente, mas enquanto corriam, Johanna conseguia sentir o medo das garotas no ar. Não as culpava, poucos conseguiam encarar os horrores do mundo e sairem ilesos. A menos é claro, que você fosse uma Constantine.
Chegando até o portão, Johanna parou, as instruindo em como chegar até a praia.
-Você não vai conosco?!
-Não. Tenho que terminar o que comecei - respondeu com um sorriso cruel - Se escondam na floresta até eu voltar.
-Nós….esperaremos você.
-Se não voltar em um dia, há um barco na praia. Podem tentar a sorte e partirem sem mim, não terão outra chance.
-Não sabemos manusear um barco...mas mesmo assim..obrigada. Sabemos que você vai conseguir.
Assim que a mulher se virou, Johanna a agarrou pelo braço, olhando com um olhar determinado para o rosto magro e surpreso da outra mulher.
-Eles vão atrás de vocês. Não vacilem em mata-los se tiver a chance. Eles são homens, acharão que sempre estão em vantagem sobre vocês. Aproveitem a arrogância deles em seu favor. Nunca deixem nenhum bastardo se impor em suas vidas. Nunca.
As mulheres acentiram, se virando em direção a floresta, enquanto Johanna ouvia o som do alarme ressoar.
Sua fuga havia sido descoberta. Pensou no que a mulher havia dito, que ela iria  conseguir e sorriu. Talvez não conseguisse, tudo aquilo era grande demais para ela. Mas como todo Constantine, ela sempre apostava quando tudo estava contra ela.
Tinha que tentar.
Era hora de encarar o demônio.

John Constantine: Legado MalditoOnde histórias criam vida. Descubra agora