Eu matei o meu próprio pai.
O mundo inteiro por um momento ficou escuro e vazio. Não podia dizer exatamente o porquê, mas a sensação foi de que eu estivesse afogando eternamente na minha própria sentença enquanto todas as serpentes de Ônix riam prazerosamente por fora da água. Foi um pensamento perturbador, mas real.
Eu matei o meu próprio pai, eu matei Adamas assim como matei toda a minha família em Asphardi. Relembrar isso me submeteu a entrar no labirinto das respostas que haviam solucionado as inúmeras dúvidas cruéis em minha cabeça, que até então eu preferiria que ficassem sem ser respondidas.
Eu sou um assassino tão indizível quanto pensei ser capaz. Me tornei insensível, um amante fiel do sangue alheio, o que eu mais abominava. Não sou mais o mesmo fazendeiro, Jegeren. Eu sou um traidor. Um conspirador Antordem, parte daquele Scott, um animal hábil qual a rainha domou. Todos os pensamentos consternados ainda eram novos e enchiam os meus olhos de prantos ácidos e traiçoeiros. Forcei para que as lágrimas não começassem a jorrar outra vez. Não queria que me vissem chorar mesmo que talvez pudesse me ajudar durante o julgamento. Alguém que é parte de toda a emboscada contra Adamas não deve chorar por arrependimento. Não deve possuir esse direito.
— Ethan... Ethan Haavik — O meu verdadeiro nome me obrigou a sair dos devaneios. Esse que fracassou em ser pronunciado por outra pessoa com um nojo inteligível. O eco da voz grossa subiu nas altas paredes taciturnas do ambiente vago e trouxe um arrepio tenebroso em minha espinha. — Disseram-me que este é o seu nome de criação, qual o fez se relutar contra um dos seus próprios fiéis diamânticos, o Comandante da Patrulha Diamântica Real da Ordem Lapidada Tokson Hantt, estou certo, Meu Deus?
Com a cabeça baixa, tentei identificar de quem poderia ser o timbre grosso da voz que parecia uma grande pedra despencando por um desfiladeiro. Ornac Dibuvo? O som soou familiar. Pelos estudos, podia facilmente deduzir que fosse o representante de Gerad Varcona V. Mas se fosse esse o caso, não fazia o menor sentido em minha cabeça, por que o velho Varcona não estaria apto a decretar esse Antordismo?
Mesmo que com os estudos deturpados e agora mais apurados, sabia que eram os deuses Potens quem faziam qualquer julgamento contra seus fiéis em seu reino. Em uma linha de cargos, possuía representantes como Gerad, a mão jurídica de Adamas – agora provavelmente a minha mão, já que agora eu possuía a aptidão para a aplicação da justiça, o dever em presidir os julgamentos e as cerimônias de libertação no Reino Lapidado – o responsável por tomar a decisão final em nome do seu deus sobre qualquer crime que envolva a Ordem Lapidada em todo o planeta. Tudo que estiver longe do nosso alcance ou quando simplesmente não estivermos dispostos a comparecer.
Normalmente os acusados se locomovem para o Reino Lapidado em prisões de caiotas para serem julgados. Mas havia algumas exceções que faziam com que o deus viajasse para tão longe como li em um texto durante meus estudos, "o deus deve fazer a presença em atividades de grande impacto contra o Diamantismo." Se houvesse alguma cerimônia ou um crime como este em algum dos continentes distantes da Ordem Lapidada, Adamas deveria se impor nos conselhos e nas conclaves para dar a resposta final ou se sentar no trono do Rei Representante. Isso raramente acontecia. Normalmente Adamas só precisava sair do seu Trono de Diamante quando precisava proclamar uma guerra ou um dos reis da ordem morria. Bom, nesse momento só havia a mim mesmo como deus, mas eu não poderia me julgar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝔉𝔦𝔩𝔥𝔬 𝔡𝔞 𝔖𝔞𝔩𝔳𝔞çã𝔬
FantasyFruto Sagrado está à beira de sua condenação após permitir que Opala tomasse o poder do Caadal e após assassinar o seu próprio pai, Adamas. O Deus Diamantense que sobreviveu há milhares de anos condenados e que em seu último minuto de vida, concebeu...