IX

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Senti a grama enregelada entre os meus dedos e analisei o caminho à minha frente que seguia se afundando na neve como uma cobra languida

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Senti a grama enregelada entre os meus dedos e analisei o caminho à minha frente que seguia se afundando na neve como uma cobra languida. Estava na cidadela do Reino Lapidado, a capital onde agora, devido ao Alto Inverno, poucos comerciantes escondidos em frangalhos para se esquentar, transitavam com suas mercadorias. Alguns carregavam carne de porco ainda pingando sangue em carroças, outros especiarias diversas. Observei os ferreiros batendo martelos contra espadas incandescentes presas à bigorna de metal, soltando faíscas alaranjadas pelo ar, além do restante da população miserável que era obrigada a trabalhar mesmo no frio e que observou a situação com o merecido espanto.

Olhei para atrás vendo Turantis arqueiros tentando se esconder entre as ameias grossas e depois apontando suas flechas grandes para o meu corpo estirado no chão. Eles as lançaram e consegui me proteger graças ao potencial de Zirconita que contornou o meu corpo com coriscos vivos e amarelentos, mas que logo se apagaram. O corpo estremeceu pelo frio e fraquejou com dor. Não possuía mais tanta força, mas tinha que sair dali, tinha que ir para algum lugar distante e seguro, longe de todos os Guardas Diamânticos. Sabia que não acabaria até que eu sumisse dos seus olhos ou morresse, e não havia visto tantos homens nas muralhas como agora, prontos para pegar apenas um prisioneiro.

Soltei um arquejo de desespero e apertei a mesma grama inocente contra os meus dedos da mão boa para me levantar, o gelo os queimou. Me afastei do castelo e vi que demorariam para atravessar as três muralhas. A neve caía taciturna sobre o meu esforço e o vento soprou mais forte me fazendo cerrar os dentes, mas segui num ritmo impetuoso como se nenhum clima pudesse me esfriar ou me esquentar. Agora eu era um maneta com Potencial Mágico à mercê, mas sem energia boa o suficiente para conjurar. Obriguei-me a continuar. Analisei as pessoas. Conseguia sentir os seus olhos como bichos famintos sob as minhas roupas e desejei cair morto, depois desejei voltar para o castelo para poder me abrigar do Alto Inverno cortante, e por último voltei a divagar as informações.

O véu pálido se jogava sobre o resto afora do reino, nas casas e nas ruas com delicadeza. Mesmo estando mais longe, não me permiti parar por um segundo e segui ganhando tempo à medida em que se preparavam, pensando no que fazer. Na minha frente só havia uma cidade doente margeando as planícies congeladas e mais um pouco para frente a muralha e o Santuário Diamântico que era perfeito para viajantes. Sendo assim, não poderia ir para lá. Haveria muitos guardas e Turantis fazendo escolta. Mas atrás da muralha se habituava o arvoredo de Alham Diamântico qual a Ordem Lapidada conhecia tão bem, mas não tão bem para um caçador que passou a sua vida em florestas perigosas caçando e se adaptando. Eram animais, lá eu conseguiria os despistar.

Escutei seus gritos e o som das suas armaduras que também ficaram visíveis entre as pessoas de longe. Pingos caíam do meu toco de mão e eu ainda o sentia latejar, levando o impacto por toda a extensão do meu braço. Não podia mais ignorá-lo já que marcava uma trilha fácil na neve para que pudessem me seguir caso fossem suficientemente espertos. Olhei para atrás. Meus olhos embaralharam, mas consegui os avistar de longe. Num piscar, percebi que outro grupo de vigias começavam a cruzar uma viela à frente e freei quase tropeçando no meu próprio pé. Atingi a sombra de uma casa onde havia um cercadinho para duas pequenas cabras de barrigas inchadas. Espontaneamente a invadi para me esconder. Precisava de qualquer coisa que fosse me ajudar a ganhar tempo, e também para fazer um curativo no pulso desprovido de mão.

𝔉𝔦𝔩𝔥𝔬 𝔡𝔞 𝔖𝔞𝔩𝔳𝔞çã𝔬Onde histórias criam vida. Descubra agora