Meu peito se inflou com raiva quando readquiri a consciência, envolto pela neve plúmbea que caiu sem perdão no meu novo e umbrífero lar. O vento que escapava das brechas de metal avermelhado, fizeram pequenos cortes em minhas bochechas que queimavam contra o frio. Soltando uma fumaça trêmula pelos lábios, a minha mente disparou para retomar as ideias que haviam ficado para atrás com a atitude impulsiva, imediatamente exigindo discutir comigo mesmo a decisão que tomei, qual fez despencar uma série de pensamentos obcecados.
Reuni forças sob um abafado gemido, suportando a garganta congelada, e tentei movimentar as minhas pernas na necessidade de diferenciar se ainda estou vivo ou prestes a morrer novamente, com o máximo de distância que as correntes anulas-magia me permitiam alcançar para me pôr de pé.
A minha visão se desfocou, os músculos da minha perna estremeceram, então espontaneamente tombei como um cão miserável. Agarrando a ferida de Kieran em minha barriga mais uma vez, amaldiçoando-o mentalmente a cada tentativa irregular de movimento que punia o meu corpo ainda estraçalhado e sujo de sangue empedrado, ou de pensamentos discrepantes. Me apeguei a qualquer alternativa desesperada e mal calculada de fuga, não conseguindo observar nada além da escuridão ou de um pequeno fio de luz que cruzava a abertura na parede, que pudesse me ajudar. Não tinha certeza sobre o que fazer, consequentemente decidi avaliar rapidamente a minha situação, arrastando as mãos para onde supostamente os elos estavam. Pernas presas. Mãos presas. Pescoço preso. Me senti uma arruinada rês pronta para o abate, dentro de alguma caiota imunda de fezes.
Aos poucos me vi afundado em uma decepção amarga. O desespero me sufocou, levantando lembranças das palavras de Opala e de Esmeralda sobre a Ordem Lapidada. Agora eu estava preso. Talvez para sempre condenado a morrer congelado no calabouço. Não havia mais alternativa merecedora de reconhecimento, mas ainda assim, me injungi a avaliar tudo como de forma produtiva. Apertei os olhos e comecei a reunir as informações, como sempre fiz na Fazenda Haavik, quando precisava tomar qualquer decisão importante. "Um rei deve avaliar suas alternativas, deve ter todas as ideias antes mesmo que qualquer outro". "Um deus concebe. Um rei governa. Um Deus-rei concebe e governa. Você é um Deus-rei, Ethan!", Rubi falava, cutucando as páginas do livro das Principais Transações da Ordem Lapidada, fazendo com que eu percebesse o enorme fardo que carrego nas costas.
"Um rei pode cometer erros. Um deus não! Avalie todas as alternativas que tiver em suas mãos". Bom, nesse momento, eu gostaria de pesar minhas alternativas. Isso se houvesse alternativas.
Kieran Gonovato, não precisava criar uma comparação aos demais patrulheiros – avaliei. Ele poderia facilmente ser considerado o mais leal. Então, deduzi um pouco mais frio que o natural e grosseiro demais que, apesar de ter tomado a decisão incerta, depois daquele momento, possuía mais do que um patrulheiro fiel. Eu possuía um escravo fiel. E era apenas essa a informação mais perspicaz que eu tinha.
Mas como se eu estivesse me questionando sobre toda a alegação, sentia como se eu não tivesse aprendido a lição em Ônix e finalmente aceitasse estar dentro dessa fétida fortaleza Olhyncana, encolhido na escuridão do refugo humano, tentando entender como que uma pessoa poderia sobreviver a tanto tempo no frio de Pango.
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𝔉𝔦𝔩𝔥𝔬 𝔡𝔞 𝔖𝔞𝔩𝔳𝔞çã𝔬
FantasyFruto Sagrado está à beira de sua condenação após permitir que Opala tomasse o poder do Caadal e após assassinar o seu próprio pai, Adamas. O Deus Diamantense que sobreviveu há milhares de anos condenados e que em seu último minuto de vida, concebeu...