Vozes estremeceram no abismo mais sinistro da minha mente. Elas me tiraram do véu do exício. Algumas sussurravam, outras clamavam estridentes, numerosas, numa sensação inconveniente e resignada de pavor. Não entendia o que havia acontecido, não conseguia realinhar os pensamentos que estavam em briga, os fiéis não me permitiam esse feito. A cabeça doía, embora eu soubesse que mais tarde fosse doer mais.
Lágrimas pressionaram as minhas pálpebras, então abri os olhos. Elas se libertaram, mas eu não sabia dizer o porquê. Se tratava de Adamas? Dos meus avós? Ou toda a minha existência? Não tentaria mais. Eram motivos demais para explicar. Quantas vezes eu havia morrido? Perdi as contas do tempo que se passou e o exílio dentro de mim assumiu o seu lugar mais uma vez. As poucas gotas continuaram perdurando devagar. Uma pendeu em meu queixo, fútil, discreta, e não acreditei em algo tão inabitual para uma alma quebrada.
Insisti mexer os meus braços, estes que ainda estavam repuxados pelos ferros de elos cada vez mais pesados nas paredes, que outrora haviam criado queimaduras em meus pulsos e já roçavam em minha carne rosada.
A garganta permanecia ressecada, ardendo pelo frio que já não era o suficiente para entorpecer uma porção de contusões e aberturas purulentas. No fim, a única coisa que restou foi sangue. Sangue do que aconteceu e do que aconteceria. Sangue em minha mente e em minhas mãos. Percebi que resisti. Resisti à morte, à dor. E não era a vontade ardente de abrir Tokson Hantt e fazê-lo comer as próprias bolas, ou de assumir o Trono Lapidado que me mantinha firme em meus objetivos, ou que me fazia aguentar cada segundo congelante da Bliguenita, que me obrigava a valorizar as cicatrizes novas, a febre. Ou suportar a fome e a sede.
Pensei em todas as batalhas que passei. Em todas as situações miseráveis qual estive e presenciei. Me sentia sortudo por ainda respirar e conseguir pensar mesmo que sufocado pelas vozes e a canção soturna da neve que surgia das aberturas rochosas e batia contra os meus cabelos. Uma sorte estúpida que poderia acabar logo com o Julgamento Real Lapidado, se tomassem qualquer decisão autodestrutiva.
Fugir não era uma opção, era uma prioridade. E se houvesse qualquer brecha faria de tudo para escorregar por ela mesmo que para isso eu precisasse matar todos os meus próprios fieis. Eu não posso fazer isso. Não sou como eles, sou? Vocês têm fé em mim. Tentei mentalmente me comunicar com as vozes, não sabia se podiam me escutar.
Não. Eu devo fazer o que é preciso.
Eles me atacaram primeiro, era a minha vez de ataca-los. Como a frase que ia e vinha na minha cabeça numa malícia cada vez mais vigilante e ansiosa. Você tem o direito de atacar quando é atacado, Soren afirmava quando ainda possuía forças para me ensinar a lutar com facas, adagas e espadas. Teus inimigos são a tua motivação, são eles que vão acender a tua chama. Me obriguei a reproduzir a oração nos lábios e fiquei impressionado com o que descobri. Havia muitas pessoas para acender essa chama. Afinal, todo mundo queria ser o meu inimigo.
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𝔉𝔦𝔩𝔥𝔬 𝔡𝔞 𝔖𝔞𝔩𝔳𝔞çã𝔬
FantasyFruto Sagrado está à beira de sua condenação após permitir que Opala tomasse o poder do Caadal e após assassinar o seu próprio pai, Adamas. O Deus Diamantense que sobreviveu há milhares de anos condenados e que em seu último minuto de vida, concebeu...