Naquele mesmo dia, encontrei-me com alguns patrulheiros enquanto cavalgava mais um pouco por Valyon. Havia perdido qualquer resquício de esperança de encontrar Lichonniana e me mantive com a dúvida se algum acordo foi feito para manter a paz e se por acaso as Cidades Livres já tivessem o assinado já que estavam ali por algum motivo. Mesmo me esforçando em procurar, o máximo que eu encontrava eram conversas paralelas de aldeões sobre safras perdidas, trabalhos para o seu lorde e claro, sobre o Fruto Sagrado ou o novo Demônio da Salvação que estava assustando até mesmo as reses e as ervas daninhas.
Havia quem comentasse sobre a morte de Adamas e a vinculasse com o monstro, que tivera possuído vosso Fruto Sagrado — essa foi a mentira mais inteligente que já escutei —, o que sempre me servia para lembrar de Opala e do Caadal, assim como o tempo que eu estava perdendo em Valyon, preso dentro de um território inimigo. Lembrar da vingança era satisfatório, contanto que ocorresse como eu imaginasse, pensei solenemente. Com certeza não traria meu pai de volta, mas eu poderia respirar melhor e viveria com a consciência mais limpa.
Me pegava, enquanto observava o pobre vilarejo onde deveriam estar trabalhando os Dongús, pensando sobre a lâmina sanguinária atravessando o me pai. O homem de fato era tão cruel quanto Opala. Cortava gargantas e construiu um reino com oprimidos, que mais tarde, deixaria a Ordem Lapidada tomar conta de tudo. Uma hora nós dois nos encontraríamos e uma batalha divina seria travada, como no conto em que li com Rubi. Era irônico pensar nas semelhanças dos acontecimentos. Esse sempre foi o meu e o seu destino, o Fruto Sagrado estava no Solo Sagrado dos Reis para isso, ser o oposto do deus Adamas.
Enquanto caminhava e a lua esticava seu brilho cor-de-marfim contra as árvores desnudas, onde algumas poucas nuvens cinzentas subiam e tentavam escondê-la, encontrei mais dois Patrulheiros Diamânticos conversando com um camponês maltrapilho, ele carregava um Baçal de madeira perfeitamente entalhada com desenhos rústicos junto a uma carroça sendo puxada por um boi ossudo em frente a um estabelecimento, que embora as paredes fossem de pedra, o teto era de palha e chão de terra batida. Silenciosamente cavalguei até chegar próximo o suficiente para ouvir, me estagnando sob o dossel de uma árvore cercada por dentes de gelo que cresciam dos ramos castanhos, onde alguns Quo'is eram expostos e exalavam o terror do inverno e um último comerciante em meio à escuridão se retirava, exaurido.
Observei-os com o costumeiro capuz posto sobre a cabeça e esperei pelo que estivessem conversando.
— Tem certeza de que você o viu? — O patrulheiro que estava sem o seu elmo questionou, sutilmente.
— Tenho sim, Sir — respondeu, temoroso. Que não seja eu, pensei, mordendo o lábio inferior. — Só vi uma pessoa lutando assim em toda a minha vida. Se é que posso chamar de pessoa! Ele usa roupas negras, há uma capa grande e um capuz que esconde o seu rosto.
— Aquilo não é uma pessoa — o outro patrulheiro tal qual carregava uma lança, respondeu.
Um arrepio atravessou o meu corpo, de fato eu não era uma pessoa e estava diante de uma situação desafiadora. Alguém, além de Luianda, que havia me visto matando todos os Patrulheiros Diamânticos, estava ali, ao meu lado, pronto para ser destrinchado como a carcaça de um animal caso fosse necessário.
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𝔉𝔦𝔩𝔥𝔬 𝔡𝔞 𝔖𝔞𝔩𝔳𝔞çã𝔬
FantasyFruto Sagrado está à beira de sua condenação após permitir que Opala tomasse o poder do Caadal e após assassinar o seu próprio pai, Adamas. O Deus Diamantense que sobreviveu há milhares de anos condenados e que em seu último minuto de vida, concebeu...